Cara a Cara: Natalia Avila
Seja no feed das redes sociais, ou nas páginas de um livro, a escritora nos conta como construiu e mantém a sua relação com a literatura
Das enciclopédias ilustradas ao universo da fantasia fantástica, Natalia Avila transborda inspiração com sua trajetória pela literatura. Aos 29 anos, a carioca, publicitária e escritora de “O Retrato da Nebulosa” leva diversos conteúdos gratuitos que aguçam a criatividade de cerca de 18 mil seguidores em seu Instagram. Além de um curso voltado para estimular jovens a ler e escrever.
É desde a infância que os olhos de Natalia brilham pelo vasto mundo da escrita, como um lugar cheio de conhecimento e de respostas. E alguns momentos foram essenciais para a deixar ainda mais fascinada por esta arte, sendo um deles as diversas interpretação da leitura de “O Pequeno Príncipe” ao longo de sua vida. Além disso, a sua outra fonte inspiradora vem da frase “Mas quais são as palavras que nunca são ditas?”, de uma canção de Renato Russo, em que os pais de Natalia respondiam com: “palavras que eram sentidas”.
O seu curso, chamado de “A Magia do Verbo”, carrega exatamente a essência de que as nossas palavras são poderosas. E para lidar com a realidade do cotidiano, Natalia busca refúgio na imaginação do seu gênero favorito: a fantasia. Com personagens encantadas como fadas e féricos, ambientados em um cenário medieval. Para a sonhadora, a boa escrita é aquela que seja bela, poética e envolvente. Confira agora na íntegra a entrevista que fizemos com a escritora:
WHIZ: Você possui diversos livros de sua autoria. Como foi a experiência de escrever cada uma de suas obras, em especial a primeira?
NA: Na época que eu estava trabalhando no escritório, senti muita vontade de escrever as histórias que ouvia quando era criança. Meus pais quem me contavam, eles inventavam tudo. E eu pensei: “Por que não escrever? Vai que eu acabo esquecendo. Estou aqui a vinte e poucos anos sem esquecer, mas se eu esquecer ficarei chateada. Então, prefiro escrever”. E daí eu escrevi, ilustrei um livro sem compromisso, sem muita noção de saber o que eu estava fazendo. E acabou que ficou uma obra que eu gostei bastante.
Quando eu fui demitida do escritório em que estava, comecei a ver nesse livro uma possibilidade de trabalhar. Daí eu montei um projeto literário, apresentei em dezenas de escolas e foi isso que eu fiz para poder começar na literatura. Então esse meu primeiro livro se chama “As Maravilhosas Aventuras da Tintinlolândia”, com dez historinhas curtinhas de criança mesmo, nos quais falam sobre o reino da imaginação. E ele foi o pioneiro de todos os outros que vieram em seguida.
É um trabalho que eu gosto demais de fazer, mas acabou que depois de dois anos focada na literatura infantil eu decidi focar no público jovem-adulto, porque eu estava me encontrando melhor com essa fala. E o primeiro livro jovem-adulto que eu escrevi se chama “O Retrato da Nebulosa”, de quatro contos. Foi muito bacana, porque escrevi ele na época no metrô, indo e voltando do trabalho. Era o tempo que eu tinha e fui escrevendo as histórias. Então a conquista da publicação desse primeiro livro jovem-adulto foi muito importante pra mim.
Eu acho legal que todo mundo que lê sente uma vontade muito forte de realizar os sonhos em seguida, sabe. Ele deixa esse resíduo de magia no leitor, e eu acho isso muito fascinante.
WHIZ: Tem planos para escrever um próximo livro?
NA: Agora em setembro eu vou inciar a “Antologia de Saturno”, que é uma mentoria em grupo com as minhas alunas. Nós vamos fazer uma coletânea com contos que vão ser escritos durante essa Antologia, então vai ser uma publicação que vai sair ainda esse ano, em conjunto meu com mais algumas sonhadoras. E eu estou escrevendo um livro que pretendo lançar no próximo ano, chamado “O Conto Perdido de Montecorp”, e ele está sendo uma obra extremamente divertida de escrever, estou conseguindo sintetizar nele tudo o que eu gostaria de vivenciar em um livro.
“O Conto Perdido de Montecorp” fala basicamente sobre uma rainha que acabou de ser coroada, só que ela se encontra em uma dimensão muito longe de sua casa. E ela precisa fazer alguma coisa para voltar, só que ela não sabe se as memórias que têm são um sonho, ou se não são. Está muito bacana, de verdade.
WHIZ: Em muitos de seus posts no Instagram, você busca interagir os seus seguidores com atividades criativas. Como surgiu a ideia de levar esse tipo de conteúdo para as redes sociais?
NA: Quando fundei a minha editora de livros infantis, Sonhos de Bolso, eu tinha três palavras chaves: educação, magia e interatividade. Então eu tinha muito essa proposta de que você deveria aprender alguma coisa, ter algum tipo de moral nos meus livros. Você teria que ter alguma coisa que fosse interativa. Eu não gosto daquela leitura passiva, eu gosto de deixar uma atividade, ou uma reflexão para o leitor continuar com o livro existindo dentro dele.
Então, quando eu comecei a trabalhar com mais foco no Instagram, eu já tinha todo esse “DNA” da interatividade, e sempre gostei muito de ensinar. Quando era criança eu tinha uma vizinha da minha idade com síndrome de Down, e eu passei uma tarde inteira ensinando as cores pra ela. Toda vez que eu dava palestras ou aulas em escolas, sempre preparava alguma atividade pra gente colocar em prática aquilo que a gente tinha visto na história. Eu acho que isso é uma comunicação muito importante.
Então, quando eu fui montar o cronograma tanto dos cursos, quanto dos posts no Instagram, eu acho que é muito necessário estimular essa prática. Porque nós somos seres preguiçosos. A gente já faz tanta coisa na vida, que quando é pra fazer alguma coisa pela gente, acabamos deixando pra lá. E eu não acho isso legal.
Mas, o mais legal do exercício, é que além de ver tudo funcionando, eu consigo conhecer melhor o meu público. Eu consigo ver que são pessoas, que assim como eu, acreditam em um mundo melhor. São pessoas que querem se expressar, que tem histórias para contar, que estão buscando uma forma de se desenvolver. E eu estou ali junto com elas, a gente não trabalha com hierarquia. Tanto é que temos um grupo no Telegram, onde a gente troca experiências, vitórias e inseguranças. É uma coisa realmente muito rica. Eu falo que a gente mora em Saturno, e em Saturno tem pessoas muito legais. Eu acho que isso é um reflexo dessas atividades criativas, tudo acaba tendo como consequência esse engajamento que é sincero, é de coração.
WHIZ: Você inspira e motiva muitas pessoas, é realmente uma fada na vida de muitos. Qual o significado disso tudo pra você?
NA: Eu sempre fui muito romântica, no sentido de procurar um propósito para a minha vida. Sempre quis muito fazer o bem, fui totalmente influenciada por princesas da Disney, principalmente as mais recentes nessa questão de ter independência, de fazer a diferença no mundo. Só que nunca soube como fazer. E eu vou te falar, sou meio que imprestável para qualquer outra coisa. Eu estou falando de escrita e de livro, porque é aquela coisa que eu consigo acordar e dormir pensando sobre, e há anos não consigo cansar.
Eu realmente sou extremamente fascinada pelo mundo da palavra, e acredito que a partir do momento que conseguimos se expressar, a gente consegue entender melhor os nosso sentimentos e os nossos pensamentos. Eu sempre digo que o mundo onde as pessoas não reprimem as suas ideias e os seus sonhos, é um mundo melhor. Um mundo em que as pessoas não tem medo de se expressar e não tem vergonha de si mesmo. Então, pra mim o significado disso é ser aquela faísca de mudança, uma faísca que eu espero que algum dia seja uma fogueira e que a gente consiga fazer um tsunami de luz pelo mundo. Eu acho que estou fazendo a minha parte pra isso, e o mais importante é que incentivo todo mundo a fazer a parte dela. A gente conseguir contagiar as pessoas com gentileza, com coragem e com diversão, que são os lemas dos meus grupos: o privado no Facebook, e o Telegram que é aberto. E eu sempre falo “seja gentil, tenha coragem e divirta-se”, é um pouquinho daquela frase da Cinderella, “have courage and be kind”, do live-action. E eu inclui o divirta-se, porque não adianta a gente fazer o que ama, se a gente está sofrendo fazendo. O processo criativo é pra ser divertido e leve, é pra ser desafiador, ter obstáculo, só que não é para ser sofrido. Então, eu acho que consigo montar uma teia, que a gente consegue ir se superando e aprendendo a cada dia, principalmente se mantendo estimulada e mantendo a empolgação.
WHIZ: E por que fada de saturno?
NA: Eu queria ganhar um real a cada vez que alguém me pergunta porquê eu sou a Fada de Saturno. Acho que eu já teria uma nota do lobo-guará. Na realidade, o meu usuário era Saturn Princess, Princesa de Saturno em inglês. Só que conforme o Instagram foi crescendo, estava muito estranho para as pessoas me acharem com o nome em inglês. Então eu preferi traduzir para Fada de Saturno, porque Princesa de Saturno já estava ocupado.
Tem uma música do artista Sleeping At Last, chamada Saturn, de um álbum chamado “Atlas” onde cada faixa tem o nome de um corpo celeste da nossa via láctea. E ela é uma música que tem uma das letras mais belíssimas que eu já li em toda a minha vida, e fala basicamente o quão raro e belo é o fato de simplesmente existirmos. Então, eu acho isso tão lindo que queria “Saturno” no nome. Muita gente acha que é relacionado à astrologia, mas não é. E o “fada” é porque sempre foi o ser místico que eu mais me identifiquei, por ser um ser que tem a magia, um ser que aparece para ajudar as pessoas e que é conectado com a natureza.
WHIZ: Por fim, qual o conselho que você dá para a pessoa que está lendo a sua trajetória inspiradora nesse momento, na qual se sente insegura em publicar seus textos?
NA: Para as pessoas que se sentem inseguras: ninguém tem nada do que falar da sua arte, ninguém tem nada que opinar de uma forma negativa. Não tem porquê existir esse medo. Ou você tem medo de ser julgado por alguém que não vai valer a pena ter a sua energia, ou você tem medo de ser ignorado, o que pode ser pior ainda. Então o que eu sempre digo é: faça pra você. Você é o primeiro leitor do seu texto. Você que tem que curtir antes de todo mundo.
Escreva sobre o que você gosta, não escreve o que você acha que deve ser feito porque os outros estão fazendo. O texto e os livros que você quer escrever já estão dentro de você, estão no seu coração. Vai ter dias que você estará mal, e não vai querer escrever um ode ao pôr-do-sol. Você vai querer escrever alguma coisa falando sobre sua revolta, e você tem que respeitar os seus sentimentos. Tem que saber conhecer como você funciona, conhecer o seu corpo e o seu estado de espírito, para ter um dia criativo e produtivo.
E não é todo dia que a gente vai estar produtivo, não podemos nos cobrar tanto assim. É realmente um movimento bastante complexo, eu recomendo sempre um livro chamado “A Grande Magia”, da Elizabeth Gilbert, autora de “Comer, Rezar, Amar”. E ele ajuda demais quem tem essas questões de medo, e fala muito sobre vida criativa de uma forma extremamente inspiradora. É tipo a leitura recomendada do meu curso. E também faça “A Magia do Verbo”, porque todos os meus cursos têm dezenas de exercícios extremamente divertidos, que é justamente para você ir ganhando confiança. E eu pego o passo-a-passo pra todo mundo conseguir construir mais confiança na sua criatividade, e melhorar a organização de ideias. Sem estresse, realmente curtindo o processo criativo.