Resenha: Onde Está Meu Coração

A série brasileira “Onde Está Meu Coração”, original Globoplay, é uma daquelas que te faz sentir as dores de cada personagem e que nos primeiros minutos já te conquista. Não poderia ser diferente diante do roteiro, fotografia, direção e atuações impecáveis apresentadas pela produção. A primeira temporada contém dez episódios e, desde o primeiro, você sente as emoções propostas pelos criadores George Moura e Sérgio Goldenberg.

A trama principal gira em torno de Amanda Vergueiro (Letícia Colin), uma médica renomada da classe média alta de São Paulo, que experimenta o crack em uma festa e logo se vê viciada na substância. Aparentemente, a personagem tem a vida perfeita: marido e família que a amam, emprego dos sonhos e bem sucedida. Entretanto, a própria relata em um dos episódios que usa a droga para ter uma vida ainda melhor.

Na família, David Meirelles (Fábio Assunção), pai de Amanda, lida com problemas com o álcool e busca a solução em relações fora do casamento. Já a mãe, Sofia Vergueiro (Mariana Lima), tenta abraçar o mundo e resolver o problema de todos para não lidar com a solidão que a cerca. Em meio a uma crise no casamento, ambos precisam, juntos, tirar a filha do vício. Neste contexto, os dois colocam suas dificuldades em segundo plano e postergam para não solucioná-las. Além deles, Júlia Vergueiro (Manu Morelli), a filha caçula do casal e irmã de Amanda, é uma jovem religiosa que também sofre as consequências que a droga trouxe para sua família.

No casamento, as drogas também destruíram a relação que Amanda tinha com seu marido, Miguel (Daniel de Oliveira). Ambos viviam uma vida feliz e estavam acostumados a experimentar novas substâncias, porém, dessa vez, a situação saiu do controle.

De Elvis Presley a Gal Costa, a escolha da sonoplastia foi certeira, as músicas transparecem a emoção que cada cena carrega. Em conjunto com o roteiro, as técnicas foram usadas com excelência. Tudo foi feito com uma grande sensibilidade e uma imersão profunda no mundo das drogas. Letícia Colin mergulhou no personagem e todos os gestos, olhares e movimentos trouxeram verdade para a atuação e mexeram com os sentimentos do público.

Na vida real, Fábio Assunção lutou por anos contra as drogas e em 2019, quando a série foi gravada, estava em um período de transformação. A diretora disse que Fábio ajudou a entender, ainda melhor, o que está por trás da dependência química, e levou Letícia Colin em reuniões dos Narcóticos Anônimos. Ela ouviu relatos de usuários e viu pessoas tendo crises de abstinência.

A série é intensa e mostra a dura realidade de quem enfrenta o vício nas drogas. Mostra como a doença destruiu todas as relações pessoais e profissionais de Amanda, porém, este retrato não acontece apenas na ficção. A produção quer tirar estereótipos desse tema e falar sobre algo que afeta muitas pessoas. Em entrevista para o Fantástico, a diretora Luisa Lima afirmou que: “a narrativa traz o crack para uma família de classe alta e isso perturba nossos preconceitos”.

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