A luta feminina além das arquibancadas
Em 13 de maio de 2018, Bruna Dealtry, jornalista do Sportv, foi beijada por um torcedor durante uma transmissão ao vivo do jogo entre Vasco e Universidade do Chile, pela Libertadores. Foi a partir daí, que surgiu a ideia do Vascaínas Contra o Assédio. Criado em maio de 2018, o projeto surgiu de uma conversa entre torcedoras vascaínas que já estavam cansadas de todas as formas de desrespeito apenas por serem do sexo feminino.
Inicialmente com 10 integrantes, que já estavam cansadas de serem assediadas, elas começaram a divulgação e conseguiram realizar uma primeira reunião em junho desse ano. O que é chamado de “reunião geral” pelo grupo, contou com quase 50 pessoas logo de primeira.
Em um esporte que, no Brasil, chegou a ser proibido para mulheres pelo Conselho Nacional de Desportos, em 1964, a luta pelo respeito nas arquibancadas é cotidiana para as amantes do futebol. Juliana Pinho, 20, estudante de Ciências Sociais e participante desse projeto, que conversa e planeja uma forma de conscientização e proteção das meninas nas torcidas, conta um pouco mais sobre as ações realizadas pelo grupo.
“A nossa primeira ação foi a distribuição do que a gente chama de machistômetro”, relata a estudante. Ela explica que o machistômetro se trata de uma espécie de termômetro em forma de marca página e vem com alguns exemplos de assédio que podem acontecer dentro dos estádios, dos mais moderados aos mais graves.
Juliana conta que as redes sociais são os principais meios de divulgação para dar destaque a causa, “de forma mais orgânica, a gente recebe os relatos das mulheres que sofrem assédio nos estádios, a gente exemplifica os casos, focamos bastante nas redes sociais”.
Com mais ou menos 60 mulheres fixas no projeto, e outras 300 no Facebook, a iniciativa que se define como horizontal – para que todas as torcedoras do Vasco tenham acesso e participem – não está sozinha nessa luta. Movimentos como o Mulheres na Arquibancada e a participação dos próprios clubes como o São Paulo, que propôs medidas para a inclusão das mulheres, são ações totalmente necessárias para um ambiente que ainda é visto como masculino.
“A nossa ideia não é ser uma torcida. É ser um movimento”, diz a integrante do grupo. E quando questionada sobre uma mensagem que gostaria de passar, Juliana declara, “O machismo que combatemos nos estádios de futebol não é exclusivo de lá, é fruto de uma sociedade machista e temos que combatê-lo. Por isso, nós devemos caminhar sempre juntas para continuarmos resistindo. O estádio é um lugar nosso por direito e estaremos lá e em todos os outros lugares que quisermos”.