Eterno instante

Acordei tipicamente às 06:00 da manhã e abri as portas da sacada. Abri as portas para o mundo, como de costume, para observar o amanhecer e apreciar o contraste da natureza com a cidade. Eu te vi apoiado no parapeito, também olhando a paisagem. Meu chão caiu. Em uma fração de segundos o tempo congelou. Fiquei presa em um momento infinito. Embora fosse uma manhã quente de verão, senti frio e fiquei gélida.

Por algum motivo eu não sabia distinguir se era verdade ou se era apenas uma miragem. Quis me aproximar e te tocar, mas meu coração estava quebrado demais para qualquer movimento. Você tinha uma feição tão calma e serena que eu poderia dizer que era um anjo. A luz matinal atravessava seu cabelo liso e volumoso, havia tanta magia à sua volta que cheguei a me beliscar para ver se estava sonhando.

Tive uma forte náusea enquanto te olhava. Senti no fundo do meu peito toda a nostalgia do que nós havíamos vivido. Senti seu abraço quente e seu sorriso acolhedor. Lembrei das nossas viagens e de como você era o meu mundo. Lembrei das linhas da sua mão e do seu olhar tranquilo. Lembrei de você dançando comigo, de como nós aproveitávamos as festas como se não houvesse amanhã. Lembrei da sua partida. Memórias constantes e vívidas. Saudade agoniante e sufocante.

Você não escutou o forte barulho da veneziana batendo contra parede, pelo contrário, estava tão quieto que o silêncio chegava a ser ensurdecedor. Tentei me expressar, mas estava muda e paralisada. E se tivesse voz, estaria embargada. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu pisquei. Você sumiu. Pisquei de novo e você não estava mais lá. Corri para o parapeito, me debrucei, olhei para baixo e nada. Simplesmente, sucumbiu. Fiquei arrepiada e quis chorar. Ao mesmo tempo, me recompus e tentei me conter. Olhei para os lados e para a lua que desaparecia no céu. Virei de costas, andei e fechei a vidraça da sacada.

No banheiro, encarei o espelho. Lavei o rosto, escovei os dentes e penteei o cabelo. Pensei sobre aquele único segundo. Não soube muito bem o que poderia significar. Aceitei aquela esquisita sensação. Pela última vez, olhei no fundo dos meus olhos e vi um brilho extraordinário. O que quer que eu tenha vivido naquele instante, tornou-se eterno na minha memória. Sorri para mim mesma e senti felicidade. Olhei no relógio do celular, 06:09 da manhã. Virei e tomei coragem para encarar o dia.

4 thoughts on “Eterno instante

  1. Ana Luiza…quanta ternura…quanta sensibilidade!
    Vc consegue expressar em palavras o que seu coração diz! E, como ele diz coisas lindas!!
    Parabéns!
    Bj

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