A importância da moda latino-americana
Em uma realidade composta por padrões majoritariamente europeus, a alta-costura dentro da América Latina se destaca com o ativismo e a sustentabilidade
A história da moda inicia-se com a necessidade de cobrir o corpo nu e de se proteger de temperaturas muito baixas. Séculos depois, a tecelagem, as fibras vegetais e a tintura por meio de pigmentos naturais tomaram conta da Europa e trouxeram consigo a ideia de que as vestimentas levavam status para quem as usavam. Essa ideia se iniciou no Egito com os faraós que utilizavam dos metais para criarem adereços e acessórios, mas até então não utilizavam dos tecidos para demonstrar poder e autoritarismo.
A moda se dispersou pelos países europeus e Charles Frederick Worth, costureiro inglês, ficou responsável por iniciar a alta-costura na França quando abriu o primeiro ateliê na cidade das luzes, Paris, em 1858. O ateliê de Worth se eternizou até hoje, dando a Champs-Élysées a fama de avenida mais famosa de Paris – pelo enorme número de lojas de grife e alta-costura. Por conta disso, nos anos seguintes, a Europa cresceu – e cresce – cada vez mais no mundo da moda com desfiles, marcas de luxo, tendências e seu padrão que ostenta glamour baseado na clássica vida europeia com fortes influências francesas.
Em um mercado oposto, a América Latina fica por muito tempo com pouco ou sem nenhum reconhecimento dentro do mundo da alta-costura. Atualmente, marcas inovam-se trazendo tendências que se encaixam a ideais e que carregam propósitos – a moda torna-se mais do que um visual ou uma estética, agora as roupas são mensagens.
A marca argentina, Chain, criada em 2017 pela designer de Buenos Aires, Lucía Chain, é uma das apostas para o cenário da moda na América Latina. Em nossa conversa com Lucía, ela explica como todo o propósito da marca foi gerado por meio de sua infância e da maneira que foi educada por seus avós e pais. “Eu cresci com minha avó alfaiata e meus pais ligados à floricultura e biologia, então minha educação e minha formação me prepararam para ter o perfil que tenho hoje como designer.” Chain é um ateliê de produção lenta que preza pelo respeito ao meio ambiente e todos os seres que vivem nele e que dá valor para todos os seus trabalhadores – sendo que todas as peças da marca são feitas à mão.
Para Lucía, a empresa está bem posicionada no cenário internacional, já que é considerada uma referência para a sustentabilidade mundialmente, mas ainda precisa atingir mercados específicos. Quando é perguntada sobre a valorização da América Latina na moda, Lucía afirma que as marcas latino-americanas têm uma maneira única de produzir roupas e de criar tendências: “Na América Latina temos uma forma natural de trabalhar, que está intimamente ligada à sustentabilidade, além do propósito de cada marca. Temos uma maneira de fazer as coisas que é sustentável per se (por si só).”
Apesar de boa parte da cultura da moda vir da Europa, Lucía destaca como pouco a pouco as marcas latino-americanas irão atingir níveis de reconhecimento parecidos – ou até mesmo maiores – que empresas europeias. A valorização da moda latino-americana deve ser iniciada dentro do território, para depois buscar triunfo lá fora. Apesar de Louis Vitton, Chanel, Dior, Valentino – ou seja, marcas da alta-costura da Europa – ainda serem vistas como maior referência, a valorização de empresas e projetos alternativos de nosso próprio continente vem quando damos o primeiro passo para investir nelas e procurar saber mais.
“Acho que ainda há um longo caminho a percorrer para um reconhecimento genuíno. A moda ainda é muito eurocentralizada, mas é uma questão de tempo. A lista de estilistas latino-americanos com força e talento necessários para fazer história da moda é longa – e está ficando cada vez maior.”
Bela publicação! Parabéns