Cara a Cara: Liz de Sá

A criadora de conteúdo explora os mais diversos sabores e aproxima o público do mundo gastronômico de forma acessível e divertida em suas redes.

Com uma trajetória orgânica, Liz de Sá, também conhecida como “Rainha das frutas” – seu apelido na internet – é publicitária de formação e desbravadora de sabores por natureza. Liz é criadora digital desde de 2020, e faz sucesso nas redes com vídeos divertidos onde seu paladar apurado ganhou destaque. Seu conteúdo é voltado para suas experiências alimentares, onde descobre novas combinações, compartilha curiosidades sobre comidas e um pouco de sua rotina.

Confira nosso bate-papo com a Liz sobre o mundo digital, sua trajetória e seus planos, com direito a uma receita especialmente compartilhada para o público da WHIZ

WHIZ: Como começou sua trajetória na internet? Sabemos que você cursou publicidade na faculdade, você imaginava criar conteúdo?

Liz: Sim, eu fiz publicidade na faculdade (…) e aí eu comecei a trabalhar em uma empresa onde eu escrevia roteiros, fazia cenários e vídeos extremamente elaborados e eu amava gravar. E aí, como eu fui crescendo, eu não vi isso como uma coisa que eu pudesse trabalhar. Quando eu ”tava” mais adulta, as minhas redes sociais eram bem low profile. Eu era aquela pessoa que postava uma foto a cada seis meses ou até mais, sabe? Quando eu comecei mesmo a postar as coisas no meu Instagram, tipo, profissionalizar, eu já tinha uns 80 mil seguidores. Então eu falei “não, acho que eu estou desperdiçando uma oportunidade”. Mas eu poderia ter previsto isso, como eu gostava de fazer vídeo… Mas às vezes a gente se perde com aquilo que a gente gosta. A gente acha que não pode se tornar uma profissão ou acha que a gente não vai ganhar dinheiro com aquilo, sabe?

WHIZ: E sua profissão hoje em dia tem muito a ver com comida, que é uma das coisas que você mais gosta, né?

Liz: Sim. Eu falo que se eu soubesse que dava pra trabalhar comendo, eu nunca iria ter dúvida. Desde criança eu falava que ia trabalhar comendo, mas eu não sabia que existia essa profissão.

WHIZ: Como você fez publicidade, uma hora você estava de um lado (como trabalhadora) e agora você está no centro disso. Como é que foi para você se perceber uma pessoa pública?

Liz: Eu nunca trabalhei diretamente com essa parte. Eu trabalhei na parte de programação, que muita gente confunde achando que eu trabalhava com TI, mas na verdade eu fazia a programação do TI (…) E aí eu trabalhava com a forma de publicação, então isso me ajudou bastante, porque quando eu comecei a ser minha própria empresa, eu já sabia ter, de repente, horários melhores para postar, eu já sabia usar plataformas para programar post, eu já tinha algumas técnicas de escrever legenda… E eu acabei usando isso para o meu trabalho. Agora, quando eu me percebi uma pessoa pública, cara, eu acho que é engraçado. Assim, a ficha cai aos poucos. Eu lembro a primeira vez que eu fui reconhecida, eu tava saindo de um karaokê na Liberdade, sei lá, três horas da manhã. E aí me falaram assim “meu Deus, é a Liz pede bis” e tal, e eu falei, “gente, como assim as pessoas sabem quem eu sou?” Foi muito engraçado, sabe? Mas eu acho que nem isso é suficiente, acho que a ficha de verdade nunca cai. A gente fecha um job muito grande, a gente é reconhecido pra caramba na rua, as pessoas admiram nosso trabalho, mas a gente continua sendo a gente, então, meio que a ficha não cai de uma certa forma, sabe? Não sei explicar.

WHIZ: Você tem uma comunidade, as pessoas te acompanham e sabem da sua rotina e seus hábitos, como é para você essa parte?

Liz: Nossa, com certeza, eu tenho seguidores muito fiéis mesmo. Seguidores que vêm de muito tempo, que sabem muito meus gostos e assim, quando os meus vídeos ficam dentro da minha base, meus seguidores, eu não tenho hater. Não tem um hater. É que às vezes o vídeo viraliza e aí vem as pessoas de fora e os haters começam a vir. Eu não sou uma pessoa que tem muitos haters porque… Eu falo de comida, né? Comida não é uma coisa muito polêmica, para as pessoas terem ódio, então eu não tenho muitos haters, mas… Os meus seguidores, eu vejo mesmo que tem muito carinho por mim (…) Às vezes, eles (seguidores) reparam umas coisas que eu falo… “gente, mas eu já falei isso?” E eles sabem mesmo! Tipo, minha flor preferida, o lugar que eu gosto de ir, a minha comida, tudo! Eu gosto sempre de Coca-Cola com muito gelo, e aí, até eles (seguidores) comentam: “mas tem que ter bastante gelo, né, Liz?”.

WHIZ: Como é para você trabalhar com uma coisa que você gosta tanto?

Liz: Cara, eu gosto muito de falar sobre isso. Eu não poderia imaginar um trabalho que eu pudesse gostar mais do que o meu. Eu amo gravar vídeo e eu amo comer. Comer é a coisa que eu mais amo de todas. Gravar vídeo eu gosto muito também, mas às vezes, a gente tem uma falsa ilusão de que, se a gente trabalhar com uma coisa que a gente gosta muito, não vai ser um trabalho, vai ser uma grande diversão, e isso não é verdade. Trabalho é sempre trabalho, se eu vou, por exemplo, gravar num restaurante, não é igual eu ir num restaurante comer, não é lazer. Então eu tenho compromissos, eu tenho horários, eu tenho coisas que eu não gosto tanto de fazer e eu preciso fazer, então é o trabalho, se a gente acreditar nisso de que se a gente trabalhar com o que gosta não vai ter parte ruim, você já vai quebrar a cara. É o melhor trabalho que eu poderia imaginar, mas ele ainda é um trabalho, ele ainda vai ter compromisso, ele ainda vai ter insegurança, responsabilidade, sabe? Mas é incrível você ser remunerado por aquilo que você sente prazer em fazer, é muito incrível.

WHIZ: E como é separar o seu trabalho do seu lazer, sendo, no seu caso, muito tênue?

Liz: Eu acho que é difícil mesmo. Assim, tem momentos onde eu estou fazendo um vídeo e é focado para aquele vídeo, então eu tenho roteiro, eu tenho pessoas que estão trabalhando comigo, eu tenho metas, nesse momento eu consigo separar bem. Porém, existem pessoas que são criadoras de conteúdo, como eu ( e o que eu gostaria de ser mais) mas que isso atualmente já não dá para sustentar tanto, que cria conteúdos e não necessariamente precisa compartilhar a vida dela, mas isso não dá o mesmo número de seguidores, engajamento e coisas de uma pessoa que compartilha a vida toda. Todo mundo gosta de ver a vida das pessoas, eu adoro ver a vida das pessoas que eu sigo, mas não gosto tanto de compartilhar a minha (…) Ainda tenho muita dificuldade, e eu acho que é aí que a linha fica tão tênue. Essa coisa da influenciadora de lifestyle, que fica mostrando absolutamente tudo que ela ta fazendo, eu sou uma grande consumidora desse tipo de conteúdo, mas eu tenho dificuldade de ser (criadora de lifestyle) e eu acho que se eu fosse mais, talvez hoje eu tivesse alcançado mais coisas, sabe?

WHIZ: Estilo também é um nicho que você gosta de criar conteúdo, né?

Liz: Gosto, eu gosto muito. Eu sempre gostei de me vestir com roupas que eu gosto, de pensar no look. Só que comida é muito mais forte, comida eu gosto muito mais, então acaba sendo algo predominante, e apesar de eu gostar muito de me vestir, estilo é um ambiente que eu não me sinto segura para falar. De comida as coisas que eu to falando ali eu entendo. Eu já me aventurei a fazer vídeos dessas coisas (sobre estilo), mas como é um lugar que eu não domino eu já fico “ai meu deus”. Mas também eu não to ali para ser especialista de nada, tô mais pra falar o que eu faço. Depois que eu consegui ver isso eu fiquei mais segura (…), por exemplo, mesmo em um vídeo que me convidaram pra fazer sobre os meus 10 tênis preferidos, para uma página de tênis, eu recebi muito hate. Sempre que a gente tá inseguro um hate machuca, quando a gente tá seguro a gente não tá nem aí, então, num primeiro momento eu pensei “ai meu deus eu falei besteira” depois eu pensei “mas é a minha lista!”. O hater só pega a gente quando a gente tá inseguro. Gosto muito de falar de tênis, e falo do meu jeito, não sou especialista e quem gostar da maneira que eu falo vai assistir e pronto.

WHIZ: Tem outro nicho que você gostaria de explorar? Como, por exemplo, a batalha do Tucuruvi?

Liz: A gente (equipe da batalha) faz parte de hectares da prefeitura, então tem coisas que a gente precisa entregar, a batalha acontece toda quinta-feira. É um outro nicho, mas é um nicho que os meus seguidores não aceitam muito bem, eles não gostam muito não. Mas sou eu mesma no Instagram, vou continuar postando as coisas que eu quero e pronto; Mas não é uma coisa que faz muito sucesso quando eu posto não. Eu gosto desse conteúdo sobre casa, de decoração. Talvez eu gostasse de focar mais nesse lado.

WHIZ: O que você mais gosta e o que menos gosta sendo criadora de conteúdo?

Liz: Então, poder viver de estar comendo coisas que eu nunca comi, e provando coisas diferentes, indo em restaurante, eu acho que isso é uma das coisas que eu mais gosto. Eu gosto muito também do processo de criação, pensar nas coisas que eu quero falar e ter ideias para novos conteúdos. Eu gosto muito das experiências que a vida de influenciadora já me proporcionou, viagens, conhecimentos e tal.
Já o que eu não gosto é que cada vez mais a gente tem menos espaço para criar. O conteúdo da internet tem se tornado mais do mesmo, se você não segue uma trend, se você não faz um vídeo igual de todo mundo, se você não usa a mesma música que todo mundo, teu vídeo não viraliza mais, e tá se tornando um lugar chato de criar conteúdo, porque se você não faz mais do mesmo, ninguém assiste. E isso é muito irritante, porque às vezes a gente tá cheio de ideias novas, criativas, mas não vira. Às vezes eu faço um negócio super elaborado e lindo, que eu tive uma grande ideia, que eu tô passando uma mensagem incrível e ninguém vê, aí eu faço um vídeo de 4 segundos – não criticando o vídeo que eu fiz, porque é engraçado, eu também gosto de conteúdos leves – mas aí eu faço uma trend lá do TikTok e bate 4 milhões de visualizações, agora o negócio que eu tô contando uma técnica de degustação incrível, ninguém assiste, isso é muito chato. Ter que sempre criar o seu conteúdo limitado a uma trend, ao mais do mesmo, isso é uma coisa que me incomoda bastante, é uma cobrança que eu sinto todos os dias, assim. Esse negócio de visualizações, ainda me pega muito. Eu sinto que tem algumas influenciadoras que já desapegaram disso, mas não é o meu caso. Quando o vídeo não vai bem, eu já fico questionando “ai meu Deus! Será que minha carreira vai acabar?”, eu fico meio abalada, sabe? E outra coisa que é um pouco ruim: como influenciadora, você tem que ser muito responsável financeiramente, porque às vezes você pode ganhar muito, às vezes você pode não ganhar nada; e se você se emocionar um dia, quando ganhar muito, e gastar todo o seu dinheiro, pode ser que no outro mês você não ganhe nada e você não tenha dinheiro. Então você tem que ter uma responsabilidade financeira legal, porque é um lugar de altos e baixos, você ganha muito dinheiro, depois você não ganha nada, então você não pode se emocionar, você tem que viver a vida ali, guardando. Essa é a minha experiência.

WHIZ: Para você, é uma dificuldade não ter rotina?

Liz: Assim, agora que já faz quatro anos, eu já tenho conseguido me adaptar mais. Eu gosto mesmo de rotina e eu faço uma rotina para mim. Então uma coisa que me ajudou muito foi ter um dia fixo, que a minha equipe vem aqui para a minha casa, independente se eu tenho coisa para gravar ou não, eles vêm (em casa )e aí a gente tem ideias, a gente cria vídeos, é um dia que é totalmente reservado. Isso me ajuda, porque essa coisa de não ter rotina, às vezes o tempo vai passando e você vai deixando meio de lado, sabe? Então, criar um dia que eu sou obrigada a sentar e só focar nisso foi muito bom para mim, foi uma mudança que fez diferença, no meu trabalho, sabe?… É porque eu sou uma pessoa regrada, mas se você deixar se levar por essa rotina, você vai cada vez dormir mais tarde, acordar mais tarde, e aí você desregula tudo. Então você tem que ter atividade física, você tem que sair de casa, ver o sol. Parece que “nossa Liz você tá falando o óbvio”, mas hoje em dia o óbvio precisa ser falado. A gente precisa sair na rua, a gente precisa pegar sol, a gente precisa fazer atividade física, a gente precisa dormir em horários saudáveis, porque senão a saúde mental adoece. Isso é muito importante ser falado hoje em dia, mas é muito gostoso ter, né? Porque às vezes, umas gerações aí que vieram de um CLT extremamente rígido, é gostoso você poder, tipo, acordar um dia mais tarde, marcar uma academia ali, três horas da tarde…eu acho que isso faz a gente mais feliz, mais produtivo; a gente só não pode se perder e não cuidar da gente também, sabe?

WHIZ: E como é a sensação de trabalhar com uma coisa que além de gostar, tem essa liberdade?

Liz: É muito legal. Eu acho que é o melhor dos mundos, porém é isso, você tem que ser focado. Eu, às vezes, sinto que poderia ser mais focada, porque eu trabalho com o que eu gosto, com uma carga horária que eu quero e às vezes acabo deixando meio de lado. Então eu acho que você tem que ser focado. Se você for uma pessoa comprometida e focada, você vai ter o melhor dos mundos, porque vai ter as coisas no seu tempo, da maneira que você gosta, isso é incrível. Mas aí você fala assim, “ah, você pode dormir à tarde? Ah, eu vou dormir à tarde”, aí não grava um vídeo, entendeu? Então você tem que ser focado e comprometido, mas se você for, vai ser incrível, porque você vai ter uma estabilidade ali; um descanso gostoso, uma vida gostosa.
WHIZ: E você tem algum projeto futuro?
Liz: Cara, tem uma coisa muito legal que eu estou planejando. É que eu ainda estou vendo como eu vou tornar viável, mas já aviso que vai ter participação dos meus seguidores (…) nossa, vai ser legal, se der certo essa ideia, vai ser muito legal.

WHIZ: E qual conselho você daria para o pessoal que está começando a faculdade ou até no meio de carreira?

Liz: Acho que é meio clichê o que eu vou falar, mas às vezes é ter calma, sabe? Porque eu, quando eu tava na faculdade, eu tava muito desesperada.Eu ficava pensando “meu Deus, eu nunca vou ter um emprego bom, e eu nunca vou arranjar emprego e ninguém nunca vai me aceitar”, e aí eu fazia aquelas entrevistas, não passava (…) e aí, quando eu menos esperava, eu passei na entrevista de uma empresa que eu achava muito daora e depois, dentro dessa empresa, eu me tornei o que eu sou hoje.Então vai dar tudo certo. Assim, também não fica parado esperando as coisas acontecerem, mas também não precisa se desesperar. Eu me sentia muito mais velha (na faculdade), “eu já sou muito adulta, como que eu ainda não moro sozinha? Eu ainda não tenho dinheiro pra me bancar” eu ficava muito nessa, mas calma, você não é tão adulto quanto você acha que você é, as coisas vão se encaminhar. Trabalha, arranja um estágio ali que, mesmo que não pague tão bem agora, você vai criando uma experiência, vai focando naquilo que você gosta de fazer, acho que é um meio clichê mas no fundo é isso mesmo.

WHIZ: Agora para finalizar, três dicas para compartilhar com o pessoal. Primeiramente, um filme?

Liz: Um filme… eu sou muito fã de filmes da Disney, então pode ser “Mulan”, o desenho é o meu filme preferido. Porém, “Mulan” eu acho que muita gente já assistiu… eu vou deixar duas dicas. O outro é um filme, que é de desenho também, que chama “As Bicicletas de Belleville” e é muito legal esse filme, é muito divertido, eu vou deixar ele também.

WHIZ: Uma música?

Liz: Eu vou recomendar Crioulo, Cartão de visita.

WHIZ: E uma receita?

Liz: É uma receita minha, que eu faço quando eu tô com preguiça. É assim: você vai pegar alho-poró e vai refogar ele na panela bem quente, até o alho-poró ficar meio queimadinho, com um pouco de alho também. Tomatinho cereja picado na metade. Aí você espera, vai ficar bem na frigideira. Então você vai jogar o macarrão da sua preferência, [eu nunca fiz com massa longa, eu faço com massa curta]. Você vai jogar o macarrão da sua preferência, com um pouquinho da água do cozimento, e vai dar uma emulsionada ali, nesse tomatinho com alho-poró.Taca uma “colherada” de requeijão e bastante pimenta tabasco e é isso. Fica show de bola, e é bem de preguiçoso, e fica muito gostoso.

Foto: Instagram (@liz_desa)

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