Feridas causadas pelo ódio
Intolerância religiosa cresce e aumenta os casos de extremismo
Durante as celebrações no domingo de Páscoa, mais de 250 pessoas foram mortas em um atentado contra as Igrejas Católicas,no Sri Lanka, o que reacendeu o debate sobre a intolerância religiosa. Nos últimos anos, a perseguição religiosa se tornou assunto recorrente pelo mundo, por causa das tentativas de imposição de alguma religião sobre outra.
De acordo com Sindy Oliveira Nobre Santiago, presidente da Comissão de Direito e Liberdade religiosa da 33ª OAB/SP – responsável por resguardar o direito do cidadão de manifestar suas crenças livremente -, a intolerância se manifesta em vários aspectos e níveis. “Ela vai desde a violência externada, como fazer protestos em algum local de culto ou comentários sarcásticos e depreciativos ridicularizando alguma crença, até a forma velada em que os religiosos são tratados como ignorantes”, afirma.
Além disso, a censura às práticas de determinadas religiões não é novidade. Em 2011, a França foi o primeiro país da Europa a sancionar uma lei que proíbe o uso do véu islâmico, uma obrigação religiosa para as mulheres muçulmanas. Posteriormente, leis semelhantes foram adotadas na China e em países da África. Essa proibição do uso do véu em público motivou protestos na Dinamarca no ano passado. A legislação do país prevê que a prática deve ser punida com multa de mil krones (aproximadamente de R$ 600), e pode ser multiplicada de acordo com casos reincidentes.
No dia 21 de janeiro, é comemorado, no Brasil, o dia do Combate à Intolerância Religiosa. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos, a cada 15 horas, uma denúncia de intolerância é registrada pelo Disque 100, telefone do governo que funciona 24 horas para receber denúncias de violações aos direitos humanos.
Sindy explica que os ataques terroristas se tornaram um assunto bastante comentado a partir do atentado contra o World Trade Center, no ano de 2001, em Nova York. Segundo a especialista, os ataques tiveram uma redução momentânea mas continuam a deixar muitas vítimas. “Como no recente ataque em Nova Zelândia, no qual um hegemonista matou 49 pessoas em duas mesquitas e o Estado Islâmico, que reivindicou a autoria ao atentado que em resposta deixou mais de 300 pessoas mortas no Sri Lanka”, explica a advogada.
Os extremismos e o fundamentalismo religioso, em que a interpretação da fé passa a ser pessoal e imutável, provocam um ciclo que parte da discriminação e opressão religiosa, contra outras crenças, e chega até conflitos armados. De acordo com dados da Folha, as ocorrências de intolerância religiosa cresceram 171% nos meses eleitorais em relação ao total dos três meses anteriores.
Sindy Nobre ainda afirma: “Caso não haja empatia, conscientização e tolerância, não apenas como algo exclusivo da religião, mas, sim, como parte da sociedade, a fim de se tornar parte de um respeito universal compreendido por todas as culturas, os ataques tendem a aumentar”.