Tempos históricos no presente
Durante os anos, o mundo já enfrentou diversas epidemias e, para auxiliar no processo de controle de doenças, se tornou necessário aprender com o passado para diminuir as dificuldades atuais
A esperança para que esse período pandêmico acabe é a breve chegada da vacina. Devido ao esforço e capacidade dos cientistas, alguns países no mundo estão na fase final de testes e outros já começaram a imunizar sua população. Segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no momento, o Brasil tem quatro vacinas na última fase de testes, as quais apresentaram dados satisfatórios de segurança e de eficácia na proteção contra a doença.
Entretanto, ao mesmo tempo que a chegada dela resolverá um grande problema, irá agravar profundamente outro que possivelmente não tem cura: a polarização política. Segundo João Paulo Cândia, professor de ciências políticas da Universidade de São Paulo, isso vai acontecer porque a pandemia estimula, pela própria iniciativa do Governo Federal, diversos grupos anti vacinas que existem no Brasil, com mais força ainda no mundo. Além disso, aumenta a disputa política no país, uma vez que, todas as escolhas feitas nesse período vão ter repercussão eleitoral. “Por isso eles querem a vacina o mais rápido possível, para ‘estancar’ o descontentamento da população”, explica João Paulo.
Segundo a historiadora Tânia Fernandes, “estamos vivendo uma polarização insana, em que a política está ganhando mais espaço do que a ciência”. E além da pandemia, o país enfrenta uma onda de desinformação, o que permite que as pessoas possam falar sem ter certeza da veracidade. Uma pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), revelou que entre Março e Abril, 65% das fake news envolviam curas caseiras e não comprovadas pela ciência para a COVID-19.
Por muito tempo o mundo sofreu uma grande crise causada pela varíola, que por conta da intensa campanha de vacinação na época, está erradicada de todos os países desde 1980. “Foi ela quem propiciou a criação do Plano Nacional de Imunização”, conta a historiadora Tânia Fernandes. Devido a este plano, o país já erradicou diversas doenças graves que atingiam o mundo inteiro, como a poliomielite e o sarampo. Agora conhecido como Programa Nacional de Imunizações (PNI), é também o responsável por disponibilizar para a população brasileira acesso gratuito a todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Outro aspecto que causou grande impacto histórico foi a revolta dos cidadãos cariocas contra a lei que tornava a vacinação obrigatória em 1904. Devido a este fato, a lei foi afrouxada e o número de pessoas vacinadas diminuiu. O quê, quatro anos depois, provocou uma nova onda da epidemia de varíola. Mas, dessa vez, o governo enfrentou com uma nova estratégia, de acordo com Tânia: “Produziram mais informação sobre a importância da vacinação e isso aumentou gradativamente pela procura”. Hoje a história continua a mesma, se houvesse um trabalho de conscientização, “não seria preciso obrigar ninguém a fazer nada. Pois quando a pessoa está bem informada tem capacidade de tomar decisões acertadas”, diz a historiadora.
Uma pesquisa publicada em 21 de outubro, pela revista Nature, aponta que 85% dos brasileiros estão dispostos a se vacinar contra o coronavírus. Isso acontece porque “o Brasil é um país onde a recepção de vacinas é muito grande”, explica Tânia Fernandes. Muitos planos de vacinação no Brasil foram bem sucedidos. “Somos reconhecidos no mundo inteiro por desenvolver políticas públicas de vacinação em massa com muita competência”, acrescenta o professor João Paulo. Apesar disso, ainda existem alguns grupos que apoiam movimentos anti vacinas que têm força no exterior.
No dia sete de dezembro, o Governador de São Paulo, João Dória (PSDB), anunciou que a vacinação no estado iniciará dia 25 de janeiro, antes do que nos outros estados do país. Segundo Tânia Fernandes: “Planos paralelos em um país grande como o Brasil não vão adiantar. A vacina só tem sentido se for socialmente utilizada, não pode ser pulverizada”. Um levantamento feito pelo PoderData, em 29 de outubro, revelou que 56% dos brasileiros acham que a vacina deveria ser obrigatória e 36% são contra. Para o professor João Paulo: “ Se cada indivíduo tiver o livre arbítrio de decidir sobre a vacina, o problema de saúde pública não será resolvido e o vírus continuará infectando novas vítimas”.