O Artista por trás do som
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Da oficina parte um som áspero: a sinfonia da serra cortando a madeira de árvores milenares. Quem poderia imaginar que esse som desagradável poderia converter-se no doce ressoar de um violino? Pois esta é justamente a arte do luthier. O nome vem de luth que em francês significa alaúde – instrumento que assemelha-se a um violão – e hoje denomina os fabricantes artesanais de instrumentos de cordas.
A profissão sobrevive desde a Idade Média, quando as lutherias – oficina desses artesãos – espalhavam-se sobre a Europa, em especial na província de Cremona, na Itália, lar de alguns dos mais famosos luthiers da História. Essa arte começou com a construção de instrumentos de cordas dedilhadas, como o violão, bandolim e o alaúde, e posteriormente instrumentos tocados com arco, como violinos, violoncelos e violas. Um luthier reúne o conhecimento de marcenaria, música e até elétrica – para a construção dos instrumentos modernos como a guitarra.
Segundo o luthier Antonio Nilton, 43, o trabalho desse artesão divide-se em construção e restauro. Embora sejam mais acessíveis na produção industrial, “não há o devido cuidado com a harmonização desses instrumentos ou com a vibração da madeira” que determina a qualidade do som produzido. Ele completa: “Muitos dos trabalhos que recebo hoje são para arrumar os instrumentos de fábrica, para tornar possível que sejam tocados com o mínimo de conforto”.
Embora Antonio tenha cursado lutheria de violão, sua paixão pelos instrumentos de ar
co levou-o a especializar-se na construção de violas, violinos e violoncelos. Estudou sozinho por meio da biografia dos grandes mestres como Antonio Stradivari, sua grande inspiração. Um de seus maiores sonhos é fazer um curso de especialização no “Museo del Violino: Fondazione Stradivari”, na Itália.
A construção artesanal demanda um longo processo – desde o desenho do instrumento à escolha cuidadosa da madeira – e o resultado carrega a alma de quem o construiu. “Você utiliza as plantas de mestres, mas um ajuste que você faz, uma medida que você muda, é como você dá o seu próprio estilo. Cada obra é uma obra, cada uma tem um som único”.
Um luthier também realiza constantes pesquisas para incrementar seus instrumentos. Com orgulho e mistério, Antonio afirma ter descoberto uma técnica para aproximar-se do som de um autêntico Stradivarius – modo como são chamados as obras do mestre luthier. Suas obras estão presentes em grupos de renome como a orquestra da Osesp e da Unicamp.
Quanto ao valor, as peças de arte variam de 10 a 20 mil reais, porém dependendo do artesão podem alcançar valores bem maiores. Um violino Stradivarius chegou a ser vendido por U$ 3,5 milhões num leilão em 2006, segundo dados da Folha de São Paulo. É mais que o preço de um instrumento. É o valor de um som, de séculos de História e de todos os sorrisos e suspiros que o instrumento provocou em quem o tocou. Deixando transparecer todo o prazer e paixão que move sua arte, Antonio conclui, “não tem preço a alegria de ver as pessoas felizes com o melhor da minha arte”.