Momentos de solitude
Nascemos sozinhos e morremos sozinhos. Uma das lições que a vida adulta me ensinou, é que nascemos sozinhos e morremos sozinhos. De uns anos para cá, aprendi a apreciar os momentos a sós. Apenas em companhia com o meu eu interior. E está sendo uma experiência magnífica.
Agora são, exatamente, duas horas da madrugada. Confesso que desisti das minhas inúmeras tentativas de dormir cedo. Sim, estou acordada, às exatamente duas horas da madrugada. Esse é um dos horários em que eu sento no chão de minha varanda, pego um chá e aprecio a solidão e a calmaria do breu celeste. Olho as estrelas. Depois, me pego refletindo sobre a experiência que é viver a vida. E o quão mecânico acaba sendo a maneira como somos treinados para ela.
Ah, o café da manhã! Enquanto preparo a refeição, pego meu celular e coloco uma música para compor esse momento. Gosto de canções calmas e, de certa forma, que podem soar tristes. O meu espírito se alegra com essas melodias. A pizza que sobrou ontem é o meu alimento de hoje. E para acompanhar, um café para começar novas 24 horas. Só, tomo a primeira refeição do dia e ouço o canto dos pássaros lá fora.
Já cheguei no trabalho. A seriedade do ambiente obriga o silêncio e assim, decorrem cinco horas em que fico concentrada em minha mesa. De vez em quando, viro a minha cadeira para observar, rapidamente, as pessoas também concentradas em suas mesas. Percebo como a solidão se cerca de contradições: me sinto só, como eu estou em casa, mas estou cercada de pessoas ao meu redor. É uma solidão agitada, eu diria.
“Ainda bem que não me molhei muito”. Solto aliviada ao entrar no ônibus de volta para o apartamento. Está chovendo. O vidro da janela de meu assento está recheado de pequenas gotas de água. “Uma chuva dessas pede uma playlist!” – penso. E logo, pego meu celular da bolsa, juntamente com um fone de ouvidos e o alcanço até as minhas orelhas. Conforme a batida da música se acentuava, a chuva lá fora também parecia receber a força dos instrumentais que eu escutava. E parecia só eu e ela, a natureza em fúria.
De repente, a música parou de tocar. Parei de andar e fui checar o que havia acontecido. O celular descarregou. E tive que continuar o caminho a pé para casa sem me distrair com as notas musicais. Aproveitei para explorar cada elemento que ornamentava as ruas: árvores, postes de luz, lojas e mercados. A cada vento que soprava em minha direção, era um sentimento de liberdade e contentamento. O céu já estava escuro e eu já estava na porta de casa.
“E mesmo sob esses límpidos céus azuis, o Sol se põe e ele é tingido pela escuridão”.