O Brasil à direita
Com os resultados do primeiro turno das eleições desse domingo, o Brasil entra na lista de países onde a extrema direita ganhou força. O principal indicador desse movimento é o grande número de eleitores do candidato Jair Bolsonaro (PSL), que defende medidas como a reformulação do estatuto do armamento e a redução da maioridade penal. Mas há vários outros: ao analisar os governadores, deputados e senadores eleitos, percebe-se que os partidos de centro e de esquerda perderam suas cadeiras para partidos mais conservadores.
Em São Paulo, além da preferência por Dória (PSDB) – que declarou apoio ao candidato do PSL – Suplicy (PT) ficou de fora do senado, enquanto Major Olímpio, também do PSL, foi o candidato mais votado entre os paulistas. Já em terras fluminenses, os cariocas deram a Flávio Bolsonaro (PSL) o título de deputado federal mais votado da história, com mais de quatro milhões de votos.
Na câmara, apesar de o PT ter mais deputados federais eleitos que o PSL – enquanto um tem 56, o outro tem 52 – o Partido Social Liberal elegeu esse ano 51 deputados a mais do que em 2014, enquanto no mesmo período o Partido dos Trabalhadores perdeu 13 cadeiras. Além do PT, partidos de centro, centro-esquerda e esquerda, como MDB, PV, PSB, PSD e PC do B também perderam espaço. Nas eleições presidenciais o mesmo padrão se repete: o PT teve o menor número de votos desde 1994, quando conseguiram menos de 30% dos votos da população.
Analisando as eleições pela ótica estadual, Bolsonaro teria sido eleito no primeiro turno em 12 estados dos 15 onde foi o mais votado, enquanto Fernando Haddad obteve mais de 50% dos votos apenas em 4 estados entre os 9 em que foi o primeiro colocado.
Boris Fausto, historiador formado pela Universidade de São Paulo, afirmou em uma entrevista à revista Exame que o que levou o país a esse crescimento foi a corrosão do jogo democrático e a descrença nos candidatos e nos partidos. “Isso proporcionou o avanço da extrema-direita e o crescimento da ideia de um regime forte. Essa ideia vem sempre associada aos militares, porque, na cabeça de alguns, se alguém tiver de implantar um regime forte são eles, os militares. Tem também muita gente jovem que apoia o Bolsonaro e não conheceu a ditadura. E mais grave: gente que conheceu a ditadura e diz que é isso mesmo”. E sobre a onda da extrema direita ele diz: “O Bolsonaro vem nessa onda. Ele é, nitidamente, um candidato que hoje entrou no jogo, mas que também aceita regras fora do jogo democrático”.
Entretanto, se engana quem pensa que essa onda atinge apenas o território brasileiro. Além de Donald Trump nos Estados Unidos, na Europa, desde 2016 essa tendência já se manifesta. Vimos isso através de políticas como o Brexit na Inglaterra, o crescimento de Le Pen na França e a ascensão de um partido de extrema-direita (AfD) na Alemanha.