Entre vitórias e derrotas, o brilho da esperança
Era o começo de junho quando eu já via resquícios de verde e amarelo pelas ruas de SP. Uma contagem regressiva já era vista em quase todos os programas de televisão. As redes sociais faziam uma festa para uma possível sexta estrela no nosso uniforme. Era Copa. Copa do mundo.
Para uma torcedora, que não acompanha muito bem os campeonatos futebolísticos durante o ano, a Copa, para mim, seria o evento para mostrar como eu me emociono em uma partida de futebol. Mas, a grande atração do ano já não me enchia os olhos como os quatro anos anteriores. Talvez traumatizada pelos sete gols que sofri, literalmente, assistindo aquele jogo contra a Alemanha. Decidi, então, não me empolgar com a Copa de 2018. Falhei.
O primeiro Jogo do Brasil chegaria em dois dias. Pedi minha tia para caçar uma blusa da seleção para eu torcer. Me deparei na Paulista em busca de vuvuzela para encher a casa de barulho na hora do jogo. Brenda, Viri e eu nos encontrávamos parando em todos os pontos que tinha a cor verde e amarela. Me vi sentada no sofá da casa da vó da Brenda. O rosto continha as cores do Brasil. A garganta doía ao gritar para William fazer alguma coisa. Doía em uma tentativa de brigar com o Juiz. Doía, enfim, com um gol de Coutinho. A Copa voltava a viver em mim, ainda com um gol da Suíça finalizando a partida com um empate.
O futebol me fez acordar cedo para o segundo jogo. Foi com um som de vuvuzela me avisando que a partida começaria que despertei. Na sala, na casa da Brenda, venci o sono olhando para a televisão, quieta. Meus olhos seguiam a bola que ia de pé em pé. O gol não saia. A garganta preferiu não sofrer. Meu coração, talvez, tenha sofrido mais. Mas Neymar talvez tenha sofrido um pênalti. O VAR foi pedido. Pênalti não dado. Tia Quezia e eu despertamos de fato. Agora eu gritava. Tia Quezia gritava junto. Pedíamos pelo pênalti. Não nos ouviram, claro. O jogo seguiu. Eu já estava de pé. Sentada. Pernas cruzadas. Balançando. Suando. Gritando. Coutinho, mais uma vez, enchia a rede com a Telstar 18 naquela manhã. Aquilo era Brasil. O segundo gol, vindo de Neymar, mostrou ainda mais o meu espírito torcedor. No final, com um placar totalmente satisfatório, pude contemplar a esperança do hexa.
A ansiedade para os próximos jogos já me consumia. Agitei a minha vó para o terceiro jogo, contra a Sérvia. Almoçamos rapidamente e logo depois, nos vimos nos abraçando e assoprando um projeto de corneta que estava na nossa frente. Era gol. Do Brasil. E logo depois, mais um gol. Ganhamos, mais uma vez, com um placar positivo. As quartas estavam se aproximando. Só faltava o México.
Peguei o ônibus para o RJ na sexta feira, 29. Desembarquei na rodoviária de Campo Grande já pensando no que a Terça me proporcionaria. O grupo do WhatsApp da família já se agitava. Quem levaria o macarrão. O molho branco. Queijo. Bacon. Presunto. Era dia de almoço em frente à televisão. Pela primeira vez, nessa Copa, torceria com eles. Cheguei à casa da Tia Eliane. A televisão já estava na varanda. O almoço estava ficando pronto. O jogo iria começar. “Busca responsabilidade” era o bordão do meu primo João Ricardo. Críticas ficavam com o meu primo João Gustavo, que mais parecia querer tomar o lugar do Tite. Um possível infarto era com a minha mãe, que sem dúvidas, era a melhor torcedora já vista. E a gritaria era com todo mundo. Cadeiras voando. Refrigerante inundando a camisa verde da minha mãe. A voz querendo sair e não conseguindo, depois de tanto grito. Abraços em qualquer um que se via pela frente. O gol do camisa dez da seleção tinha saído. E enquanto cantávamos as músicas de torcida, o segundo gol veio. Era isso. Brasil, mais uma vez, fechando uma partida com 2X0. Estávamos nas quartas. O hexa era realidade. Ou não.
Na terça, já discutíamos entre hambúrguer e churrasco para a sexta-feira. Mais gente da família compareceria. Já agitávamos os próximos jogos depois das quartas. O dia 15 já estaria reservado para assistirmos a final juntos. Mas, talvez, estaríamos nos precipitando.
A casa da tia Eliane continuava sendo cenário para a próxima partida. Por um dia, dei lugar as superstições que não acredito e cismei de colocar a mesma roupa que usei no jogo anterior para dar sorte. Acreditava que a mesma roupa traria mais dois gols para nós. E trouxe, mas não para nós, para a Bélgica. Sim. Sentada, na varanda, com os mesmo personagens do jogo anterior, me vi baixando a cabeça para lamentar o gol contra de Fernandinho. Mas era só um gol. A gente ia virar. Olhei para o meu primo Daniel, que chorava, e gritei que o Hexa era nosso. Mais um gol da Bélgica saiu. Agora, não sabia mais se era nosso. O segundo tempo veio como uma enxurrada de esperança para mim. A varanda já não estava mais cheia. Minha tia Larissa tinha entrado para a sala. Juliani e Marcela, minhas primas, acreditavam na virada, mas dentro de casa. Minha mãe, a torcedora nata daquela Copa, se calou e apenas observou. No canto da varanda a encontrei com a cabeça baixa e as mãos unidas. Talvez estivesse pedindo por gol. Renato Augusto entrou e a rede, então, balançou para o Brasil. A varanda ecoava grito de “Eu acredito”. E, aos poucos, foi se calando de novo. Os 6 minutos de acréscimo já não me davam esperança. Deixei de acreditar que o Hexa viria. Acabou o jogo. Ele se foi.
O choro tomou conta de Kauã e Daniel, os pequenosquasegrandes apaixonados por futebol da família. Arthur, meu namorado, ficava estático na cadeira que estava sentado. Minha mãe lamentava sobre a derrota, do meu lado. E mais tarde, choraria deitada na cama já preparada para ir dormir. O meu sentimento eu não conseguia entender. Aplaudia. Lembrava das outras Copas vividas. Repetia para mim mesma e para quem estava ali que a vida continuaria. E continuou. Continua.
Olhei para a Televisão. Vi Glenda kozlowski discursando. Compreendi que sempre tem o amanhã em meio a um 7×1 ou 2×1. Comecei a Copa desacreditada. Vivi a Copa confiante. Terminei a Copa com esperança para 2022. E que venha, com Hexa ou sem ele. Que venha apenas para vivermos o que é o futebol. O que é a Copa do Mundo.
Muito bom, só de ler pude ver um filme em minha mente. Não acompanhei os primeiros jogos com você, mas vi fotos e suas palavras me levaram até os dias narrados. Os jogos em família foram momentos para nossas caixas de lembranças. Texto rico em detalhes, sem sr tornar cansativo. Vou utilizar com meus alunos do sexto ano. Valeu Pietra, Deus te sustenta e te capacita! Bjs