Tribunal dos Justos

Por Aycha Sleiman

O balanço do ônibus pesava minhas pálpebras. Só não dormi porque uma risada desagradável ao lado chamou minha atenção. Curiosa como sou, estiquei o pescoço sobre o ombro da mulher que ria, e li na revista que estava em suas mãos a seguinte manchete: “Famosa atriz casada é flagrada aos beijos com moreno misterioso!”. Diante de tal notícia importante, me virei e peguei no sono.

O sonho que tive foi curioso. Nele, me vi diante de uma escada celestial, toda coberta por nuvens, que levava a um patamar superior. Perdido em meio ao céu azul, um grande portão dourado. Abri-o com cuidado, e posso jurar que ouvi anjos cantando, mas o que vi lá dentro não foi nada divino.

Uma grande sala de tribunal apareceu diante de mim. No lugar de juízes, advogados e testemunhas, estavam seres monstruosos, com cabeça de hiena e corpo de gente. Curiosamente, traziam um halo de luz ao redor das cabeças. No centro da cena, a tal atriz da notícia. Estava nua e assustada, e gaguejava quando olhava para seus carrascos. De repente, o som do martelo soou, e todas as hienas híbridas saltaram sobre a mulher e começaram a arrancar pedaços, enquanto os gritos da mulheres ecoavam e as risadinhas de hiena aumentavam, aumentavam, aumentavam…

Acordei assustada, e senti um arrepio correr meu corpo ao perceber que a risada do sonho continuava. Olhei para o lado e vi que a mulher que ria antes de eu cair no sono continuava lá, e agora mostrava a notícia para uma moça que havia sentado a seu lado. A risada de meu sonho era delas.

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