Alto mar
Eu nunca me afoguei. Mas imagino que a sensação de estar em alto mar, falhando na busca pela superfície daquela imensidão, provoca a coexistência de dois sentimentos antagônicos. A imersão isola em frações de segundos o medo e o desespero de estar sozinho no vazio. Logo, as vias respiratórias carecem de fôlego e a tranquilidade se torna um devaneio. Enfim, após incansáveis tentativas, o ar fresco surge como um sopro de esperança. Essa seria uma boa definição para meu primeiro ano de faculdade.
Sonhei com esse curso durante bons anos da minha vida. E definitivamente o início não foi nada como eu esperava. Tinha uma visão sobre a vida acadêmica um tanto quanto utópica. Depois de um longo período na monotonia escolar, o jornalismo era o ar fresco que eu ansiava. Mas o jornalismo está nas ruas. Contar histórias entre quatro paredes em um primeiro instante parecia impossível. Assim como escrever essa crônica.
Um mergulho no mundo digital foi preciso para encontrar possibilidades e aproximar longas distâncias com apenas um clique. O que ajudou muito em angustiantes bloqueios criativos. Mas ao mesmo tempo, as trocas instantâneas e efêmeras criaram sujeitos condicionados a um comportamento. Automático? Talvez essa seja a palavra.
Durante uma entrevista na semana passada, com o antropólogo Oscar, vamos chamá-lo assim, fui surpreendida com uma resposta de 15 minutos, sucedida de um erro.
− Para você, qual a importância de uma conferência para jovens dessa dimensão e das discussões abortadas?
Sim. Essa foi a minha pergunta. Exatamente assim. Um deslize que me fez querer estar submersa. Isolada no fundo do oceano. Sem oxigênio e contato com o exterior. A surpresa foi ainda maior quando Oscar disse que as “discussões abortadas” produziram uma narrativa diferente para a conversa. E que se relacionou perfeitamente com o assunto. É a primeira vez que um ato falho gera um retorno positivo.