O espelho engana, a comida assusta
Foto: Zorideziuamea.blogspot.ro
Você já se sentiu desconfortável em sua própria pele? Já se olhou no espelho e não viu o que dizem sobre você? Já se odiou tanto que perdeu a vontade de sair de casa, ou de estar com pessoas que te fazem bem? É esse o cotidiano das pessoas que sofrem de distúrbios alimentares. Anorexia, Bulimia e Compulsão Alimentar são doenças psiquiátricas com consequências graves, que podem inclusive levar à morte.
O tratamento para essas doenças é um caminho longo, multidisciplinar, difícil, praticamente impossível de se seguir sozinho e deve ser aconselhado por profissionais especializados no assunto, já que é um quadro com muitas especificidades. O paciente passa por acompanhamento nutricional, terapia e muitas vezes a ingestão de ansiolíticos ou antidepressivos. Além do caminho duro, os pacientes passam pelo preconceito intrínseco nas doenças psiquiátricas, muitas pessoas consideram distúrbios alimentares como fraqueza ou frescura, eles não são.
A luta de quem sofre com eles é diária, as vezes o medo pode ser de se olhar no espelho, sair de casa, pôr uma roupa ou até mesmo comer o que está no prato. A obsessão com a auto-imagem é tão forte e o ódio pelo próprio corpo é tão presente que a vida dessas pessoas é preenchida pela doença. Tudo está envolvido, eles não se sentem capazes nem dignos de viver em conjunto.
De acordo com a Coordenadora da Clínica de Estudos e Pesquisas em Anorexia (CEPPAN) e psicanalista, Cybelle Weinberg, é difícil falar em cura de distúrbios alimentares, essas são doenças psiquiátricas que envolvem personalidade e questões culturais. O quadro pode ser abandonado e o paciente pode sofrer uma melhora significativa, mas sempre haverá uma preocupação, sempre haverá uma pré-disponibilidade para que o quadro volte. É necessário cuidado.
Cybelle ainda traça um perfil de personalidade daqueles que têm pré-disposição a desenvolver algum dos distúrbios, ela diz que geralmente são pessoas inseguras, que se apegam a um ideal de beleza, perfeccionistas e perseverantes. Além disso, de acordo com o Grupo de Apoio e tratamento dos Distúrbios Alimentares e da Ansiedade (GATDA), centro de tratamento especializado no assunto, pode sim existir uma causa genética por trás dessas doenças.
O GATDA conta que a causa é uma junção de razões biológicas, sociais e pessoais, que nem sempre são fáceis de encontrar. Cybelle explica que é nesse ponto que a terapia entra em ação, essa parte do tratamento é essencial já que permite que o paciente entenda o mal que está fazendo a si mesmo, a terapia é o alerta que mostra a essência de seu distúrbio e torna possível trabalhar em si mesmo os fatos encontrados.
Ambos sexos podem adoeçer, de acordo com a Academia Nacional de medicina, a frequência em mulheres é 20 vezes maior do que em homens, o que faz com que as doenças sejam raras nos homens. Entretanto, isso não significa que distúrbios alimentares são exclusivamente femininos, eles só são mais recorrentes.
As consequências que eles podem trazer são inúmeras e de naturezas diferentes. A bulimia pode causar anemia, distúrbios hormonais, distensão do estômago, lesões no esófago e também irritação crónica na garganta. Já a Compulsão Alimentar, gera comprometimento funcional do organismo, risco de suicídio e uma alta frequência de transtornos psiquiátricos, como a comorbidade. A anorexia, por sua vez, provoca carências nutricionais que levam à secura da pele e ao enfraquecimento capilar, além de tonturas, anemia e alterações hormonais como o cessamento da menstruação, nas mulheres e a impotência sexual, nos homens. Todas elas, no final das contas, podem levar à morte, seja por suicídio ou por disfunções biológicas.
O diagnostico é difícil, já que normalmente os pacientes não se enxergam doentes, sofrem em silêncio e escondem seus atos e preocupações. O caminho é longo e precisa que o paciente queira melhorar. Em casos de adolescentes, os pais normalmente percebem que algo está errado e os obrigam a fazer o tratamento. Em adultos é mais complicado, já que normalmente eles precisam procurar o tratamento sozinhos e se dispor a realizá-lo.
Se você está lendo essa matéria e se identificou com algum dos aspectos descritos nela, você não está sozinho, procure ajuda. Não existe vergonha em estar doente, você não é mais fraco ou mais frágil que o resto das pessoas, você pode melhorar, pode olhar sua vida com outros olhos, basta aceitar ajuda.