Casamentos reinventados em tempos de pandemia
Cerimônias intimistas são alternativas seguras e abrem novas perspectivas para o setor de eventos
Espaço decorado, poucos funcionários, os noivos e uma transmissão ao vivo para os convidados: essa é uma das alternativas de um casamento seguro que muitos casais optaram para realizar seu sonho em tempos de isolamento e distanciamento social. Afetado drasticamente pela crise sanitária e econômica da Covid-19, o setor de eventos teve que se reinventar para sobreviver.
Foi organizando com muita atenção às medidas sanitárias, que Poliana Lucena, 33 anos, assessora e cerimonial, realizou no último mês, o chamado elopement wedding, em um contexto atípico em São Paulo. “Essa opção foi bastante usada para amenizar a dor da questão da pandemia”, conta a assessora.
Até então não muito popular no Brasil, o elopement wedding já é originalmente um casamento a dois, no qual realmente só os noivos participam, ou convidam no máximo pais e irmãos. Além disso, esse é um modelo mais econômico, o que também ajuda nesse âmbito de crise, já que muitos casais estão passando por dificuldades financeiras.
Mas, apesar de ser um evento pequeno, adaptar esse conceito de casamento para o cenário atual requer muitos cuidados. “Considerando a pandemia, é onde vai ser, se vai ser arejado, o mínimo de fornecedores necessários, todo mundo com máscara e todo cuidado de manuseio”, ressalta Poliana.
A orientação é clara: evitar aglomerações. Por isso, aquele planejamento de convidar várias pessoas para o casamento está fora de questão no momento. Mas o elopement wedding adaptado permite que os noivos façam a transmissão da cerimônia por serviços de conferência.
No Rio Grande do Sul, foi pensando em uma solução para se casarem, que a estilista Aline Seibel, de 21 anos e o engenheiro químico Carlos Schlickmann, de 26 anos, optaram pelo elopement wedding. Com planos iniciais de uma festa para cerca de 200 convidados, Aline e Carlos viram o sol brilhar só para eles em um dia de inverno, e tiveram uma inesquecível experiência por meio do casamento intimista.
“A gente chegou com o coração tranquilo, e saímos anestesiados, porque foi um dia em que tudo aconteceu de maneira muito leve”, relembra Aline. A tecnologia vem ganhando destaque nesse momento de distanciamento, e no casamento de Aline e Carlos não foi diferente. “Essa questão de ser transmitido online possibilitou com que todo mundo que era verdadeiramente importante para nós estivesse assistindo, estivesse participando”, conta a estilista.
No recente casamento que Poliana Lucena organizou, cerca de 100 pessoas participaram do evento pelo Zoom. “Na hora do brinde todo mundo brindou com eles, foi muito bonito. Então você vê que não tem limite mesmo, é a união”, relembra Poliana. “Tem gente que fala que é um casamento triste porque só tem os dois. Mas eu acho que cada pessoa tem um sonho, e o sonho não tem tamanho e não tem preço”.
Aline e Carlos também se sentiram acolhidos por seus convidados, que do outro lado da tela, realmente se vestiram a caráter para a celebração. “A gente recebeu muito carinho das pessoas”, diz Seibel, que nesse dia especial também estava acompanhada da adorável pet do casal.
Segundo pesquisa realizada pelo Sebrae em abril, juntamente com a Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc) e a União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe), 98% do setor de eventos foi impactado pela pandemia da Covid-19. Ainda, 15,5% das empresas do segmento adotaram novas tecnologias.
O mesmo estudo fala sobre o otimismo dos empresários sobre a retomada das atividades em até seis meses. Mas já em junho, o Brasil ultrapassou a marca de 1 milhão de casos confirmados por Covid-19. Hoje, já são mais de 70 mil mortes pela doença. A assessora Poliana Lucena já não consegue mais ter uma previsão de quando o cenário melhorará.
“Quando surgiu a questão da quarentena, todo mundo esperava que isso fosse durar no máximo um mês, então a gente começou a trabalhar com remanejamento”, conta Poliana, “então, a gente pegou o primeiro evento de abril, e jogou para junho. Mas em junho o caos estava instaurado, e esse evento, por exemplo, já foi lançado para janeiro do ano que vem”.
Com a paralisação das festas, muitos fornecedores de eventos estão sofrendo com um sufocamento no caixa, principalmente aqueles que não tem um fluxo mensal. Além disso, vários clientes dessas empresas ficaram desempregados ou com salários reduzidos.
Mas o elopement wedding, que Poliana organizou em São Paulo, trouxe para ela e seus colegas de trabalho uma esperança para o mercado de eventos. Já no estado gaúcho, Aline conta que o seu casamento serviu de inspiração para muitos casais, em todo país, que pensam em outras alternativas para realizarem seu sonho de casar.
Casamentos intimistas, como o elopement wedding, mini wedding e até destination wedding, prometem virar tendência no Brasil pós pandemia.