Refletir para evoluir
Indignação. Um sentimento necessário para mudanças necessárias. O rapper Emicida, num programa no canal GNT, proferiu a seguinte frase: “Se o brasil tivesse respeito pelo seus cidadãos, era para esse país estar pegando fogo hoje”. A expressão pegar fogo nem de longe me parece uma apologia ao vandalismo, mas sim ao que não aconteceu por tantas vezes.
O último caso, ao qual Emicida fez referência com tal frase, é uma agressão a qualquer um que acredite num futuro melhor para o Brasil. O número tem a força e a representatividade de uma expressão: 80 tiros. Como quem diz: “Aqui nesse país é oito ou oitenta”. Um carro que uma família usava para ir até um chá de bebê, em um domingo, foi alvo de 80 disparos, de acordo com a perícia. O motorista, pai e marido, Evaldo, não resistiu e faleceu. A revolta não para por aí, os autores dos tiros foram militares. Fala-se em “erro”, que teriam confundido o carro com o de bandidos.
Um só caso escancara tantos problemas e tantas dores de um povo. Todos os dias alguém sai para trabalhar e não consegue voltar para casa, simplesmente por estar no lugar errado, na hora errada. Vivemos anestesiados com pequenas coisas do dia a dia, mas a cada morte fica mais difícil não olhar para a vida de forma diferente, mais especificamente com medo. Desde sempre aprendemos que esse sentimento de pavor é importante para termos controle sobre as nossas ações, mas não como os brasileiros estão vivendo. Estamos perdendo o direito de ir e vir e nem todos parecem estar indignados com isso.
Infelizmente, as condições em que tantas famílias são obrigadas a “sobreviver” no país geram mais do que inconformismo. E, a partir daí, surgem sentimentos negativos como ódio, raiva e o desprezo pela vida do próprio ser humano. O ciclo, assim, parece nunca ter fim e como diria o cantor Nando Reis, na música “Relicário”: “O mundo está ao contrário e ninguém reparou”. A inversão dos sentidos torna a convivência ainda mais difícil e os conflitos de interesse na alta sociedade geram inversão de valores, ou seja, a vida de quem está indefeso é cada vez mais ameaçada.
Só nos resta seguir acreditando e lutando, afinal, em mais uma referência a Nando Reis, “não é possível que o revólver venha a explodir”. Apesar de nadarmos contra a corrente, esse é o único caminho possível para mudar a realidade de tantos que sofrem no Brasil. Imensa dor compartilhada pelo mesmo povo causa uma reflexão também necessária. Refletir sobre o que fazemos e como isso influencia na vida de quem está ao nosso redor. E está aí a importância em não deixar o passado completamente para trás. Precisamos dele para aprender e seguir em frente da melhor forma possível.