1968: ano que a agitação social tomou conta do cinema
Durante todo o mês de Novembro, estará em cartaz no CINUSP Paulo Emílio a mostra “1968: como está não vai ficar”. O espaço é uma sala de cinema gratuita aberta ao público e o conjunto de filmes irá retratar os diversos acontecimentos do conturbado ano de 1968.
Na época, diversos fatos movimentaram o mundo politicamente, principalmente relacionado às minorias que lutavam pela conquista dos seus direitos. As principais forças econômicas mundiais estavam sob transformação devido a essas lutas. Consequentemente, outros países eram influenciados por essas mudanças, entre eles o Brasil. As revoluções davam exemplo e força para outros insatisfeitos se rebelarem. Eram questões de cunho sexual, político, comportamental e ético.
Os Estados Unidos, que já eram uma das grandes potências mundiais, sofreram um enorme revés na Guerra do Vietnã. Os Vietcongs (guerrilheiros contra o governo sul-vietnamita apoiado pelos EUA) tomaram o controle de diversas cidades que estavam sob comando americano, a ponto de invadir uma embaixada dos Estados Unidos. A ação abalou a soberania que parecia ser total e abriu lacunas para outras revoluções mundo afora. O evento teve influência na forma da juventude lidar com os padrões que estavam sendo estabelecidos na sociedade norte-americana do período. Dessa forma, o movimento Hippie foi impulsionado como um ideal de transformação.
Ainda nos EUA, outro fato que gerou grandes revoltas foi a morte de Martin Luther King, pastor protestante que lutava pela igualdade dos direitos civis entre brancos e negros nos Estados Unidos. Ele era considerado um dos elos mais importantes na luta por mudanças sociais.
O Brasil também teve um período extremamente conturbado no ano de 1968. A ditadura vivia o auge da repressão e movimentos estudantis não eram permitidos. Foram diversos acontecimentos, entre eles o assassinato do estudante Edson Luís, que causou enorme revolta no país. O estudante morto fazia parte da FUEC (Frente Unida dos Estudantes do Calabouço) e, no dia em que morreu, houve uma tentativa da polícia de reprimir um protesto pelo preço da comida do Calabouço. A revolta da população era nítida e, em junho daquele ano, ocorreu um dos maiores movimentos da época da ditadura: a Passeata dos Cem Mil. O enorme número de pessoas que protestaram fez com que o governo militar tivesse seu poder questionado e a resposta foi a criação da AI-5, ato institucional que deu poder quase total ao governo militar.
Além desses, outros momentos marcaram o ano de 1968 na história brasileira. Entre eles, a Batalha da Maria Antônia, retratada em um dos filmes em cartaz na exposição, e a prisão de Caetano Veloso e Gilberto Gil, acusados de desrespeito à bandeira, que gerou o exílio dos artistas.
O mundo parecia viver uma revolução geral. Na França, o mês de Maio foi marcado por protestos que tiveram início com grupos estudantis. Os jovens estudantes iniciaram um movimento que se abrangeu outras camadas sociais, como os trabalhadores, que iniciaram greves com intenções políticas. Na antiga Tchecoslováquia, a Primavera de Praga foi imortalizada na história como um período cheio de protestos da população para acabar com o regime comunista, alinhado à URSS, que havia sido instalado.
O México deveria ter sido marcado positivamente no ano de 1968 pelas Olimpíadas de Verão, porém, dez dias antes do início da competição, houve uma manifestação em Tlatelolco, no centro da capital, Cidade do México. Nela, o exército abriu fogo contra a multidão e 300 mortes foram registradas. O número continua sem ser confirmado até hoje.
Um dos curadores da mostra “1968: Como está não fica”, Henrique Mandruzato, comenta a importância da mostra para o cenário político atual: “Há muita coincidência entre hoje e 50 anos atrás. Ambos são períodos de contestação política, apesar de serem pautas diferentes”. Henrique explica também que a intenção era: “Aproveitar o fim de 2018, que marcou os 50 anos de 1968”.
As salas dos Cinusp estão localizadas em dois lugares na capital paulista. O Cinusp Paulo Emílio é localizado na Rua do Anfiteatro, 181 – Colméia – Favo 04 e possui capacidade para 100 pessoas. A outra opção está mais próxima do centro de São Paulo, na rua Maria Antônia, no bairro da Vila Buarque.