Os gêneros pouco explorados nas telonas brasileiras
Imagem de divulgação “Onisciente”
Distopia, suspense e ficção científica. Gêneros que levam milhões de pessoas aos cinemas e provavelmente rendem os melhores resultados de bilheteria, mas que não tem muito espaço nas produções brasileiras. Mesmo ficando na maior parte do tempo de stand by, o povo brasileiro teve mais oportunidades de assistir obras nacionais do gênero, principalmente devido a investimentos como os da Netflix.
Não à toa, a primeira aposta brasileira da plataforma de streaming foi a série “3%”, que retrata a história de uma sociedade devastada em futuro não muito distante. Produzida pela Boutique Filmes, a série chamou a atenção do público e já conta com três temporadas. Com o bom retorno, a Netflix apostou em “Onisciente”, outra obra da mesma produtora e de Pedro Aguilera, um dos diretores e roteiristas das duas séries.
Explorando a temática de uma cidade com o sistema de vigilância perfeito, que dá origem ao nome da série, temos personagens acompanhados a todo momento por drones do tamanho de uma mosca. Com a incrível inteligência do sistema e a impossibilidade se livrar dele, é praticamente zero o número de crimes na sociedade que tanto confia e apoia o modelo. O que nos faz lembrar de “Black Mirror”, uma das séries de maior sucesso do catálogo da plataforma, a todo momento.
Com um número considerável de personagens interessantes, com desafios diferentes, mas ligados pelo mesmo acontecimento, a série não deixa que o espectador tire o olho da tela nem por um minuto. Acontecimento principal, o assassinato de um homem e a falha do sistema de vigilância cria todo o suspense da história. Principalmente porque os filhos do homem, Nina (Carla Salle) e Daniel Peixoto (Guilherme Prates) decidem investigar o caso a seu próprio modo e precisam se livrar de seus drones. Ela de dentro do sistema, já que é grande defensora e está fazendo um processo seletivo para trabalhar para o Onisciente. Ele por meios mais extremos, já que não é bem visto pela sociedade devido a uma travessura de infância.
De um modo geral, a cada cena ficamos com um gostinho de quero mais, tanto para desvendar o assassinato quanto para conhecer melhor os personagens. E mais do que isso, a série impressiona com uma ótima representação do Brasil. Mesmo sendo mais difícil se identificar com a sociedade perfeita e vigiada, é possível notar itens que geram imensa identificação do nosso povo, como o filtro de barro da casa dos Peixoto. Já nas cidades vizinhas e longe do alcance dos drones, é fiel a representação da realidade de cidades não planejadas, como São Paulo.
Além das séries provarem como é possível investir em distopias, suspense e ficção científica com qualidade, os filmes do gênero também têm seu espaço. “Bacurau” de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, suspense lançado em 2019 foi aclamado pela crítica mundial, levando até o Prêmio do Júri do prestigiado Festival de Cannes. O cinema brasileiro tem força, qualidade e é digno de sucesso. O que falta mesmo é a valorização da arte nacional pelos brasileiros.