A Moda Em e Pós 2020
Novos hábitos de higiene, máscaras e mudanças climáticas marcaram este ano, como qualquer outro setor, o mundo fashion também vivenciou os impactos da COVID-19
Com tantos acontecimentos e situações tensas, nos deparamos com a história do planeta mudando diante dos nossos olhos. A moda é uma das maiores indústrias do mundo. Em fevereiro de 2019, o site Joint Economic Committee do congresso dos Estados Unidos, publicou que o segmento fashion é avaliado em dois trilhões e meio de dólares. Mesmo sendo uma gigante, a pandemia do novo coronavírus causou transformações, assim como em qualquer outro âmbito. Mas o que mudou e o que precisava mudar? Silvana Holzmeister – editora de moda sênior da revista Harper’s Bazaar Brasil, Paula Roschel – editora (impresso) e Lays Tavares – editora-chefe (digital), ambas da revista da L’officiel Brasil, nos ajudam a compreender as tendências do passado, o momento do presente e o que esperar para o futuro.
Ao falar em indústria, alguns pensamentos vêm à mente, um deles é poluição. E de fato, por aqui não poderia ser diferente. De acordo com a BBC Brasil, o setor que mais polui depois do petróleo é o têxtil. Essa poluição exacerbada já vem sendo discutida há tempos, devido ao impacto ambiental. Para Paula, a pandemia acelerou processos que já estavam em andamento: “Os eventos sobre tendências de mercado de luxo já colocavam a preocupação com a sustentabilidade em primeiro lugar, assim como uma maior participação das empresas no bem-estar social, através da inclusão”.
Uma parcela da população mundial teve que encarar uma nova realidade ao longo do ano: o home office. Sobre as roupas utilizadas em casa ao longo da quarentena, o salto alto, por exemplo, foi deixado de lado pela busca do conforto. O loungewear (mais conhecido como roupa de ficar em casa) tomou espaço nesse momento de reclusão. Lays traz a reflexão sobre peças confortáveis e de boa duração na flexibilização de certos padrões, como o vestuário de advogada: “Talvez a alfaiataria venha em tecidos mais leves como o linho”.
O consumo de moda feito ao longo da pandemia foi, na maioria das vezes, online. Vimos a ascensão de um mercado e o comportamento da população em relação a ele, mas esse mercado continuará crescendo? Como ele vai influenciar no presencial? Silvana explica: “Foi a maior aceleração registrada desde o início do levantamento, em 2015. As marcas precisam cada vez mais investir no digital e isso não significa apenas montar um e-commerce. A presença online vai muito além na ação de fidelizar o cliente”.
Uma coisa que pudemos notar nas redes sociais foi um boom nas tendências dos anos 1990 e 2000: calça cargo, cintura baixa, cabelo descolorido, regatas, tops faixa e muito mais. Para Holzmeister, a volta dessas trends é justificada pelos períodos de recessão que foram enfrentados durante esses tempos, os quais a pandemia remete. Já Roschel indica quem é a trendsetter do momento: “É engraçado ver o revival de cores gritantes e estética que bombava nos tempos áureos da MTV ganhar a cena novamente, como com a cantora Dua Lipa. Ela tem bem esse perfil”.
“Antes da pandemia eu adorava brincar de prever o futuro, já hoje em dia eu não consigo nem fazer planos pra semana que vem. Então espero mais isso mesmo [da geração Z], uma noção global e uma transparência dos processos criativos, de produção, de distribuição etc”, diz a editora-chefe (digital) da L’officiel. Na opinião dela, os adolescentes que vivem a crise do coronavírus terão uma noção maior de espaço, de que não estão sozinhos e que suas ações repercutem no futuro. Ela diz que os millenials cresceram em um mundo muito confortável, em uma espécie de comodidade com o amanhã.
Estamos acostumados com a exuberância e elegância do Alta Costura. Nesse momento, a arte teve que prevalecer e os designers foram obrigados a se reinventar. Mas como o mercado de luxo irá prosseguir pós 2020? Silvana aposta no formato híbrido, presencial e virtual. E Lays ressalta a importância da originalidade, além de storytelling em coleções e desfile para uma experiência mais completa e exclusiva.
Paula finaliza com o que os desfiles são para ela e seus reflexos: “Eu comparo um desfile de moda com um show. Assistir uma apresentação da Burberry, em Londres, com todos os sons e acontecimentos sensacionais que ocorrem só ali, na frente dos olhos, é uma experiência única. Claro que as pessoas vão poder ver o desfile ao vivo, por plataformas digitais, mas o presencial ainda se faz necessário para o mercado de moda focado no luxo. Os desfiles serão mais nichados, mas ainda acontecerão, pois fazem parte de uma aura mágica da moda”.
Excelente matéria! A reflexão sobre a moda de hoje e o pós 2020 é propícia e relevante. A roupa é e sempre foi, uma expressão político-econômica, social e cultural da humanidade. Mas é também uma expressão do contexto ambiental e emocional do momento que vivemos. Que venha o conforto, a sustentabilidade, o socialmente justo e a beleza da pós 2020. Parabéns Ana Luiza. Show!!!!
Como sempre você procura temas muito interessantes para escrever. Como eu vivo alheia ao que acontece no mundo da moda atual, fiquei atualizada. Continue firme naquilo que você almeja para seu futuro, que é ser jornalista. Parabéns minha linda!