Resenha: Amnésia
Dirigido e roteirizado por Christopher Nolan, Amnésia se trata do segundo filme da carreira do cineasta. Baseado no conto de seu irmão, Jhonatan Nolan, o longa possui 1 hora e 53 minutos de duração, é classificado para maiores de 16 anos e conta com o elenco de Guy Pearce, Carrie-Anne Moss e Joe Pantoliano nas personagens principais. Foi lançado em 2000 no Festival de Veneza, com o título original Memento – inspirado na expressão latina “Memento-Mori”, que significa “lembre-se de sua morte” – mas só chegou ao Brasil em 2001.
O filme conta a história de um ex-investigador de seguros que possui um grave problema de perda de memória recente e, mesmo assim, vai à procura do assassino que estuprou e matou sua esposa. O mesmo acidente foi o que o fez ficar em sua atual “condição”, como ele faz questão de chamar sua dificuldade em memorizar por mais de quinze minutos o que acaba de acontecer. Lenny, como era chamado por sua mulher, vê na disciplina e organização as únicas formas de alcançar seu objetivo. Para não correr o risco de ser manipulado, o protagonista tatua todas as principais pistas sobre o caso em seu corpo e se prende às suas únicas memórias: as que possuía até o momento em que tentou salvar sua esposa.
Mesmo tratando-se de um drama policial e com as viradas surpreendentes desse tipo de gênero, a obra de Nolan foge completamente do clichê. São retratados dois momentos da vida do protagonista paralelamente, durante as quase duas horas que deixam o telespectador totalmente preso e que demandam a total atenção devido à complexidade desse tipo de filme quebra-cabeça. As cenas curtas e os cortes rápidos juntamente com a história não linear exigem a participação ativa do público, que ao decorrer do filme, não por acaso, também sente como se houvesse perdido a memória, sendo difícil lembrar-se do começo da história ao chegar ao final.
Com todo potencial para deixar o telespectador confuso por conduzir duas narrativas simultaneamente, Nolan consegue, com maestria, deixar a história – que é contada de trás para frente e com cenas em preto e branco, para diferenciar em qual momento da narrativa se está – em uma espiral que traz seu clímax apenas no final do filme. A obra como um todo se encaixa em uma metáfora para a mentalidade do homem moderno. A capacidade de um indivíduo de cometer atos que vão contra seus princípios e depois usar de fugas psicológicas para diminuir ou justificar a dor e a culpa são o que tornam Leonard Shelley um espelho para a humanidade.
A ótima atuação de Guy Pearce junto ao talento de Christopher Nolan, que a partir desse longa-metragem mostrou as características marcantes continuadas em sua carreira, são o que fazem desse, um filme que para muitos precisa ser assistido mais de uma vez para a obtenção do entendimento total da trama. A tensão e a reviravolta daquilo que se acredita durante as quase duas horas de duração, justificam as duas indicações ao Oscar e garantem o título de uma das melhores complexidades produzidas pelo cineasta consagrado.