Cara a cara: Izabel Gimenez
Para retribuir a ajuda que também recebeu, Izabel decidiu compartilhar um pouco de suas experiências no Instagram
O que seria apenas um passatempo durante a quarentena, tornou-se um perfil que serve de inspiração para muitas meninas. Izabel Gimenez, nascida em Santos, estudante de jornalismo e redatora na Capricho, decidiu compartilhar no Instagram seu processo de auto aceitação a fim de ajudar outras pessoas que passam ou já passaram pelas mesmas experiências.
No começo, as publicações não eram tão frequentes, mas devido às mensagens com elogios e agradecimentos, a jovem percebeu que estava fazendo a diferença na vida de alguns seguidores. Nos posts, Izabel escreve “lembretes” sobre amor próprio, mostra uma vida real longe dessa era virtual que nos obriga a ser perfeitos, desconstrói pensamentos e falas gordofóbicas que estão enraizadas na sociedade e compartilha dicas de como se desprender dos padrões e se aceitar da forma que você é. O portal WHIZ bateu um papo com a criadora de conteúdo para que ela pudesse nos contar um pouco mais sobre sua trajetória, confira abaixo:
WHIZ: No seu Instagram você posta várias dicas sobre autoestima e auto aceitação. Como surgiu essa ideia?
Izabel: Foi algo muito natural, comecei fazendo alguns vídeos sobre meu antigo relacionamento abusivo e sobre alguns outros assuntos, mas não sabia muito concreto sobre o que eu queria falar. Quando eu entendi que precisava de um tema, foi tão natural falar sobre meu corpo porque não tem nada que eu domine mais, que faça mais sentido pra mim do que isso, sei a importância que esse assunto tem não só pra mim. Senti que realmente estava começando a fazer diferença dentro desse ‘mundinho’ e por isso continuei fazendo, tem sido muito especial.
WHIZ: Você está quase se formando em jornalismo, o que te fez escolher essa profissão? E em qual área você pretende seguir?
Izabel: Sempre curti comunicação, nunca me vi fazendo outra coisa, não sabia exatamente sobre o jornalismo, mas sabia que queria trabalhar nessa área. Quando voltei para o Brasil depois de ficar um ano e meio na Alemanha, decidi prestar para jornalismo para ver se eu gostava, passei, gostei muito do curso e não me vejo fazendo outra coisa. Hoje trabalho na área de redação e acredito que vá continuar, ainda não sei exatamente qual editoria, mas atualmente eu faço beleza.
WHIZ: A internet atualmente é cheia de “fiscais” da vida alheia, como você lida com as críticas? Em algum momento elas te afetaram?
Izabel: Tento filtrar bastante e entender de onde estão vindo, se for realmente uma crítica construtiva, vou ouvir e tentar mudar. Inclusive, bem no início, uma menina que também produz conteúdo me fez uma e foi muito legal, houve uma troca bacana – sempre digo que estou no Instagram aprendendo também, não é todo dia que estou bem ou que estou certa, então, recebo tudo de boa. Mas se for alguém me xingando, eu ignoro e bloqueio porque não faz sentido eu deixar ela lá, esse tipo de gente não é alguém que vai nos ouvir. Isso diz muito mais sobre ele do que sobre mim.
WHIZ: Você sempre compartilha no seu Instagram mensagens de seguidores agradecendo e te vendo como inspiração. Como é pra você ter um impacto positivo na vida de outras pessoas?
Izabel: Acho muito massa e meio doido também. Sempre tive essas pessoas pra mim, elas foram muito importantes no meu processo de auto aceitação, se não fossem elas provavelmente não teria conseguido. Só eu sei o quão difícil e doloroso esse processo foi para mim, mas hoje, percebo que valeu a pena e consigo me sentir realmente livre para ser quem eu sou. E como nunca tive o direito de ter essa liberdade, é muito gratificante saber que agora eu posso te-lâ e ainda posso ensinar outras garotas.
WHIZ: Você fala sobre assuntos muito importantes nas redes sociais, um deles é como a gordofobia ainda é comum mesmo que inconscientemente na sociedade. Na sua opinião, já houve uma melhora em relação a isso?
Izabel: Às vezes, eu acho que estamos andando dois pra frente e, às vezes, três pra trás. Acontece que essa onda de auto aceitação, autocuidado, é uma tendência em que as pessoas estão pedindo por algo mais natural e mais real, por isso temos algumas respostas positivas. Mas quando uma magra fala sobre isso, ainda tem um recebimento mais orgânico e normal do que quando uma gorda fala. Eu sinto que existe uma teoria muito forte, porém, ainda não é colocada em prática. A gordofobia continua existindo, as coisas podem ter melhorado, mas ainda está muito longe do ideal.
Continuamos falando o básico, o óbvio, e com a nossa bolha, toda vez que a furamos, ou seja, quando esse assunto aparece nas redes sociais, na televisão, na grande mídia fico preocupada porque ao mesmo tempo que é muito bom atingir novas pessoas, acessa aqueles que são de fato gordofóbicos e não veem nenhum problema nisso, eles brigam e xingam. Nesse momento, eu não sei em que lugar a gente está, porque às vezes vivo um pouco fechada no meu Instagram onde as pessoas concordam comigo ou as que não concordam apenas respeitam e na ilusão de que as coisas estão melhorando mas, quando a bolha é furada, eu acho que não .
WHIZ: Qual a sua dica para quem ainda está preso nos padrões impostos pela sociedade?
Izabel: Vamos estar presos aos padrões a vida inteira, é meio impossível se livrar deles, porque a nossa sociedade lembra disso todos os dias. Se a gente liga a TV, ou uma série, a personagem magra sempre vai ser a principal e a personagem gorda a amiga engraçada, que não vai tão bem na vida, a invejosa. Isso é reafirmado todos os dias pelos produtos que consumimos, pela vida que temos ou pelo Instagram. O que nós podemos fazer é entender nosso corpo nessa sociedade. Hoje, eu respeito o meu corpo, o meu processo, a minha história e o meu biotipo, é sobre respeito. Entender que está tudo bem não ter o corpo que todo mundo diz ser lindo e se sentir bem com ele. Mas isso não tem a ver com se livrar dos padrões, porque eu entendo os padrões, que existe uma pressão estética e que as pessoas exigem isso de mim, mas eu não cobro meu corpo. Essa é a diferença.