Kacá Novais: música na rua e na alma
“Em 1987, faça as contas aí”, diz. Foi assim, em meio a risadas, que Kacá Novais respondeu a primeira pergunta de um bate-papo que durou horas e ainda se estendeu até seu show, que acontece todas as tardes de domingo por volta das 15h, na Av. Paulista. Nascido em Mogi das Cruzes, aos 31 anos – as contas, no final, não foram necessárias -, o músico carismático tornou a rua seu palco há cerca de um ano e meio.
Kacá afirma que a mudança para a maior cidade do país foi algo necessário. “Se você quer aparecer, tem que estar aqui em São Paulo”, afirma. Ele começou a tocar piano com seus quatro, cinco anos e, desde então, não parou mais. Estudou piano, fez teatro profissionalmente e aos 13, começou a tocar violão. ‘‘Sabe quando você olha e fala, eu sei fazer? Eu sabia que na hora que pegasse o violão eu ia conseguir tocar”. Mas a história com o canto foi um pouco diferente, já que em um primeiro momento, ele negava o talento com a voz.
“Eu sempre falo que o artista já nasce com o dom, a gente só descobre”, explica o músico das ruas, quando questionado sobre sua trajetória na música. Aos 14, Kacá começou a tocar em bares. O apoio de sua mãe sempre esteve lá, embora o resto dos familiares não gostasse muito da ideia de um pré-adolescente frequentar um ambiente boêmio. O reconhecimento pelo resto família veio só mais tarde, quando ele apareceu pela primeira vez em uma revista da cidade.
Após 17 anos se apresentando pelas noites, 10 deles em um dos bares mais famosos de São Paulo, o Bar Brahma, o menino de Mogi das Cruzes se cansou. “O artístico se perde muito dentro do bar. Fora isso, ainda tem o tratamento dos donos dos estabelecimentos”. As decepções com promessas não cumpridas e os baixos cachês foram os principais motivos pela desistência com os bares, que viria a resultar depois em uma parada com a música.
Nessa pausa, o músico da MPB decidiu abrir uma empresa. Na verdade, mais uma. Além da escola de arte que dividia terreno com a casa de sua mãe desde quando era pequeno, ele decidiu abrir uma empresa de automação residencial, que ele cuida até hoje. O que o tornou não apenas um artista, mas também um entendedor de tudo aquilo que utiliza para fazer seu som. Depois de meses fugindo até de “palhinhas” na casa de amigos, a paixão pela arte se fez mais forte e saudade de tocar falou mais alto. Foi quando sua produtora sugeriu levar sua música para a rua.
“Essa coisa de tocar na rua e ela ser o que é, é uma coisa recente”, explica Kacá, ao contar sobre seu preconceito inicial com a ideia. “A rua, de fato, virou uma vitrine, antes era uma coisa discriminada”. Quando questionado sobre planos futuros, ele conta sobre a gravação de seu primeiro disco, que deve ser lançado no início desse ano, e ainda promete um projeto inovador, mas que ainda não pode ser revelado.
Um “só vai”, não colocar dificuldades e não se acomodar são as dicas deixadas pelo músico, que se encontra aos domingos na frente do Starbucks perto do MASP (Museu de Arte de São Paulo), para aqueles que têm o sonho de seguir carreira na música. “O mais legal da rua é poder se reinventar”, conclui Kacá.