Desequilíbrio da mãe natureza
O contexto brasileiro e seus caminhos desfavoráveis para o meio ambiente
Recentemente, o protagonismo da Floresta Amazônica nas discussões ambientais retornou aos holofotes nacionais e internacionais. O motivo? Preocupantes e ininterruptas queimadas por todo o território amazônico. Ativistas, celebridades e políticos se engajaram nas discussões e colocaram em pauta as medidas ambientais brasileiras.
No contexto da internet e das redes sociais como plataforma de denúncia, os acontecimentos da última semana rapidamente tomaram frente das discussões e envolveram desde celebridades até líderes políticos como o Presidente da França, Emmanuel Macron.
O professor Sergio de Moraes Paulo, mestre em Geografia pela Universidade de São Paulo, aponta o cenário ambiental do Brasil como preocupante. “A situação envolve tanto a defesa do equilíbrio natural quanto o respeito aos direitos das populações: indígenas, quilombolas, povos ribeirinhos, população rural e população urbana”, disse.
“Estamos em situação muito pior hoje. Há mais informações como imagens de satélites, mapas, gráficos e recursos de comunicação que permitem que mais pessoas no mundo fiquem indignadas com o desmatamento da Amazônia e que pressionem seus governos a fazerem algo”, completa Sérgio. Dessa forma, as medidas governamentais são expostas a um número maior de pessoas capazes de opinar, reivindicar e se fazerem ouvidas por quem toma as decisões dentro de nosso país.
Historicamente, o país sofreu momentos específicos de devastação ambiental. No período entre 1950 e 1980, com a expansão de rodovias, projetos governamentais de infraestrutura, de ocupação e desenvolvimento, a degradação dos biomas teve picos em prol dessas obras. A Mata Atlântica, por exemplo, situada, predominantemente, na região Sudeste – onde a maioria dessas obras foram realizadas – possui, atualmente, 12% do seu território original, segundo dados do IBGE.
Nos últimos anos, leis mais rigorosas foram instituídas. A lei 9.985/2000, por exemplo, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, que tinha como um de seus objetivos a conservação de espécies e de recursos. Além disso, maiores recursos foram destinados para a fiscalização e punição dos crimes ambientais. Porém, medidas como a revisão do Código Florestal pela MP 867, aprovada na Câmara em 2019, e que segue ao Senado, expõem o país a críticas de líderes internacionais.
Além disso, até que ponto as queimadas são naturais? No Cerrado brasileiro são comuns, porém não na Amazônia. “O que chamamos de ‘queimadas ilegais’ são aquelas feitas sem autorização dos órgãos de fiscalização ambiental ou além do que a lei permite. A proporção entre o que é ilegal ou legal só pode ser feita mediante a fiscalização, que está sendo politicamente desestimulada dificultada com o corte de recursos. É caro fiscalizar a Amazônia. É necessário fazer uso de aviões, helicópteros, caminhonetes, alimentação, salários e diárias para todos os agentes públicos ligados à tarefa”, avalia Sergio.
A curto prazo, poluição, mortes de espécies, impactos na pesca e no turismo fazem parte do escopo de consequências do cenário de desgaste ambiental atual. Já a longo prazo, o professor ressalta a extinção de animais e plantas, alterações microclimáticas, assoreamento de rios, perda de solos. E perdas econômicas decorrentes dessas alterações, ainda que em alguns anos alguns ganhos possam ser computados.
“O futuro não existe. O que existe é o presente e as decisões que tomaremos daqui para a frente”, diz Sergio, de forma a nos deixar a reflexão dos rumos que nosso país leva no aspecto ambiental e como nossa situação estará daqui alguns anos.