Os 130 anos da abolição
O dia 20 de novembro é a data que marca o Dia da Consciência Negra no Brasil. Esse feriado traz referência ao dia da morte do Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo de Palmares e que lutou pela vida dos negros africanos escravizados. Por isso, é o momento certo para falar de outra data histórica de importância: os 130 anos da abolição da escravidão, completados em 2018. A aprovação da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, deu fim ao sistema que excluiu, escravizou, vendeu e tratou como objeto a população negra no país.
O professor Fábio Monteiro, doutorando em História pela PUC-SP, explica um pouco mais: “É preciso considerar que a abolição brasileira foi um processo lento e gradual, iniciado na década de 1840 e que só se concretizou, de fato, com a Leia Áurea, em 1888, buscando não abalar as estruturas latifundiárias e sociais herdadas do período colonial. Além disso, ao longo da Primeira República, o Estado brasileiro não criou mecanismos ou instituições que promovessem a inserção social ou profissional dos ex-escravizados”.
Falar de duas datas com esse peso histórico é relevante e importante dento do contexto atual, devido à desigualdade que permanece até hoje e o preconceito fortemente enraizado na sociedade. Um relatório publicado em setembro de 2017 pela Oxfam (Comitê de Oxford de Combate à Fome) revela que, se mantido um ritmo de inclusão dos negros, a equiparação da renda média entre brancos e negros ocorrerá somente em 2089. Ainda nele, é possível observar que 67% das pessoas que recebem até 1,5 salários mínimos são negras.
Sobre o mesmo relatório, o professor Fábio Monteiro enfatiza: “Dados como este revelam a importância e a atualidade dos debates públicos sobre racismo, discriminação e preconceito em nossa sociedade. Isto é, eles demonstram como a condição étnica dos indivíduos está diretamente relacionada às condições históricas e econômicas do país e ajudam a esclarecer melhor as falácias que envolvem o que chamam de “vitimização” ou “coitadismo” de determinados setores sociais”.
Essas duas datas servem para refletir sobre o futuro de atitudes tão diárias em relação a preconceitos estabelecidos desde muitos anos no Brasil. É importante buscar a mudança. Um passado de sangue que clama pela luta de um povo.