Reaprendendo a fazer bem a si mesmo
Amar-se é um processo de construção sentimental que deve ser cuidado com muito zelo
Algo que ouvimos muito, praticamos pouco e sempre devemos aprender mais: o amor próprio. Segundo William James, um dos pais da psicologia, esse conceito pode ser entendido como o “amor de si”, que se define como a parte descritiva do conhecimento que o indivíduo tem de si mesmo.
Para o psicólogo clínico Murilo Comparoni, pós-graduando em Terapia Cognitiva Comportamental: “O amor próprio está diretamente ligado a aspectos da saúde mental e não está relacionado ao narcisismo ou egoísmo, mas a forma como lidamos com nossas emoções e sentimentos acerca de si”. O psicólogo ainda acrescenta que o autoamor está mais conectado com a forma de ter empatia com si, e como podemos ser rígidos com nós mesmos. Por isso, ele enfatiza que tal sentimento deve ser tratado de maneira atenciosa, pois está totalmente ligado ao funcionamento do psíquico.
No pensamento de Sócrates sobre “conhece-te a ti mesmo”, há uma referência em buscar não somente o autoconhecimento. Para o filósofo, se conhecer é o pontapé para uma vida saudável e feliz, de acordo com o saber do mundo.
Nesta teoria, pode-se diferenciar dois conceitos: o amor próprio e a autoestima. “Existem diferenças entre os dois, mas ambas se relacionam entre si”, explica Comparoni. Ainda, o psicólogo analisa esse conceito mais a fundo: “A autoestima é uma definição que diz respeito a visão que possuímos a si mesmo e dos julgamentos acerca da pessoa, podendo muitas vezes serem cruéis”.
O termo “autoestima” na psicologia foi usado por Willian James, e fala sobre a sensação pessoal apresentada em relação ao valor de si. Com isso, o sentimento individual é construído em associação consigo mesmo. Murilo esclarece que a autoestima é um procedimento de avaliação do eu, fundado em vários fatores. “Por exemplo: na nossa autoimagem, como nos comportamos e na avaliação que fazemos diante disto”. Tal relação, de acordo com o psicólogo, se refere à forma de contato afetivo com si, a respeito da maneira como a pessoa se trata, sem deixar que isso influencie a sua autoestima.
Stanley Coopersmith, em um de seus pensamentos, trata o amor próprio como uma avaliação pessoal de alto valor nas atitudes de cada indivíduo. Além de uma experiência subjetiva que pode ser acessível às pessoas por meio de relatos verbais e comportamentos observáveis.
“O desenvolvimento desse autoamor é particular, ou seja, sem generalização individual. Então, esses sentimentos não são quantificáveis, pois dependem de outras relações para se compor”, reitera Amanda Scarpelli Caroni, de 29 anos e psicóloga especialista em Saúde da Família.
Para a formação deste sentimento sobre si, a especialista explica que existem marcas sentimentais que são como feridas, e afetam a evolução desse amor em algumas pessoas, o que pode ou não se desenvolver e se resignificar. Ainda, Caroni ressalta como essas marcas podem transformar-se de diversas formas, dolorosas ou não, que envolvam crescimento ou não do amor próprio.
Além disso, devemos ter em mente formas de desenvolver o autoamor. O psicólogo clínico, Murilo Comparoni, descreve algumas dicas para esse processo. Primeiro, ele fala sobre o autoconhecimento: “Entender quem somos, o que gostamos de fazer, o porquê nos comportamos e nos sentimos de determinada maneira é fundamental para proporcionar qualquer método de mudança”.
Já sobre a autoavaliação, Comparoni diz: “Reproduzimos o que aprendemos sobre si, e acerca do mundo, do passado e do futuro. É necessário quebrar esse ciclo para se perceber e autoavaliar-se. Assim, podemos identificar essas crenças aprendidas, e que as vezes, são fundamentadas em concepções não verdadeiras, ou não mais verdadeiras”.
Outro ponto importante que o psicólogo enfatiza nesse estágio, é o aprendizado construído na infância: “O amor próprio e todas as crenças acerca de si são, em sua maioria, enraizadas desde a meninice e não significa que não construiremos outras novas ou mudaremos as antigas”. Ele ainda acrescenta que essas concepções ficam mais ocultas quando são aprendidas na infância, com influência no comportamento adulto. “O aprendizado sobre as emoções, sentimentos, e principalmente a demonstração de afeto e carinho com as crianças, têm seu incentivo porque são essenciais para construir uma relação de autoamor saudável”, complementa Murilo Comparoni.
De acordo com o psicólogo, um sinal fundamental nessa formação é repensar quem somos, com perguntas como: “Quem sou eu e qual o julgamento que faço do outro, pois tais questionamentos são importantes para que nossa relação consigo mesmo seja construída junto com a convivência que tenho com o outro. Então, buscar aperfeiçoar a relação que tenho com as pessoas e o mundo é uma forma de melhorar a qualidade do meu autoamor e autocuidado”.
A última dica prática do autoamor, é a maneira de reconsiderar a própria existência. “Repensar qual o sentido que atribuímos ao mundo, as relações e a sociedade em geral, é um exercício que todos deveriam tentar fazer. Por que é de extrema importância ter o corpo da moda? Por que precisamos ter roupas caras? Por qual motivo atribuímos nosso sucesso financeiro ao êxito na vida? Por que não valorizamos nossas relações como deveriam? Por que estamos cada vez mais escravos de computadores e smartphones e redes sociais?”, finaliza o psicólogo.