Resenha: Temporada

Filme mineiro retrata realidade das periferias

Mudança, algo que toda pessoa enfrenta durante sua vida, umas, mais vezes que outras, outras, mais difíceis que algumas, e algumas como a de Juliana, protagonista do filme “Temporada”. No longa-metragem de André Novais Oliveira, a personagem principal deixa tudo para trás ao se mudar para a periferia de Contagem, município da Região Metropolitana de Minas Gerais, em busca de um novo trabalho.

Na trama, Juliana, para progredir em sua vida, larga sua casa e seu marido para trabalhar no combate às endemias do município de Contagem. Lá, ela lida com situações diferentes das que tinha vivido, passa a conviver com novas pessoas e aprende a lidar com vários tipos de personalidades, por conta de seu trabalho, que demanda a vistoria para prevenção da dengue e outras endemias na casa dos moradores. Fato que é retratado de forma fiel quanto à realidade.

Os cenários e expressões são o mais próximo possível da vida dessa sociedade. Para o desenvolvimento do filme, foi dada grande atenção a esses detalhes. A produção foi responsável e se comprometeu com a história e com a representatividade que buscava. Um trabalho como o dos personagens foi feito, no caso, a passagem de casa em casa para reunir inspirações e referências para o desenvolvimento do longa. Com isso, é possível perceber uma ótima relação entre o real e o fictício. Por se tratar de um filme, é claro que algumas partes são dramáticas, mas a reprodução é fidedigna, o que faz com que espectador se mantenha intrigado com a história de Juliana, e até, impressionado com a casualidade das cenas.

Em suas quase duas horas de duração, o filme, lançado oficialmente em 17 de janeiro de 2019, foi capaz de conquistar a crítica em sua apresentação em 2018. Na 51º edição Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, a obra foi a grande vencedora da vez e faturou os prêmios de melhor direção de arte, melhor fotografia, melhor ator coadjuvante, melhor atriz e melhor longa metragem da Mostra Competitiva pelo júri técnico. Ainda se destacando por suas críticas sociais, o prêmio de melhor filme do júri popular foi conquistado no Entrevues Belfort Festival International du Film, na França. 

Ainda, é válido ressaltar a beleza com que Grace Passô interpreta sua personagem, Juliana. Não é à toa que além do Candango de melhor atriz, do Festival de Brasília, ela também levou o prêmio da mesma categoria no Torino Film Festival, na Itália. Com naturalidade, ela atua com perfeição para representar sua personagem, passar sua história, seus medos e suas conquistas, pontos elogiados pela crítica.

Mesmo com o filme sendo lento e com cenas mais paradas, ele cumpre sua proposta de representar de forma fiel a humanidade. Feito que pode ser atribuído a essa construção de cenas, que dá atenção ao cotidiano e outras coisas que passam batidas em produções com viés em entretenimento. Momentos como o do lago são importantes para o entendimento dos personagens e suas ideias, que as pessoas são mais do que moradores de uma periferia e merecem ser reconhecidas.