Futebol e racismo: Que match é esse?
Jogadores de futebol negros são frequentemente alvo de insultos racistas e discriminação
O futebol, conhecido por sua capacidade de unir culturas e povos, tem sido palco de episódios de discriminação racial nos campos por todo o mundo. Os recentes ataques racistas direcionados ao atacante Vinícius Júnior, do Real Madrid, durante o confronto contra o Valência pelo Campeonato Espanhol, evidenciam esse problema cada vez mais recorrente. Os episódios não são isolados, pois nos últimos anos, vários jogadores brasileiros têm sido alvo de atos discriminatórios, tanto na Europa quanto no Brasil.
Casos na Europa:
Jogadores como Daniel Alves, Taison, Dentinho, Neymar, Roberto Carlos, Malcom, Richarlison e Hulk já foram vítimas de racismo na Europa. Os ataques variam desde bananas atiradas no gramado até sons imitando macacos vindos das arquibancadas. A Espanha, onde Vinícius Júnior – de 22 anos, que iniciou sua carreira nas categorias de base do Flamengo e assinou um pré-contrato com o Real Madrid quando tinha apenas 16 anos -, tem sofrido manifestações racistas e de ódio, foi palco de muitos desses incidentes. A falta de ações enérgicas por parte das autoridades espanholas e da liga de futebol contribui para a perpetuação desse problema.
Repercussão na Espanha:
Jorge Santana, professor de História e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), destaca que os ataques a Vinícius Júnior refletem a longa história de leniência das autoridades espanholas em relação ao racismo. Ele menciona outros jogadores, como Romelu Lukaku, atacante belga que sofreu racismo na Itália e foi expulso por reagir aos xingamentos racistas. Santana ressalta a importância de combater o racismo e critica a postura da liga espanhola, que arquivou algumas denúncias feitas por Vinícius Júnior nos últimos anos.
Crescimento do racismo no Brasil:
O racismo no futebol não se limita à Europa, estendendo-se também ao Brasil. De acordo com o Observatório da Discriminação Racial do Futebol, houve um aumento de 40% nos casos de ofensas raciais registrados em 2022 em comparação com o ano anterior. Em resposta a essa situação, os deputados da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovaram o projeto de lei 1.112/23, que está sendo chamado de “Lei Vini Jr.”, que prevê a interrupção e até o encerramento de partidas esportivas em que forem constatados atos racistas.
Punições e impunidade:
Apesar dos avanços legislativos, a punição adequada a casos de racismo ainda é um desafio. O caso do goleiro Aranha, em 2014, quando foi alvo de ofensas racistas por parte de torcedores do Grêmio, resultou na exclusão do clube gaúcho da Copa do Brasil. No entanto, casos mais recentes não receberam punições equivalentes. Em 2021, o Brusque Futebol Clube perdeu três pontos por ofensas racistas de um dirigente, mas o Superior Tribunal de Justiça Desportiva devolveu os pontos ao clube.
Ações da Conmebol e o papel dos patrocinadores:
A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) ampliou as punições por racismo em jogos de suas competições, aumentando as multas e impondo a possibilidade de jogar com arquibancadas fechadas ou sem público. No entanto, a responsabilidade de combater o racismo no futebol não deve recair apenas nas entidades desportivas. Cláudio Nogueira, jornalista especializado em esportes, concorda com a necessidade de ações mais contundentes. Ele argumenta que os regulamentos dos campeonatos deveriam incluir a perda imediata de pontos para equipes envolvidas em manifestações preconceituosas, com possibilidade de rebaixamento em caso de reincidência.
Muitos destacam a importância da FIFA se manifestar seriamente sobre o assunto, somado às cobranças das instituições esportivas e os patrocinadores para assumirem responsabilidades e adotarem medidas efetivas para combater o racismo no futebol. Somente com ações conjuntas será possível construir um ambiente esportivo mais inclusivo, respeitoso e igualitário.