Na sombra dos holofotes

foto de Getty Images

 

Nos últimos meses a vida em Hollywood anda agitada. Várias mulheres vítimas de assédio e violência decidiram contar a verdade sobre os bastidores de algumas produções de Los Angeles. Escândalos envolvendo grandes nomes como Harvey Weinstein, Kevin Spacey, James Franco e Gary Oldman vieram à tona e dominaram a mídia. Depois disso, campanhas inspiradoras começaram a aparecer nas redes sociais. Foi o caso da #MeToo, utilizada para relatar casos de assédio e do Movimento Time’s Up, que levou grande parte das celebridades convidadas ao Globo de Ouro a se vestirem de preto para protestar contra os casos de assédio de Hollywood. Ironicamente, James Franco subiu ao palco – depois de um inflamado discurso de Oprah Winfrey sobre mulheres – para receber seu prêmio de Melhor Ator em Comédia. E ao mesmo tempo que desfilava pela premiação com seu broche do Time’s Up, ele também era acusado por 5 mulheres de assediá-las.

Dois meses depois, algo parecido acontecia na 90ª edição do Oscar. Gary Oldman, acusado de agredir sua ex-mulher Donya Fiorentino na frente de seus filhos, recebeu o prêmio de Melhor Ator depois de ouvir o belíssimo discurso feminista de Frances McDormand. Infelizmente, esses casos não são os únicos. O universo da sétima arte é povoado por muitos homens que usam seu talento e renome para esconder ou atenuar suas atitudes grotescas. E não dá para negar: funciona mesmo.

Consideremos uma situação hipotética: se o dono de uma escola é acusado por quatro alunas de assédio e abuso sexual, e, o caso chegar a mídia, há grandes chances de ele perder o emprego. Mas se esse o homem em questão for o James Franco e a escola for a escola de atores Franco Studio4 o caso é tratado de forma diferente. Ao contrário do caso hipotético mencionado acima, ao invés de demissão ou prisão, ele tem direito a um dos mais célebres prêmios do cinema.

Por que permitimos que comportamentos tão absurdos sejam relevados e as vítimas desconsideradas quando isso parte de alguém poderoso? Desde quando o talento das pessoas virou um aval para agredir a integridade alheia?

Seria injusto omitir o fato de que Harvey Weinstein e Kevin Spacey foram devidamente punidos, e felizmente impedidos de usar seus trabalhos e influências como escudo. Entretanto, casos como esses ainda são minoria. Abrir espaço para grupos oprimidos como negros, transexuais e mulheres é incrível e revolucionário, mas de nada adianta fazer isso ao mesmo tempo em que um dos maiores prêmios cinematográficos é entregue para alguém suspeito de violência doméstica. Enquanto aplaudimos seu discurso, mulheres comuns são violentadas e estupradas no mundo inteiro, e o comportamento de seus abusadores é afirmado pelo silêncio de entidades gigantes e poderosas como a Academia.

 

 

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