Rugby busca espaço no país do futebol
Mesmo embaixo de uma forte chuva e após a derrota por 35 x 3, coincidentemente, 35 mil brasileiros apaixonados por rugby fizeram uma festa histórica no Estádio do Morumbi, no último sábado, 10 de novembro. A presença de uma das maiores seleções do mundo, os All Blacks Maori, jogando com os anfitriões, Brasil Rugby, agitou a tarde esportiva do último final de semana e movimentou a mais nova estação de metrô da linha amarela paulista, a São Paulo – Morumbi.
O jogo, que começou com a tradicional apresentação da Haka, terminou a primeira etapa com dois trys neozelandeses, valendo sete cada, finalizado por 14 x 0. E logo no começo do segundo tempo, com a tipicidade do drama brasileiro, em um lance convertido por Joshua Reeves, neozelandês que joga pelo Brasil, a bola titubeou na trave e após toda a torcida levantar das cadeiras de ansiedade, o grito de alegria pôde ser dado. A seleção brasileira converteu seu primeiro ponto em cima dos All Blacks. 14 x 3.
Porém esse foi o único grito de pontuação da torcida tupi. A partir de então, o Brasil Rugby viu a maestria da seleção vinda do país tricampeão mundial no esporte, que foi convertendo ponto atrás de ponto e efetivando try atrás de try. Acabou o segundo período por 35 x 3 para os All Blacks. E embora a derrota, as duas equipes saíram de campo ovacionadas por um Morumbi parcialmente lotado.
O jogo e a presença do time da Oceania são de suma importância para a divulgação e difusão do esporte em território nacional. De acordo com Isabela Gomes, 21 anos, pilar pelo São José Rugby Clube, o esporte é bastante conhecido no país e tem tudo para cair no gosto do brasileiro: “Eu acredito que atualmente esteja sendo bastante praticado, muito mais conhecido e até mesmo mais divulgado comparado a anos atrás. E o esporte tem tudo para ganhar o coração de muita gente.”
E sobre a vinda do time neozelandês, a jogadora do time seven adulto joseense afirma: “Quem é fanático por rugby e sabe o quão grande os All Blacks são, se emociona ao pensar na possibilidade de assistir bem de pertinho. Pode impactar muito, o Brasil ganha visibilidade diante dos outros países, faz com que as pessoas se interessem mais e descubram que existem muitos clubes espalhados por aqui”. Já sobre o placar final, Isabela ironiza: “O resultado foi bom”.
A cada quatro anos, a cidade sede dos Jogos Olímpicos de Verão tem o poder de incluir dois esportes, que não são padrões nos jogos, determinados pelo Comitê Olímpico Internacional. Em 2016, a cidade do Rio de Janeiro optou pelo golfe e pelo rugby sevens, após anos de reuniões e votações pelo COI. Mesmo com mais de 15 mil jogadores registrados, cerca de 300 equipes e ganhando destaque dos times sul-americanos, a seleção tupi ainda sofre nos rankings mundiais.
O fato dos campeonatos e amistosos de rugby serem transmitidos apenas pela TV por assinatura, além do esporte ser concentrado na região sudeste e o país ter um investimento relativamente baixo, se comparado aos países do norte geopolítico, denunciam o baixo público e envolvimento nacional em tal modalidade esportiva.
Embora o esporte tenha um longo caminho no Brasil, o país já possui uma confederação específica para a modalidade. Além do número de praticantes, equipes e campeonatos terem crescido expressivamente desde as décadas de 80 e 90. “Eu sempre gostei de esportes, mas quando conheci o rugby, foi amor à primeira vista. Foi perceber que eu era capaz de me superar cada dia mais, de evoluir, de realmente sair da minha zona de conforto”, assim como Isabela Gomes, o esporte tenta sair do “conforto” e ocupar espaço no coração futebolístico do brasileiro, deixando o caráter estrangeiro de lado e tentando fazer parte da identidade nacional.
Fotos: André Casé