Moda Comunica

    A ideia de que roupa é algo “fútil” ou “são apenas roupas” é um discurso muito propagado. No entanto, a necessidade de vestir-se vem desde os tempos primórdios: no princípio, sendo usado majoritariamente como forma de sobrevivência, proporcionando proteção contra o clima. Com o passar dos séculos, evoluiu para um meio de comunicação de identidade, status e valores da época. Na atualidade, o ato de se vestir tornou-se mais do que “colocar uma peça”: É uma grande forma de comunicar os posicionamentos, e demonstrar seu senso de estilo, além de ser uma demonstração artística. Assim, a moda passou a ser um meio de comunicação, sendo expressado nas mais diversas oportunidades, representando e trazendo significado diferentes estilos.

1. Representando tribos e gostos pessoais:
A construção de gostos pessoais não é um ato passivo. Aquilo que admiramos, consumimos e criamos uma ligação afetiva pode em sua grande parte moldar o seu comportamento e forma de se vestir. Assim, é muito comum ver que certo grupo de pessoas se vestem de forma X por terem um gosto similar. Um grande exemplo disso é a fusão homogênea entre o hip hop e a moda. Um dos grandes precursores de tal estilo foi o Tupac, com o uso massivo de bandanas, roupas largas, camisas de time e correntes de ouro ou prata. Isso trouxe uma identidade para consumidores de sua música, sendo até hoje um símbolo poderoso e um fator identitário muito forte na comunidade do hip-hop.

2.Representar culturas:
Em um mundo globalizado, muitas vezes cria-se uma narrativa de que roupas culturais são coisas do passado e não mais utilizadas. A verdade é que até hoje, diversas pessoas usam suas roupas para mostrar amor à sua pátria, carregando consigo suas raízes e mostrando ao mundo de onde vem e quem é; isso além do uso para momentos tradicionais de sua cultura, sendo casamentos ou festas tradicionais. A vestimenta pode ser considerada uma forma de mostrar apego e amor a si mesmo, aos seus, e representar com orgulho suas raízes. Exemplo: as qípáo ou cheongsam, é um vestido chinês criado na década de 1920, em Shanghai, para as mulheres das classes altas usarem. Seu design teve influências ocidentais como o jazz e a art decó.

Na Guiné-Bissau – país africano da África Ocidental – por exemplo, , existe um pano chamado “Panu Di Pinti”, que é bordado por mulheres da etnia Mandjaku com agulha e linha de algodão, criando desenhos no tecido que passam mensagens. Tais panos podem ser utilizados em casamentos e funerais, e na criação de roupas. Além disso, quando se dá um panu di pinti a alguém, você demonstra respeito, afeição e reconhece que ela é digna de honra. Em tempos passados, este pano era uma espécie de moeda comercial africana, o que destaca ainda mais sua relevância e importância histórica. Ou seja, os tecidos significam mais do que um pedaço de pano, mas sim valores, honra e história para todo um povo!

3. Caracterização de personagens:
No mundo cinematográfico, a moda tem um peso muito grande na contribuição da narrativa da história e comunicação dos atributos do personagem. O figurino é de extrema importância para expressar, entre muitas coisas, a personalidade daquele personagem, sendo um grande pioneiro dos famosos “aesthetic”, que depois acaba por ser reproduzido pelo público por se identificar e gostar do programa em questão ou personagem. A reprodução se torna uma forma de se manter conectado com o objeto de afeição. Grandes exemplos são Blair Waldorf e Raven Baxter.
Blair, uma das protagonistas de “Gossip Girl”, apresenta um estilo old money e de patricinha, com muitos blazers, saias e tiaras, mostra traços de sua realidade vivida no seriado: uma garota rica de Manhattan, com acessos a elite nova yorkina e com um jeito “nojento”, muitas vezes ligados as famosas “patricinhas”, tais características são visualizadas em seu estilo de roupa.

Outro exemplo é Raven Baxter. A protagonista de “As Visões de Raven” apresenta um estilo divertido, cheio de glamour e fashionista, mostrando sua personalidade expansiva e criativa por meio do que veste. Sendo muitos dos figurinos feitos pela própria, Raven marcou uma geração de meninas mostrando extrema personalidade, segurança de ser e um estilo extravagante, por meio de agasalhos, pompas, acessórios e penteados únicos. Uma verdadeira fashionista.

4. Apontar questões da sociedade.

Quando se fala em mundo fashion e moda, os famosos desfiles de moda são uma das primeiras coisas a se pensar. Por seu glamour, chama atenção de todo mundo, e o que muitas vezes é visto apenas como entretenimento, é, na verdade, um ditador do que é belo e o ser legal. Assim, os desfiles têm o poder de apontar questões sociais em busca de uma sociedade melhor. Um exemplo foi o desfile da Marc Jacobs em junho de 2023, que fez um desfile de três minutos na Biblioteca Pública de Nova York para criticar a aceleração da mídia atual ou como sempre estamos prontos para o próximo conteúdo, presos em vídeos de 15s de looping infinito. Outra marca que utilizou de seus desfiles para passar uma mensagem foi a Away To Mars, na Lisboa Fashion Week de 2019. A marca pegou roupas que seriam destinadas a lixões na África e produziu a coleção a partir de tal, criticando o consumo excessivo de roupas e o descarte irresponsável do mesmo.

5.Representar você!
Por fim, depois de todas as formas que a moda pode ser usada, a melhor é mostrar quem você é e o que você gosta, independente dos “aesthetic” ou “trends” do momento, se vestir de você sempre será o melhor. Um dos maiores exemplos é a Lady Diana, que mesmo sendo da Realeza Britânica – repleta de códigos de vestimenta – conseguiu sempre mostrar quem era, o que a fez conectar-se com o público, fazendo-a ser a Princesa do Povo. Além disso, o personal style da Diana fez com que ela lançasse algumas tendências, como o bike short e mom jeans, que apontavam para seu estilo casual e fino. Um dos momentos mais impactantes com suas vestimentas foi quando ela apareceu com o “revenge dress”- vestido da vingança, que usou após seu ex-marido Príncipe Charles assumir que a traiu durante seu relacionamento, assim, Diana comunicou o seu empoderamento e a mulher forte e cheia de si que era, independente das ações de seu companheiro durante sua relação. Lady Diana usou da moda para construir a importância de ser você mesma e o quanto sua essência faz de você sua melhor versão. Em uma época de globalização, essa atitude se faz ainda mais necessária, pois a verdadeira moda sempre será se vestir de você.

Seguindo a mesma linha, uma das personalidades mais importantes do mundo e conhecida como uma verdadeira IT GIRL, temos Rihanna, conhecida por seu gosto ousado,sexy e impecável. Cheio de extravagância, all jeans, lenços, streetwear, bonés, diferentes penteados, mistura de texturas,cores vibrantes e estampas… Rihanna se destaca em um mundo de iguais, ao se vestir, ela traz todos os holofotes para si, pelo simples fato de ser BadgirlRiri, a personalidade que ela expressa em seu streetstyle, fez com que a mesma se tornasse um ícone geracional e criasse conexão com seu público. Riri, por seu estilo único, criou diversas tendências que até hoje são consideradas moda, uma delas sendo o boné e o lenço. Todas as suas aparições a fizeram ser a grande e almejada: BadgirlRiri

Rihanna | Imagens pinterest

No fim de tudo, em meio uma geração que tem uma nova tendência de moda a cada semana, levando cada dia mais a criação e padronização de uma “única” moda, o que pode muitas vezes sufocar e aprisionar a população. A verdade é que o ato de vestir para mostrar, o que você acredita, carrega consigo e ama, é a verdadeira materialização do que é a moda.