O poeta está vivo

Foto: Divulgação

Dia 17 de outubro foi Dia Nacional da Música Popular Brasileira e Cazuza foi o nome que marcou uma geração em período de redemocratização

Na variação nordestina, quer dizer moleque. Cazuza, batizado como Agenor de Miranda Araújo Neto, o cantor, compositor, poeta e letrista carioca, que ficou conhecido como rebelde inconsequente, teve suas emoções dramatizadas no filme Cazuza – O Tempo Não Pára, de 2004. Nascido em 1958, viu os militares tomarem o poder ainda criança, fato que dominou suas produções musicais críticas à realidade brasileira. 17 de outubro foi Dia Nacional da Música Popular Brasileira, e segundo Fernando Pereira, 58, professor de Cultura Brasileira do Mackenzie, Cazuza foi um dos melhores letristas da MPB.

Filho de João Araújo, fundador e presidente da gravadora Som Livre, e Lucinha Araújo, que cantava e gravou três discos, cresceu em meio aos grandes nomes da MPB, como Caetano Veloso, Elis Regina, Gal Costa e Gilberto Gil. Aos 18 anos, passou no vestibular para estudar Comunicação, que largou depois de três semanas, já que prestou a prova porque seu pai lhe prometera um carro. No Baixo Leblon deu início a sua vida de festas e bebidas. Aos 21, fez um curso de fotografia nos Estados Unidos. E no ano seguinte, em 1980, volta ao Brasil e canta pela primeira vez em público, depois de entrar em um grupo teatral carioca.

Nasce o Barão Vermelho, na garagem de Maurício Barros, com Frejat na guitarra, Dé Palmeira no baixo e Guto Goffi na bateria. Em 1982, lançam seu primeiro álbum. “Os anos 80 foram a época mais fértil do rock brasileiro”, comenta Fernando. A banda ganha espaço na mídia nacional, com cantores reconhecidos acrescentando Barão no repertório, e pela trilha sonora do filme “Bete Balanço”. O grupo se apresenta no Rock in Rio, no dia da eleição de Tancredo Neves e assim, o fim da ditadura militar.

“O Cazuza surgiu no período da redemocratização do país.” Segundo Fernando, o cantor tinha uma visão crítica do que se passava no Brasil, e fez parte de uma geração em que a juventude voltou a prestar atenção no que estava acontecendo aqui. Para ele, Cazuza fez os jovens perceberem que ainda tinha muito pelo que lutar, apesar do fim da Ditadura. “Ele foi a voz da juventude, na minha concepção”, afirma. Em 1985, pela liberdade de compor e de se expressar, Cazuza deixa o Barão, e dá início a sua carreira solo.

Ele lançou “Exagerado”, que se tornou a marca do cantor e gravou “Só se for a dois” no ano seguinte. Em 1987, foi diagnosticado com HIV, e levado aos Estados Unidos, onde iniciou o tratamento a base de AZT. A AIDS se manifesta, e Cazuza parece cada vez mais debilitado. Em 1988, lançou “Ideologia”, que se tornou um de seus maiores sucessos. Em 1989, gravou seu último disco, “Burguesia”, numa cadeira de rodas e com a voz enfraquecida.

Naquele ano, Cazuza declarou ser soropositivo. A epidemia assustou o mundo, em um período em que não se tinha qualquer informação da doença. ”Ele foi um dos primeiros a assumir a AIDS publicamente, e foi fundamental a sua participação na conscientização das pessoas”, diz Fernando. No dia 7 de julho de 1990, Cazuza morreu aos 32 anos. Em apenas oito anos de carreira, ele produziu 126 canções. Seus pais fundaram a Sociedade Viva Cazuza, que até hoje tem como intenção dar assistência e qualidade de vida àqueles afetados direta ou indiretamente pelo HIV, e promover a prevenção da doença.

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