Cara a cara: Giovanna Nader
Apresentadora do programa “Se Essa Roupa Fosse Minha”, no GNT, Giovanna Nader une sustentabilidade a sua paixão por moda para construir junto com a estilista Ana Paula Xongani e a figurinista Marina Franco um programa que busca fomentar o consumo consciente.
Consultora de moda sustentável, Nader também é fundadora do “Projeto Gaveta”, junto com Raquel Vittilino, e conta como, desde 2013, a ideia do projeto vai além da simples troca de roupa. Dona de um Instagram com 74 mil seguidores, ela nos conta um pouco mais como tudo começou e o momento que vive.
“Minha paixão pela moda sempre existiu, sempre gostei de brincar com meu próprio guarda roupa, inventar a roupa, mas sempre me vi como consumidora. Nunca pensei em trabalhar com isso, até porque eu não conseguia acompanhar tendência. O lado de mercado surgiu quando fui fazer uma pós-graduação em Barcelona e meu trabalho de conclusão era sobre o maior grupo de moda no mundo, no qual a Zara faz parte. Eu estudei a fundo, entrou para o meu currículo e comecei a trabalhar com isso”, foi assim que Giovanna descreveu como a moda entrou em sua vida.
Na televisão, Giovanna leva o que aprendeu com o tempo para uma plataforma diferente do que estava acostumada. “É uma oportunidade incrível, porque levo um conhecimento que muitas vezes é muito ‘nichado’. As pessoas são muito escravas da moda, elas sentem que precisam comprar roupa. Há um tempo já falo sobre a roupa de brechó, mas para um público específico que me seguia e estava mais próximo desse assunto de alguma maneira. O programa me trouxe a oportunidade de falar com um público muito maior e muito mais diverso, e que tinha um preconceito com a roupa usada. Essa oportunidade que a televisão dá de falar com o diferente é uma ideia de adaptação do discurso, com pessoas que têm acesso a isso pela primeira vez. Foi muito interessante dialogar com eles e a receptividade foi muito bacana. Espero que o programa ajude a difundir esse mercado em várias partes do Brasil”, diz.
Para ela, as pessoas têm aderido cada vez mais a ideia de consumo consciente, tópico que também faz parte do “Se Essa Roupa Fosse Minha”. “Elas aderem principalmente por uma questão de necessidade. Necessidade financeira, de crise que a gente vive em que é encontrar meios e alternativas para você fazer em casa. E por uma questão de crise ambiental que vivemos. Todo mundo tem que entender qual o seu papel ali e como fazer parte disso. A gente se sente tão pequeno perto desse colapso que esta por vir, mas esse colapso só acontece pela maneira que consumimos e pela maneira como produzimos. É saber que você está passando essa missão para frente de alguma maneira. Ou você consome nas práticas antigas ou faz parte dessa mudança”, explica.
Nader levanta a questão do empoderamento feminino com o programa, e ainda deixa claro que quem dita a moda é você e que não precisamos copiar ninguém para nos sentirmos bem. “A moda passou muitos anos oprimindo muita gente que não estava naquele padrão estético de magro e alto e muitas pessoas se viram as margens e achando que a moda não era para elas. Justamente porque as campanhas e revistas não comunicavam uma moda inclusiva. Para estar em uma moda sua não precisa estar dentro de um padrão estético. Se a marca não produz peças para o seu tipo de corpo, adeus. Nós consumidoras temos cada vez mais ficamos como escravas, agora vimos que estamos acima, a gente que dita a moda. Se aquela marca ou produto não tem meu tamanho, eu não vou usar e não vou dar visibilidade para a marca. Eu posso encontrar minha própria peça ou alterar uma que já tenho. Isso não só é empoderador, como também libertador. Essa é uma mensagem que queremos passar também, encontrar sua própria moda e estilo dentro desse mercado vasto de tantas opções”.
“O ‘Projeto Gaveta’ surgiu muito de uma necessidade minha e da minha sócia, como consumidoras mesmo. Tínhamos peças paradas no armário, assim como todas as minhas amigas. Então gente se reunia para trocá-las. Começou em 2013 com a ideia de ‘vamos trocar roupas entre amigas’, mas já na primeira edição a gente falou, ‘vamos trocar roupa com todo mundo que quiser’. Hoje, é um movimento por uma moda mais libertária, mais representativa. No evento, fazemos questão de ser físico, porque celebra essa questão de estar viva. A missão do Gaveta não é só trocar mas falar dessa moda que muitas vezes está esquecida nessa realidade capitalista e frenética que vivemos, ele é o resgate de uma moda viva e singular. O Gaveta surgiu de repente, de uma necessidade nossa, que chegou onde jamais acreditamos que poderia chegar”, conta sobre o evento que recolhe 8000 peças por edição.
Ela comenta sobre uma edição diferente do projeto, o Gaveta Na Rua. “A ideia do projeto é mostrar que a gente não tem particularidades, a missão dele e cada vez mais trabalhar as singularidades das peças, independente se e troca ou doação. Viemos de uma onda com guarda roupas abarrotados, em que todo mundo tem roupa demais e tem muita gente precisando de roupa, ‘vamos colocar essa peça para circular’. O Gaveta na rua veio para afirmar ainda mais a identidade do projeto, onde podemos chegar e atingir mais pessoas. Essas a muitas vezes em situação de vulnerabilidade, que não são percebidos na nossa rotina. Passamos por elas, mas não necessariamente enxergamos elas como parte da nossa sociedade. Hoje eles estão na rua, mas já tiveram uma casa, uma identidade. Estamos ali para dar atenção, uma conversa. Uma troca nossa com eles, somos parte da mesma sociedade”, acrescenta.
“O Gaveta acontece entre uma pessoa que já tem roupa, e quer uma nova, porém sem gastar dinheiro, o que é legal, já entendemos isso. Agora é mostrar que aquelas roupas que você tem parada podem fazer pessoas felizes em um gesto tão pequeno. O que queremos é cada vez mais, principalmente falando de Brasil, onde temos uma desigualdade tão grande e um governo que contribui cada vez mais para isso, é fazer com que essa desigualdade acabe”, completa.
A apresentadora também argumenta se ela se encaixa ou não ao universo das influenciadoras digitais. “Tive um preconceito por um bom tempo com isso, porque eu acho que a influenciadoras viralizaram muita essa ideia no Instagram de mostrar sua vida e sempre repletas de ‘publis’. Confesso que fui muito resistente quanto a isso. Mas quando eu percebi que minha influência poderia ser para o bem, para passar uma nova visão de mundo eu falei ‘então vamos nessa, estou no caminho certo’. É muito gratificante receber o carinho de muitas pessoas que enxergam o mundo de outra maneira por meio disso e passam para frente sua mensagem”.
“Foi muito de uma necessidade minha de colocar para fora tudo que via e todo meu conhecimento. Eu via o Gaveta crescer, via aquele modelo de negócio e o movimento de brechós cada vez mais acontecendo, mas não via isso na minha rede. Estou evoluindo cada vez mais nesse processo de influenciadora e nesse processo de produtora de conteúdo. Vejo hoje como uma missão. Ser influenciadora é ter poder e responsabilidades muitos grandes, então coloco conteúdos relevantes na internet de maneira consciente”, conta.
Para finalizar, Giovanna Nader explica seu real foco hoje nos conteúdos publicados em suas redes sociais. “O foco era moda sustentável, é algo que amo, trabalho com ela, tenho o projeto gaveta e falo sobre a importância dos brechós. Mas adaptei, porque a gente precisa acordar e ver que problemas, como o aquecimento global, já são uma realidade, por exemplo. Cada vez estou indo mais para esse caminho de exaltar a importância da natureza e salvar os recursos naturais. É isso que faço nas redes sociais, mostrar modelos de negócios e modelos de se viver nesse planeta maluco. Hoje estamos adoecendo, seja pela tecnologia ou consumo ilimitado. O que se puder fazer para trazer essa consciência, a gente está fazendo”.
Foto: Guilherme Nabhan