A empatia se constrói desde a infância
Essa sensibilidade não é uma habilidade inata, as crianças precisam de treino e modelo para exercitar ao longo da vida
Nos dias atuais, muito se fala sobre o padrão de beleza, uma expressão usada para caracterizar um modelo estético considerado ideal em uma sociedade. E desde pequenas, as crianças são submetidas a tais determinações. Um levantamento feito em 2018 pela campanha “Cadê Nossa Boneca?”, da Organização Não Governamental (ONG) Avante sobre padrões estéticos e representatividade na infância, mostrou que, de 762 tipos de bonecas analisadas, apenas 53 eram negras, equivalente a 7%. Esta desigualdade acontece também em programas de televisão e em livros infantis, o qual os personagens, em sua maioria, são brancos, magros e não tem nenhuma deficiência.
Caso não seja discutido sobre diversidade na infância, a pedagoga Anna Sophia Oliveira explica que “talvez a empatia não aconteça de forma natural, como deveria”. Ainda completa dizendo: “Podemos pensar também que isso pode gerar preconceitos e uma falta de acolhimento”.
A educação infantil no Brasil contempla crianças dos quatro aos seis anos. Segundo Cinthia Catellan, psicóloga especialista na Infância e Adolescência: “É justamente na infância que, crenças sobre si mesmo, sobre as pessoas e sobre o futuro, são construídas”. Portanto, é papel de todo adulto que conviva com elas discutir sobre diversidade. Pois tudo que a criança sabe sobre o funcionamento do mundo, “tem base naquilo que se aprendeu desde muito cedo”, complementa Cinthia.
A pesquisadora em design, Clara Lins, se dedicou a uma pesquisa que investiga como os brinquedos podem ganhar novos significados e, assim, contribuir para mudanças na forma que a sociedade lida com o diferente. Segundo Clara, em uma entrevista para o site Minas Faz Ciência em 2018: “Os brinquedos são ótimas ferramentas para que as crianças consigam assimilar conceitos sobre inclusão e diversidade de maneira leve”.
Ressignificar objetos que originalmente foram feitos de maneira estereotipada é mais do que criar um novo modelo, é dar um novo sentido a ele. É preciso alterar a interpretação, o conceito e pensar em como ele irá repercutir no imaginário daqueles que fazem o uso. Por exemplo, a boneca Barbie, que exaltava um padrão inalcançável para muitas meninas. Pensando nisso, em 2016 a Mattel lançou uma linha com bonecas que têm diferentes tons de pele, tipos de corpos e estilos de cabelo. Além disso, três anos depois, a linha “Barbie Fashionistas 2019” incluiu bonecas com cadeira de rodas e outras com uma perna protética.
A questão principal está no significado que os adultos e os modelos sociais atribuem aos brinquedos, tanto quando se fala sobre padrões estéticos, quanto padrões no comportamento. A psicóloga Cinthia Catellan explica que o problema está na intolerância com o diferente. E exemplifica: “Não há problema algum uma menina brincar de casinha, fazer comidinha e trocar a fralda do bebê. Mas ao brincar que está trocando o pneu do carro que furou e receber uma crítica ou retaliação por isso”.
Dessa forma, a pedagoga Anna Sophia Oliveira afirma que, para não reforçar estereótipos durante as aulas, deixa os alunos livres para brincarem com o que quiserem. “Sem que nada seja imposto como brinquedos de meninas ou de meninos. Os brinquedos e brincadeiras não devem ter gênero”, complementa.
É de extrema importância que a família dê atenção para os sinais que os filhos dão. “Por vezes, as emoções das crianças e adolescentes são desvalidadas. Como se o problema que enfrentam fosse sempre pequeno demais. O acolhimento abre espaço para diálogo”, explica a psicóloga Cinthia. Ela complementa dizendo que: “O padrão está cada vez menos alcançável e as crianças e os adolescentes seguem nesta incessante busca”.