Crônica: Música que varre tristezas
Foto: Raquel Kie Oshio
Ao andar por São Paulo, com frequência encontramos os chamados artistas de rua. Dentre eles, uma voz se sobressai. É a canção de Oswaldo da Silva. Um violão velho, rabiscado com tinta branca, é o seu instrumento de trabalho, ou melhor, de sobrevivência. As profundas rugas e as roupas em desalinho denunciam que os 74 anos do artista não foram dos mais fáceis. Seu lugar de atuação divide-se entre a Av. Paulista e o Largo da Santa Cecília, desde que fugiu de sua casa em Minas Gerais.
“Me chame Vassourinha, é o meu nome artístico”, conta Oswaldo, que a princípio reluta em narrar sua história. “Os policiais e o governo não gostam da gente dando entrevista e falando mal deles”, acrescenta olhando desconfiado para a rua. Estudou somente até à quinta série e adotou a profissão de funileiro, atividade que lhe deu relativa estabilidade e condições para construir uma casa junto com esposa.
Quando, porém, sua vista começou a falhar, foi demitido de seu emprego e sua mulher pediu divórcio. “Um dia eu sai de casa e um homem começou a correr atrás de mim. Depois disso eu vendi tudinho e sai daquela cidade. Isso era coisa da minha mulher que queria me matar pra ficar com a casa e as minhas coisas”, acredita. Vagou por algumas cidades do interior de Minas à procura de um emprego até que decidiu vir para São Paulo.
Dono de uma voz aveludada, Oswaldo tinha o sonho de gravar um disco. Conta que na época que chegou à capital, uma companhia americana estava selecionando alguns músicos para levar aos EUA. “Eu fui até fazer entrevista lá, toquei algumas músicas minhas. Disseram que se eu fosse escolhido eles me chamariam. Eu voltei depois de um tempo pra perguntar se tinham me escolhido. Fiz uma confusão lá”, relembra. Hoje, ainda conserva esse desejo, mas é pessimista. “A minha voz já está fraca. Se eu conseguisse sair da rua, talvez eu melhorasse. Não consigo mais escrever minhas músicas por causa da vista e tô ficando meio surdo”, lamenta.
Hoje, toca na rua para conseguir pagar sua comida e o aluguel de um quarto durante à noite. “Eu não fico de jeito nenhum nos abrigos do governo, porque vai todo tipo de gente lá. Eu sou pessoa do bem, mas lá vai bandido, traficante e fica todo mundo misturado. Eles ficam mexendo com a gente que não é igual a eles”, critica. Oswaldo da Silva ainda espera pelo dia em que poderá ter uma casa sua e voltar a tocar apenas por prazer, mas até lá permanece sentado no chão de concreto à espera da caridade dos transeuntes que caminham na Grande São Paulo.
Muito bom, Raquel! Penso que você está perto de atingir seu objetivo proposto!