Espaços que conservam boas histórias
O tempo de disputa pelo único título disponível para aluguel nas prateleiras de uma locadora e no qual esses espaços estavam espalhados por toda a cidade, passou. Hoje, encontrar um locadora aberta é algo raro.
Com cada vez menos retorno, o caminho natural para as locadoras de filmes têm sido o encerramento das atividades. Diretamente afetado pela evolução digital, o ramo precisa se reinventar para sobreviver em meio ao mundo tecnológico em que estamos.
Durante os anos 80, os negócios que envolviam filmes viveram um boom no Brasil e foi nesse embalo que Paulo Pereira, de 63 anos, começou no ramo ao abrir a Vídeo Connection, uma das locadoras mais antigas em atividade na cidade de São Paulo. “Fazíamos a locação e distribuição de filmes, montando locadoras pelo Brasil. Quando a locadora tomou corpo, separamos da revendedora e viemos aqui para o Copan, em 1986, onde estou até hoje”, contou.
Com uma demanda cada vez menor para o aluguel de filmes, a Vídeo Connection oferece outros serviços, como a conversão de mídias do VHS para o DVD, para complementar a renda do comércio. Esses serviços, inclusive, superam por vezes as receitas com locação.
Na loja em que já teve funcionários, Pereira hoje trabalha sozinho e avalia que o movimento começou a cair a partir de 2006, com popularização da pirataria, mas o que consumou o processo foi o avanço da internet. “O que acabou com a locadora e com o mercado foram os Streamings, que proporcionam a comodidade de ligar a televisão e ter um filme para assistir. Quando eles chegaram ao mercado, mais ou menos em 2012, o ramo degringolou de vez”.
Com esse cenário, o público cinéfilo – que busca filmes de arte, making of, por exemplo – é o foco da Vídeo Connection. Paulo conta também que o sua locadora é um reduto para debater cinema. “Tem muita gente que vem aqui para falar sobre cinema. Recentemente recebi a visita do cineasta Juan Antonio Bayona. Ele ficou encantado com o acervo e me contou que em Madrid não existem mais locadoras”, disse o dono de um acervo com quinze mil títulos, entre VHS, DVD e Blu-ray.
Apesar das dificuldades, Pereira garante que não desistirá do negócio enquanto puder trabalhar e descarta acrescentar em sua locadora outros produtos como doces, café e salgados. “Hoje eu trabalho mais por amor ao negócio do que por dinheiro. Se eu fechasse a locadora e alugasse o imóvel, ganharia a mesma coisa. Estou no ramo há 34 anos e parece que eu só sei fazer isso (risos)”, completou.
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