Afrofuturismo e sua importância identitária
Servindo como uma forma de luta contra a discriminação racial carregando em sua origem as tradições africanas em contextos ficcionais
O Afrofuturismo tem como objetivo propagar a liberdade de expressão, a autoconfiança e o empoderamento do povo negro, utilizando o resgate mitológico das histórias africanas e unindo-as aos princípios da ciência. Com esse conjunto de características, o movimento Afrofuturista se propaga indo além de uma simples estética, sendo a junção de diversos conjuntos ideológicos e sociais.
Em 1994, o Crítico cultural, jornalista e palestrante norte-americano Mark Dery, propôs uma análise do panorama literário dos Estados Unidos entrevistando três artistas e pensadores negros, o escritor Samuel Delany, o escritor e músico Greg Tate e a socióloga Tricia Rose, para discutir sobre o tema. Questionando o motivo da baixa publicação de ficção científica escrita por autores negros.
Dessa conversa, passaram a descrever as criações artísticas de um futuro alternativo voltado aos negros como, afrofuturismo. Embora suas origens estejam na literatura, o movimento se estendeu aos cinemas, às artes visuais, bem como ao campo da música. Porém, mesmo alcançando um espaço amplo dentro da cultura pop, o afrofuturismo vai muito além dos produtos culturais inseridos em suas obras, também, faz com que as pessoas repensem o sistema racial do qual fazem parte. Quando expostos a personagens negros na mídia, os indivíduos pertencentes a comunidade são capazes de questionar o mundo em que vivem, além de se sentirem representados, inspirando outros a assumirem novos patamares, aceitando a própria ascendência.
Esse movimento se distingue não apenas pelo seu tom estético. Existe toda uma questão identitária ligada à cultura africana, e por mais importante que sejam as histórias de heróis como o Pantera Negra, assim como é dito pela escritora de ficção afrofuturista brasileira, Lu-Ain Zaila, é evidente que algumas criações não advém de pessoas negras.
“E aí preciso ser a chata do rolê – Pantera Negra não é afrofuturista -, o filme possui sim uma inspiração futurista negra, pois Afrofuturismo é sobretudo sobre autoria, legado e recursos também. O filme tem coisas e pessoas negras lindas, mas nenhuma delas é dona do dinheiro, dos rumos do filme e podem facilmente serem subistituidas”.
Em entrevista ao portal WHIZ, Zaila comentou ainda que sem a presença de pessoas negras em determinadas posições, de nada adianta dizer que o afrofuturismo está em alta. Pois de nada serve a notoriedade, quando os artistas por trás do desenvolvimento do afrofuturismo não conseguem ampliar o seu público alvo.
“Matérias sobre são sempre legais, mas não afetam as estatísticas. Quantos negros você conhece na área? Sempre resultando entre 3 a 5 nomes, é a resposta real sobre o Brasil”.
Os artistas e pensadores envolvidos no movimento são capazes de imaginar um futuro em que seus ancestrais seriam indeléveis, representando o desenvolvimento humano e fornecendo uma visão de futuro para essas comunidades marginalizadas. Desse modo, os afrofuturistas podem dar esperança às pessoas, trabalhando para proteger seus valores e tradições.
O afrofuturismo tornou-se uma ferramenta fundamental para representação identitária de um povo, as histórias ficcionais conseguem transpor o negro a situações e lugares dos quais nunca estiveram ao seu alcançe, ampliando sua forma de enxergar o mundo, ao mesmo tempo debatendo pautas raciais de extrema importância. Sendo uma nova forma de luta histórica e social, que derruba a barreira racista que impede o conhecimento de chegar.