A ascensão do digital
Com o avanço da tecnologia e a facilidade de acesso à comunicação, diversas áreas do entretenimento tiveram que readaptar suas produções, do offline para o online, e a literatura é uma delas. Por mais que livros sejam atemporais, as mudanças drásticas entre as gerações têm feito com que muitas editoras e escritores reajustam seus produtos para atingir a demanda do mercado.
O primeiro contato com um e-book não é sempre o mais prazeroso. Para aqueles que nasceram antes dos anos 2000, fazer a troca para o digital não é fácil e, mesmo sendo mais prático, essa inovação traz algumas habilidades novas que nem sempre são bem vistas. No entanto, as mudanças dentro da literatura são constantes.“A maneira de contar histórias evolui com as tecnologias, e hoje o consumo de e-books é o que permite que mais e mais autores nacionais e contemporâneos possam apresentar suas histórias”, comenta Ray Tavares, escritora de “Os 12 Signos de Valentina”.
Com a pandemia, essa evolução e adaptação fez com que a edição de diversos livros fossem adiados indeterminadamente. Um dos livros de Ray, “Carta Aos Astros”, teve seu lançamento online antes do físico e por mais que parecesse prejudicial, a escritora conta que o único dano foi ter que adiar a data inicial de envio e frustrar muitas expectativas de seus leitores. Já Vinícius Grossos, escritor de “O Garoto Quase-Atropelado”, lançou um conto totalmente online, chamado “Quando tudo isso acabar”, e conta: “Eu adorei! Pela praticidade, por eliminar meses de um trabalho gráfico, que aconteceria com uma editora. E, de forma mais pessoal, eu amo ter contato direto com os leitores. Então senti que esse laço ficou mais forte lançando algo em e-book. Era um conteúdo meu diretamente para eles”.
Além disso, a facilidade em publicar um e-book é tanta que muitos escritores independentes têm optado por essa ferramenta. Sem as taxas de impressão e preocupação de oferta e demanda, a acessibilidade de jovens autores é enorme, abrindo um espaço infinito para a imaginação e libertando as histórias das amarras dos papéis. Por isso, existe uma grande queda no mercado editorial.
Quando perguntada sobre o fechamento de algumas livrarias ao redor do país, Ray Tavares diz: “O fechamento das livrarias não teve a ver com a diminuição da venda de livros, aliás, a receita do setor tem crescido ao longo dos anos. As livrarias fecharam por má administração e pela crise econômica do país – e, claro, pela falta de incentivo dos governos atuais.” Já para Vinícius, “Muitos fatores fazem com que isso aconteça. Se pegarmos exemplos recentes de grandes redes fechando, é uma soma da precarização do mercado, à formas antigas de se vender livros.”
As desvantagens dos livros digitais são poucas, mas uma delas, e das mais preocupantes, é a pirataria. Ser escritor não é sinônimo de ser bem remunerado e essa facilidade em reproduzir conteúdo sem direitos autorais no meio virtual traz grandes receios. E, por mais que não veja partes negativas nos e-books, Vinicius diz que com certeza faria um lançamento online de um novo livro. “Eu sou muito aberto à novas ideias, novas tecnologias, e acho que tudo que pode somar, que tudo que pode fazer o livro chegar mais longe, deve ser abraçado.”, comenta.