Aquarius

“Aquarius” conta a trajetória da vida de Clara desde a recuperação de seu câncer na mama, na mocidade, o contato com os filhos e consigo mesma e seu amadurecimento. O tempo passa e ela passa a viver sozinha no condomínio em que cresceu e criou seus filhos. O diretor Kléber Mendonça Filho propõe um olhar reflexivo sobre situações do cotidiano como desentendimentos entre mãe e filhos, solidão, apego às coisas materiais.

O filme já é diferente somente pelo seu tempo de duração, que talvez seja longo demais e perca a atenção do espectador depois de algum tempo. Em segundo, ele é estruturado em três partes, que traçam os momentos mais importantes da vida da protagonista Clara, interpretada por Sônia Braga, uma jornalista, viúva e última moradora do condomínio Aquarius, que fica em Boa Viagem, no Recife.

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Conta com uma fotografia impecável, cada imagem transmite uma mensagem profunda e complexa. A trilha sonora também é pensada com cuidado e é perfeitamente bem colocada nas cenas, traçando um tipo de conexão entre o humor da personagem e a música que ela coloca para ouvir.

Colocando a arte de forma delicada e tocante, o longa faz uma profunda reflexão acerca da memória, da lembrança. Faz o espectador se questionar sobre aquilo que conserva, que guarda, não só dentro de casa, mas dentro de si mesmo. Coisas e lugares nos quais criamos raízes, devido as pessoas e também por questões pessoais, por puro apego.

Há também uma questão política travada, a especulação imobiliária, que se baseia na compra de um imóvel visando que seu valor no mercado aumente depois de determinado tempo. No filme, isso se vê claramente no papel do engenheiro da construtora do edifício, Diego, vivenciado por Humberto Carrão que se utiliza de diversas artimanhas para desestabilizar Clara e tirá-la de seu apartamento aconchegante e tão repleto de memórias.

O filme fala bastante sobre os direitos da minoria e como muitas vezes esses direitos são tirados das pessoas sem qualquer compaixão. Fala também, de forma subjetiva, como a mídia pode ser determinante com relação ao assunto que quer passar e influenciar seu público, servindo como uma arma de proteção, que a própria protagonista se utiliza.

A obra foi exibida em Cannes e lá, o elenco se uniu em forma de protesto contra o impeachment da ex presidente Dilma Rousseff. Tal atitude gerou certa polêmica na imprensa. Nas coletivas, os atores expuseram questões sérias sobre a realidade política brasileira, sobre questões sociais que o país enfrenta.

É um filme que deixa a sensação de que ainda há muita mudança para ser feita no Brasil e que muito disso, precisa vir do povo, das mídias. Da luta que as pessoas precisam travar para ter seus direitos garantidos. É uma delicadeza sem igual, se equiparando a “Que horas ela volta? ”. Uma profundidade e encantamento que te deixarão atordoado.

 

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