Heroína de cada dia
Engana-se quem pensa que jornalismo é só glaumor. Cabelo arrumado, maquiagem perfeita, a roupa formal e um sorriso imaculado em frente às câmeras. Ah, não. Se não estamos escrevendo em frente ao computador, estamos nos preparando psicologicamente para entrevistar os mais variados tipos de gente. Um bom jornalista passa a maior parte do tempo fora, com as pessoas, com a matéria-prima de suas histórias.
Mas nós, mulheres jornalistas, amamos e tememos as ruas. Tememos por nossa integridade, por nossa dignidade, nosso corpo, nossa vida. Só que acontece que tememos uma coisa ainda mais: não ter Voz. Não ter voz para dizer o que vemos de bom, o que vemos de errado, o que tem de mudar e até o próprio fato de que temos medo. Então, continuamos. Com muito prazer.
Afinal, somos as heroínas de todo dia. Recebemos nosso chamado à aventura e logo partimos em nossa missão. Por ruas e avenidas, às vezes por becos sombrios, por homens sem-noção que nos sussurram obscenidades, ou olhares julgadores que não compreendem o trabalho que ali fazemos. Por perigos e provações, sejam beijos roubados em frente a estádios ou apenas a má-vontade de um entrevistado. Verdade que também encontramos aliados. Outros jornalistas, que nos ensinam suas experiências, pessoas preciosas que abrem suas vidas para nós e nos deixam mergulhar na riqueza de quem elas são, ou até pessoas normais que nos defendem quando nossa própria voz se enfraquece.
No final de tudo, carregamos nosso prêmio. Nossa coletânia de experiências, nosso baú de histórias. Organizamos e as tecemos em uma trama de palavras para apresentar nossa arte única de cada dia ao mundo.
Ser uma jornalista, é ser, antes de tudo, perseverante. É lutar, não com a espada, mas com a pena. É protestar com o simples ato de voltar dia após dia para a batalha. É fazer arte com a alegria e com a dor. A própria e a dos outros. É ser a Voz de todos que não conseguem ser ouvidos. Ser uma mulher jornalista é estar na linha de frente.
Foto: EJO – European Journalism Observatory