Você conhece a história do Cine Belas Artes?
Acompanhe a linha do tempo de um dos mais importantes cinemas da cidade
Em 1956, Francisco Serrador, um espanhol apaixonado pela arte, fundou o Cine Trianon. Em sua empresa, Companhia Cinematográfica, Francisco começou como um cinematógrafo ambulante, e depois da estabilização dessa indústria, passou a distribuir, produzir e fundar cinemas como Trianon e o Bijou em SP.
Ao longo dos anos, Serrador monopolizou as exibições de filmes na cidade e fundou mais cinemas dentro da Região Sudeste do país. Apesar disso, o prédio era propriedade de Phelippe Azer Maluf.
Em 1967, o Cine Trianon foi reinaugurado como “Belas Artes”. Porém, dessa vez, após um acordo da Companhia Serrador com o presidente da Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC), a programação do cinema se encontrava administrativa e artisticamente nas mãos da SAC.
No primeiro andar do Belas Artes funcionava a secretaria da Sociedade, além de uma galeria com exposições fixas. Em 1970, o cinema se dividiu em duas salas: Villa Lobos e Cândido Portinari. Em ’75, outra sala, a Mário de Andrade, foi inaugurada no subsolo do cinema.
Em 1982, um incêndio atingiu o local em algumas salas. Poltronas, carpetes, cortinas e até os projetores foram destruídos. Apesar de irregularidades, a prefeitura considerou o ocorrido como incêndio criminoso por conta do arrombamento de portas e cofres.
Em 1983, com o nome de “Gaumont Belas Artes”, o cinema foi reaberto pelas mãos da distribuidora francesa, Gaumont do Brasil Cinematográfica. Essa empresa havia comprado o cinema de Serrador e inaugurado o conceito de “multiplex”, várias telas em um único complexo, mantendo a tradição de “cinema de arte” que vinha desde o começo.
Sob comando da Gaumont o espaço chegou a seis salas, batizadas em homenagem a artistas brasileiros: Carmen Miranda, Mário de Andrade, Oscar Niemeyer, Aleijadinho, Portinari e Villa-Lobos. Porém, em agosto do mesmo ano, ficou interditado até o mês de outubro, e algumas mudanças foram solicitadas, como a retirada de poltronas e melhorias na circulação interna.
Em 1987, o Circuito Alvorada passou a ter controle do cinema e alterou a programação para filmes comerciais. Essa mudança desagradou o público fiel e levou ao abandono e a deterioração do espaço, que entrou em crise nos anos 1990.
Em 2001, a exibidora de filmes carioca, Estação Botafogo, entrou no comando do cinema, o rebatizou como “Estação Belas Artes” e retornou à programação característica do local. No entanto, logo em 2002, o grupo Estação concentrou-se no Rio de Janeiro e saiu do do mercado paulista. Com o antigo sonho de administrar o local, André Strum, cineasta e distribuidor, buscou parceria com outras empresas para substituir a Estação.
No final de 2002, o movimento “Viva o Belas Artes” surgiu buscando manter abertas as portas do cinema e adiar seu fechamento por parte da empresa carioca. Faixas foram penduradas e nomes como o arquiteto Roberto Loeb e a jornalista Sonia Morgenstern Russo faziam parte do movimento.
Alguns meses depois, em março de 2003, André Strum, proprietário da Pandora Filmes, junto com Fernando Meirelles, cineasta, Andréa Barata Ribeiro, produtora e publicitária, e Paulo Morelli, também cineasta, tornaram-se sócios e passaram a administrar o Belas Artes, fechando em 2003 uma parceria com o banco HSBC.
Essa parceria se concretizou em 2004 com a reabertura do local pelo nome de “HSBC Belas Artes”. Neste ano, o clássico “noitão” surgiu exibindo filmes na noite da sexta até o início da manhã de sábado. Além disso, 2004 contou com duas reformas que trouxeram um pouco da identidade do Belas Artes, como a grande janela no segundo andar e a ampliação das salas de exibição.
Em março de 2010, o banco HSBC retirou seu patrocínio e André Sturm iniciou um movimento de mobilização para manter o complexo e encontrar novos parceiros. A família Maluf, proprietária do prédio, também entrou na briga pedindo um maior valor do aluguel.
Em 2011, ainda na luta por apadrinhamento, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de SP e o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico do Estado de SP abriram um processo de tombamento do prédio e a análise da arquitetura e de sua relevância para o contexto paulistano começou.
Sem encontrar patrocínio, foi anunciado o fechamento das portas e inúmeras manifestações populares começaram na cidade de SP, em paralelo a protestos de funcionários do cinema e de cineastas críticos. As manifestações não adiantaram e em março de 2011 o cinema foi fechado.
André Sturm até procurou outros imóveis para abrir outro Belas Artes, mas desistiu. O prédio foi desmontado e teve seus pertences doados para a Escola de Comunicação da USP e as poltronas vendidas.
O processo de tombamento foi inicialmente negado, devido às mudanças na arquitetura do local com o passar dos anos. Porém, no final do ano de 2011, a Justiça exigiu que o processo fosse revisto impedindo que o dono alugasse o espaço. Em abril de 2012, o vereador Eliseu Gabriel criou a “CPI Cine Belas Artes” para discutir e apurar a regularidade dos processos de tombamento e a função social do prédio do cinema. Em outubro do mesmo ano, a fachada e sua entrada (um recuo de 4 metros) foram tombadas pelo Condephaat, prometendo “garantir o registro permanente da memória”.
Em 2014, a volta do cinema foi anunciada com a parceria entre a Caixa Econômica Federal e a Prefeitura de SP e foi oficialmente nomeado “Cine CAIXA Belas Artes”. Com isso, a prefeitura passou a contribuir com programas de incentivo a ida ao cinema como o “Escola Vai ao Cinema”. Voltado a estudantes de escolas públicas e privadas, com sessões matinais especiais, o programa estimulava e ampliava o acesso ao cinema.
O cinema foi modernizado e reformado pelo arquiteto Roberto Loeb e o espaço passou a promover meia-entrada para trabalhadores e privilegiar o cinema nacional.
Em fevereiro de 2019, o contrato com a Caixa terminou e o Belas Artes estava a procura de um novo patrocínio. Novamente, cinéfilos e produtores compareceram com balões em formato de coração, para defender a importância do Belas Artes, tanto como patrimônio físico, como afetivo.
E em maio do mesmo ano, André e sua sócia, Paula, anunciaram a nova parceria com a Cerveja Petra e o cinema passou a chamar-se “Petra Belas Artes”. O espaço agora carrega a cor laranja característica da marca e Eliana Cassandre, gerente de propaganda da Petra Origem disse: “Firmamos um compromisso com a cultura, e vamos patrocinar por cinco anos um dos mais importantes cinemas de São Paulo”.