A Sensibilidade Musical de Vitor Fadul

Após trilhar um longo caminho “PANAPANÁ” representa uma Jornada Musical e Pessoal do cantor

Utilizando um termo de origem tupi, “Panapaná” é usado para descrever um grupo de borboletas que realizam migrações em épocas específicas, criando grandes enxames no céu. E assim como as borboletas, o mais novo álbum de Vitor Fadul representa suas transformações como cantor, transmitindo sensações, ao mesmo tempo em que nos transporta para dentro dos sentimentos do próprio cantor. “Eu sou uma dessas borboletas em meio a outras vidas transformadas”, afirma Vitor.

O álbum contextualiza um pouco da experiência sonora que foi adquirida ao longo dos anos. Além de toda sua trajetória como ator, Vitor teve constantemente que aprimorar suas habilidades musicais para que conseguisse atingir uma “maturidade” como cantor.

O autismo desempenhou também um papel fundamental na identidade de Vitor, sendo uma característica que ele abordou com determinação incansável, buscando superação e compreensão. Esse desafio também o capacitou a adotar uma perspectiva única em relação ao mundo.

Essa junção de experiências e transformações culminaram no lançamento de “PANAPANÁ”, em 25 de agosto de 2023, contando com 6 músicas que se entrelaçam muito bem. O álbum inicia de forma mais intimista; a faixa “Freshness” causa uma certa dissonância cognitiva, e de forma simples e competente, o ritmo dançante disfarça a letra que enfatiza as dificuldades que podem surgir na carreira artística. “Eu cuidei da minha vida e você não tem nem saída”.

Foto e Reprodução: Divulgação / Acervo de fotos de Vitor Fadul

Essa mensagem está ligada do começo ao fim; na última faixa, “Fogo Infinito”, Vitor mais uma vez enfatiza essas transformações. “Não importa se um dia eu chorei, o que importa é em quem eu me tornei”. Confira na íntegra a entrevista concedida ao Portal WHIZ para saber mais sobre todo esse processo de criação de “PANAPANÁ”.

WHIZ: Como surgiu a ideia para a criação de ”PANAPANÁ”? Pode contar um pouco sobre a inspiração por trás desse projeto e qual é a mensagem central que você deseja transmitir com ele?

Vitor: PANAPANÁ trata-se de um álbum com 9 músicas, sendo que 7 dessas músicas são singles. A sétima tem o mesmo nome do álbum e será lançada em dezembro, com a segunda parte. A ideia de criação do álbum PANAPANÁ surgiu há mais de dez anos, com a vontade de transmitir a mensagem sobre o processo de evolução da nossa vida, de como ela é construída e transformada, de como a vida se desdobra em etapas. As letras, os movimentos, as cores, a filosofia e a semiótica do álbum trabalham nesse sentido, mostrando que a vida é uma constante e inevitável transformação a partir da nossa força interna e pela própria força biológica da natureza.

WHIZ: Além do significado original, a escolha da palavra “PANAPANÁ” remete a algum significado da sua trajetória como cantor?

Vitor: Sim, PANAPANÁ significa “Coletivo de Borboletas”. Eu sou uma dessas borboletas em meio a outras vidas transformadas, em meio à humanidade. Eu me transformei pela música, através da arte, e quero encantar outros para essa transformação. A música desempenha esse papel, nos tocando profundamente e abrindo caminhos de percepção.

WHIZ: Como foi o processo de criação deste álbum, e quais foram os desafios e os momentos mais gratificantes durante o processo de produção?

Vitor: Criei o álbum de maneira que ele mostrasse ao final, quando pronto, uma ideia de construção, transformação, através do percurso de lançamento dele. Então, decidi não falar que se tratava de um álbum desde o início. Não poderia ser anunciado antes, porque a construção ainda não tinha sido concluída. Durante o processo de produção, ninguém percebeu que se tratava de um álbum, porque quando a história está acontecendo, não temos percepção de que uma história está sendo escrita. Quando a história ocorre, podemos olhar para trás e perceber: “minha nossa, essa é a minha história”. Por isso, as 7 primeiras músicas são singles, assim como o mundo foi criado em 7 dias.

WHIZ: À medida que os artistas evoluem, seus estilos musicais também podem mudar. Contando com seis singles lançados, em seu mais recente trabalho, como você equilibrou a necessidade de inovar e experimentar com a manutenção de uma identidade musical consistente que seus fãs reconheçam?

Foto e Reprodução: Divulgação / Acervo de fotos de Vitor Fadul

Vitor: Assim como a vida nos apresenta novas experiências e perspectivas, a arte também evolui. A cada novo single que lanço, considero isso como um capítulo da história. Para mim, inovação e identidade musical consistente não são mutuamente exclusivas; são como duas cores que se misturam para criar uma paleta única. É como se eu fosse um pintor, e minha música fosse minha tela em branco. Às vezes, posso adicionar novas pinceladas, explorar novos ritmos e gêneros, enquanto outras vezes tenho a liberdade de aprimorar as cores que já estão lá, mantendo o coração da minha música. Meus fãs, os vitoriosos, são como minha bússola. Eles me inspiram a evoluir e me desafiam a ser autêntico. Escuto o que eles têm a dizer e sinto o que eles sentem. Se algo ressoa com eles, sei que estou no caminho certo. Portanto, a inovação é uma extensão natural da minha jornada musical. É como uma busca constante para me superar, experimentar novas formas de expressão, mas nunca perdendo de vista a essência que torna a minha música minha assinatura. Quero que meus fãs ouçam uma música minha e digam: “eu sinto essa energia mágica!”. Em resumo, equilibrar a inovação com uma identidade musical consistente é como um jogo de equilíbrio artístico. É como dançar na corda bamba da criatividade, e espero que meus fãs continuem a apreciar essa jornada musical que compartilhamos juntos.

WHIZ: Muitas vezes, a música tem o poder de conectar as pessoas em um nível emocional profundo. Em entrevista ao G1, você diz que ‘Lugar de autista é onde ele quiser’. Como você acha que sua jornada pessoal com o diagnóstico tardio do TEA e toda sua vivência e sentimentos podem ter refletido na elaboração de seu novo álbum?

Vitor: Quando recebi o diagnóstico, foi como descobrir uma nova camada de mim mesmo, algo que estava sempre lá, mas eu ainda não tinha compreendido completamente. A frase “Lugar de autista é onde ele quiser”, que mencionei, reflete meu compromisso em quebrar estereótipos e promover a inclusão através das minhas lutas. Ao longo da minha jornada, percebi que a música é uma linguagem universal que pode transcender barreiras, e isso se tornou o tema central do meu álbum. Minhas experiências pessoais com o TEA me permitiram explorar emoções e perspectivas de uma maneira intensa e profunda, porque sinto assim. No álbum, visei transmitir essa jornada de autodescoberta e aceitação, não apenas como uma celebração da diversidade, mas também como uma mensagem de que todos nós, independentemente das nossas diferenças, merecemos um lugar no mundo, não é mesmo? Afinal, estamos aqui. A música se tornou minha ferramenta para expressar a complexidade das minhas experiências e também as experiências de tantos outros que vivem com o TEA. Espero que meu álbum não apenas ressoe com aqueles que compartilham experiências semelhantes, mas também inspire uma compreensão mais profunda e empática em todos os ouvintes. A música pode ser uma ponte para a compreensão consigo mesmo, e isso é algo que espero que as pessoas possam sentir e apreciar ao ouvir PANAPANÁ.

WHIZ: A capa de um álbum muitas vezes é a primeira impressão que os ouvintes têm do projeto e pode ser uma parte crucial da experiência musical. Pode nos contar mais sobre o processo criativo por trás da concepção da capa deste novo álbum?

Foto e Reprodução: Capa do álbum / PANAPANÁ

Vitor: Eu queria que fosse uma representação visual do que o álbum significa para mim. A escolha das borboletas, do fundo rosa e da imagem tridimensional de mim mesmo foi um processo criativo que envolveu etapas de concepção. As borboletas são símbolos de transformação e renovação, e elas desempenham um papel-chave no meu álbum, que fala sobre construção e transformação. Elas representam a ideia de que, mesmo nas fases mais difíceis da vida, há a possibilidade de se transformar e voar para outros lugares e adquirir perspectiva. O fundo rosa foi escolhido para transmitir uma sensação de positividade, alegria e energia. Queria que os ouvintes sentissem uma vibração calorosa e acolhedora ao olhar para a capa, como se estivessem entrando em um mundo onde a música é uma celebração da vida. A imagem tridimensional de mim mesmo no centro da capa é uma forma de me religar diretamente com meus fãs. Queria que eles soubessem que este álbum é uma parte íntima de mim e da minha jornada pessoal, por isso também é da jornada deles. A imagem tridimensional ainda transmite uma sensação de profundidade e camadas, sugerindo que há mais a ser explorado nas músicas do álbum. A capa do álbum PANAPANÁ foi criada para ser uma porta de entrada para a experiência musical em meu mundo. Espero que ela desperte a curiosidade dos ouvintes e os convide a explorar as músicas que estão por vir, enquanto transmite a mensagem central de transformação, positividade e autenticidade que o álbum representa.

WHIZ: Os ouvintes muitas vezes se conectam profundamente com certas músicas. Existem faixas específicas neste álbum que têm um significado especial para você? Se sim, pode compartilhar essa história conosco?

Vitor: Cada música representa uma fase, e todas as fases formam o todo que sou, por isso, cada música é especial para mim. Odisseu, por exemplo, representa minha própria jornada pessoal. O nome Odisseu é uma referência ao personagem mitológico que enfrentou inúmeras adversidades em sua busca para voltar para casa. Fala sobre superação, determinação e resiliência, algo que eu também vivenciei/vivencio em minha vida, numa volta para o meu próprio eu, minha casa interior. FOGO INFINITO é como um hino à paixão e à chama interior que nos impulsiona. Representa a sensação de estar totalmente imerso no fogo que nos dá vida e nos dá força para prosseguirmos, o que é especial para mim como artista. A faixa-título do álbum tem um lugar especial no meu coração. Ela fala sobre celebração e alegria, e é uma ode à diversidade e à individualidade. Essa música é um lembrete constante de que devemos celebrar quem somos, independentemente das nossas diferenças. Cada uma das músicas deste álbum conta uma história única e pessoal para mim, e espero que os ouvintes também encontrem significado nelas. A música tem o poder de nos conectar em um nível emocional profundo, e é por isso que compartilho histórias, a minha vida, por meio da minha música, na esperança de que possam ressoar e tocar o coração de quem as ouve.

WHIZ: Como você acha que este álbum se encaixa no contexto da sua carreira musical até agora? Ele marca alguma evolução significativa?

Vitor: Este álbum é uma espécie de marco na minha jornada. Ele combina elementos de experiências pessoais, autoexpressão e uma mensagem de positividade e celebração. Ao longo da minha carreira, tenho aprendido e crescido como artista, e este álbum é um reflexo dessa evolução. PANAPANÁ também representa uma evolução na minha capacidade de contar histórias por meio da música. As faixas deste álbum têm uma narrativa poética que segue a jornada de transformação, aceitação e celebração. Freshness mostra, por exemplo, que se formos guiados pelo senso comum, podemos nos dar mal. Ressignificar um conceito é mostrar como podemos nos atentar e mudar de rumo, na direção correta.

WHIZ: Saindo um pouco do artista, e falando mais sobre o Vitor. Após o diagnóstico tardio do TEA e sabendo dos estereótipos e desafios sociais: Como você passou a lidar com a responsabilidade de ser um “modelo” a ser seguido por outras pessoas na luta pela conscientização sobre o autismo e a neurodiversidade?

Vitor: Primeiramente, foi um processo de autorreflexão, de encaixe dos acontecimentos. Depois, comecei a compreender o impacto que minha história poderia ter na vida de outras pessoas que também vivem com o autismo. Essa responsabilidade me motivou a abraçar a oportunidade de ser um defensor da neurodiversidade. Passei a compartilhar abertamente minha jornada pessoal, incluindo as lutas e os triunfos, para desafiar estereótipos e disseminar a compreensão sobre o TEA. O apoio dos meus fãs, os vitoriosos, e da comunidade envolvida no TEA foi fundamental nessa jornada. Receber mensagens de pessoas que se sentem inspiradas ou menos sozinhas pela minha história me motivou a continuar.

WHIZ: Por fim, o que você espera que os ouvintes sintam ou experimentem ao ouvir este álbum? Qual mensagem você gostaria que eles levassem consigo após ouvirem suas músicas?

Vitor: Antes de engajar uma mensagem propriamente, quero que se sintam mais felizes, leves e livres enquanto me escutam, dançam e cantam junto. Que cada música seja um motivo emocional que os faça sorrir, vibrar e refletir sobre a vida de uma maneira mais positiva.

 

Foto e Reprodução: Divulgação / Acervo de fotos de Vitor Fadul

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