Sufocante loucura metroviária
Foto: Tom Parsons
Não foi a minha primeira vez. Mas cada vez é como se fosse a primeira. Esqueci de carregar meu cartão do metrô. Droga.
Respirei. Bem fundo. Nada de pânico. Andei até a máquina. Linda maquininha amarelinha, por favor aceite esta única nota puída, é todo o dinheiro que eu tenho. A máquina, tão imponente em sua modernosa tecnologia, sem misericórdia disse: só cartão. Implorei, chorei e a porcaria da máquina amarela permaneceu impassível, como grã-fina diante de um pedinte.
Olhei o relógio. Ufa, ainda tenho tempo de chegar na faculdade. O coração, no entanto, não estava muito afim de concordar com o cérebro. Começou a mostrar os primeiros sinais de rebeldia. Uma murmuração leve, um inquieto pulsar na lateral da cabeça. O cérebro soberano veio com uma reconciliação rápida: vamos tentar aquele caixa azul ali do lado.
Oh, meu Deus. Olha o tamanho daquela FILA! Caixa azul, caixa azul, como pode ter apenas um homem dentro de você? O relógio corria como um atleta olímpico. Não vai dar tempo, não vai dar tempo. O coração começou a gritar e iniciou uma revolução. Primeiro convenceu os olhos a liberar as comportas de suas águas secretas. Depois foi a vez da barriga de se comportar mal. Graças a Deus, me atenderam! Divino caixa azul!
O cérebro conseguiu impedir o impeachment e ordenou às pernas: corra! O coração exultou também, mas não gostou da ordem de se acalmar, ao invés disso se tornou psicopata. As pessoas no meu caminho se tornaram obstáculos, inimigos. Olha aquela mulher balançando o guarda-chuva! Se ela me acertar ela vai ver! Fique quieto! Você não pode gritar mais alto que os meus pensamentos. Saiam da minha frente! Não sabe que o lado esquerdo é para os loucos desesperados?
Se minhas divagações pudessem ser projetadas, eu ganharia um bilhete VIP para o xilindró. O coração descontrolado planejava assassinatos e torturas sem nome. O ódio me tirava o fôlego e a raiva era o gás lacrimogênio confundindo o cérebro. A ida à faculdade se tornou a caminhada frenética de uma psicopata.
Enfim! Cheguei! O deleite sem igual de sentir o ar condicionado de sua própria sala! O ar frio foi como um bálsamo para o cérebro atropelado pela revolução emocional e calmante para o coração revolucionário. Olhei para o relógio, e era apenas um relógio. Vi pessoas, e eram apenas pessoas. Me apalpei, lá estava a minha consciência! Era uma aluna civilizada novamente. Suspirei e avistei uma amiga.
A voz controlada, apenas ligeiramente ofegante. O cérebro como rei novamente. Até a próxima viagem.
– Você não sabe o que me aconteceu!
Amei!