Cuidado! Catástrofe à vista
O Brasil é um país privilegiado, não é? Pelo menos é o que dizemos para nossas crianças. Nada de terremotos, furacões ou vulcões. Agora, o que esquecemos de falar, ou deliberadamente ignoramos, é que embora não tenhamos nossa cota de forças naturais destrutivas, temos de sobra forças humanas catastróficas. Não faltam tragédias ambientais – como o recente rompimento da barragem de Brumadinho – para provar isso. Negligência, ganância, ou apenas ignorância, a coleção de motivos se estende por quilômetros, assim como os danos que eles causaram. Confira abaixo uma lista dos considerados maiores desastres ambientais do Brasil.
- Só vazou um pouco de gasolina…
Certamente, 700 mil litros de gasolina vazando por algumas horas, perto de uma comunidade carente chamada Vila Socó em Cubatão (SP), deveria parecer preocupante. Uma falha nos dutos da Petrobrás causou o vazamento, mas o local não foi evacuado. Durante a noite, o pior aconteceu e começou o incêndio que mataria centenas de pessoas da comunidade, grande parte delas, crianças. Era 1984, últimos anos da Ditadura Militar, e o caso foi abafado. Segundo os números oficiais, os mortos eram pouco mais que 90. Investigações recentes dizem que o número real pode ultrapassar 500 mortos.
- Pó brilhante mortal
Esta é uma história conhecida, em parte por ser um dos piores acidentes radioativos do mundo. Aconteceu no ano de 1987, em Goiânia (GO). Uma clínica desativada não fez o descarte correto de seus aparelhos e uma máquina de radioterapia chamou a atenção de dois catadores de lixo. Eles desmontaram o artefato e venderam as peças para o ferro-velho, inclusive a cápsula com o Césio 137. Mas a família que cuidava do ferro-velho se encantou com o material radioativo ao perceber que o pó brilhava intensamente no escuro. Sem saberem o que era, o Césio 137 foi apresentado para várias pessoas e inclusive foi ingerido por uma das crianças da família. Ela morreu pouco tempo depois, junto com outras três pessoas, devido os efeitos da radiação. O material contaminou a água, o solo e o ar, além das pessoas, por anos e o lugar precisou de um intenso trabalho de descontaminação.
- Mar Negro brasileiro
Não é segredo que nosso país é um gigante do petróleo. E, infelizmente, cenários de desastres igualmente gigantes envolvendo o “ouro negro”. Um dos primeiros, de grandes proporções, aconteceu no ano 2000. Um dos dutos da Petrobrás rompeu-se e derramou mais de 1 milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara. A mancha negra espalhou-se por 40 km², contaminou os manguezais no entorno e causou a morte da fauna. Até hoje, a atividade pesqueira do lugar não se recuperou. À Petrobrás coube multas e a indenização para os afetados. Uma segunda vez que o Rio de Janeiro sofreu com o derramamento de petróleo, foi em 2011, mas dessa vez a culpada foi a multinacional norte-americana Chevron. Uma perfuração negligente na Bacia de Campos causou o derramamento de mais de 3 mil barris de petróleo. Para piorar, a empresa não seguiu os procedimentos de emergência, o que agravou ainda mais a situação. A mancha chegou a ter 160 km de extensão. As multas que a empresa recebeu somaram R$ 60 milhões e R$ 95 milhões em indenizações.
- Morro abaixo
Enquanto nos desastres anteriores, a mão humana tenha sido o estopim dos acontecimentos, neste aqui, foram as fortes e imprevisíveis chuvas de verão que causaram os danos – aliadas com a construção temerária de casas nas encostas e áreas de risco dos morros do Rio de Janeiro. Deslizamentos, avalanches de lama e inundações tornaram aquelas semanas de 2011 um pesadelo. Os serviços públicos entraram em colapso, faltou luz e telefone em vários lugares. O mais perturbador foi o número de mortos: cerca de 800. Até o cemitério teve problemas com superlotação. Além da construção irregular em áreas de risco, os sistemas de escoamento não eram suficientes e as cidades não estavam preparadas para lidar com essa catástrofe.
- Coincidência mineira
Sabia que além de Brumadinho e Mariana houve outros dois rompimentos de barragem de rejeitos? Ambas também têm Minas Gerais como cenário. Embora não tivessem, nem de longe, o alcance destrutivo das duas tragédias mais recentes, essas ocorrências chamam a atenção para a frequência desses rompimentos. O primeiro aconteceu em 2003, a barragem pertencia à Indústria Cataguases de Papel e os rejeitos eram formados de material orgânico e soda cáustica, que possuía uma cor escura. O rompimento da barragem espalhou cerca de 900 mil metros cúbicos do licor negro. As cidades no entorno tiveram corte de água por dez dias, houve morte de peixes e prejuízos agrícolas, mas felizmente, os rejeitos não eram demasiadamente tóxicos e quase não se vê danos nos dias de hoje.
A segunda ocorrência foi em Miraí, bem mais danosa. A barragem de rejeitos que se rompeu lançou 2 milhões de metros cúbicos de água e argila na cidade, contaminou o rio, destruiu a mata nativa, matou os peixes e desalojou cerca de 2 mil pessoas, além de cortar o fornecimento de água das cidade próximas. O rompimento foi causado pela erosão no solo que o escoamento indevido de água no vertedouro de emergência causou. O local foi quase totalmente recuperado, mas o rio ainda apresenta sinais de assoreamento. A empresa Mineração Rio Pomba Cataguases, dona da barragem, foi desativada pouco tempo depois.
Em 2015, foi quando ocorreu a tragédia de Mariana, considerada o pior desastre ambiental do Brasil. A barragem de Fundão se rompeu e lançou cerca de 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos, compostos principalmente de óxido de ferro e areia. Vários distritos foram afetados, alguns foram quase totalmente soterrados. O número de mortos foi 19, um índice até baixo para um desastre desse tamanho. Mas o pior são os danos à natureza, alguns irreversíveis. Espécies que só existiam ali foram extintas num piscar de olhos. A Samarco, mineradora responsável pela barragem, foi multada e obrigada a pagar indenizações para os moradores, muitos deles ainda estão esperando que isso aconteça.
Por fim, há uma semana atrás, o desastre se repetiu. Estima-se que a barragem de Brumadinho, que pertence à Vale, lançou cerca de 12 milhões de metros cúbicos de lama na região. A área destruída já soma 270 hectares, mas ainda é difícil dizer a extensão dos danos. Mas é certo que a tragédia humana é muito maior que o de Mariana. Há quase uma centena de mortos confirmados e mais de 200 desaparecidos. E qual será nossa resposta desta vez? Vamos esperar que não seja apenas esperar pelo próximo item desta fatídica lista.