Os grafites da Consolação
O distrito que se tornou a casa de diversos grafites paulistanos
O grafite é um tipo de arte urbana que caracteriza-se pela produção de desenhos em locais públicos como muros, paredes de edifícios etc. É principalmente feito como forma de crítica social, tendo como intuito fazer as pessoas refletirem ou até mesmo se impactarem. Bom, é certo dizer que a Consolação está recheada de grafites, que possuem tamanhos, cores e significados bem variados.
Uma grande parcela da população ainda marginaliza os grafites, como é o caso da dona de casa e residente do distrito Bruna Aoki (46): ‘’A Consolação costumava ser um lugar nobre, sem essas pichações. Acho meio de mau gosto’’. Em contrapartida, há moradores que admiram as obras e não veem problema nelas, como alega a estudante de economia Flávia Sedenho (20): ‘’Eu acho muito da hora, é legal passar por aqui e ver todas aquelas pinturas. Dá um toque artístico e mais descolado para a Consolação’’.
Há ainda os que se sentem tocados pelas mensagens que eles trazem: ‘’A nossa sociedade é cheia de problemas, e digo a sociedade brasileira como um todo. É importante que os grafites exponham as problemáticas que ainda existem, para quem sabe alguém observe a arte e repense seus hábitos’’, opina o designer de games Guilherme Vasconcellos (28).
Um dos destaques do grafite paulistano é Binho Ribeiro, que possui obras tanto em território nacional quanto internacional, e é um nome bem conhecido no Museu de Arte Urbana de São Paulo e na Bienal Internacional Graffiti Fine Art. O grafiteiro, que já fechou parcerias com grandes empresas e artistas como Madonna, concordou em dar uma entrevista para o Portal WHIZ, e compartilhou conosco sobre como entrou no ‘’mundo do grafite’’: ‘’Eu entrei nesse mundo com 14 anos, e também dançava break, andava de skate e já desenhava. Dessa forma, o grafite foi uma forma de colocar minhas ideias nos muros e nas ruas em grande tamanho’’.
Quem está familiarizado com as obras de Binho, sabe que ele é apaixonado por desenhar animais, e explica um pouco sobre isso para nós: ‘’Eu gosto muito de pintar os animais pois eles têm movimento, cores, representam a vida, se transformam, sobrevivem. Dessa forma, eu fragmento eles, costuro e rejunto. Assim, eles habitam o meu universo surrealista’’.
Felipe Eduardo Braga (32), autor da dissertação de mestrado ‘’Estética Spray: o grafite no campo da arte contemporânea’’ e mestre em Sociologia pela Universidade de São Paulo, explica o porque tantas pessoas ainda veem o grafite com maus olhos: ‘’Por muito tempo a palavra grafite foi associada a várias manifestações estéticas, então era difícil distinguir o que era grafite e o que era vandalismo. No começo, eram pessoas periféricas que faziam essa estética, então o paulista tem em mente que é uma estética marginalizada’’.
Ele também explica sobre o ‘’boom’’ do estilo de arte no distrito: ‘’O grafite na Consolação foi iniciado pelas elites, pelo pessoal que tinha dinheiro para ir para Nova York ver o que estava se popularizando por lá. Hoje, o que acontece no distrito é a Imagem Monumento, que é a imagem de grande escala. A arquitetura de São Paulo também colabora com os grafites, já que possui tantas paredes e muros enormes em branco’’.
‘’Nina’’ de Apolo Torres, ‘’Preta Veracidade’’ de Mauro Neri e ‘’O Ancião é o nosso livro’’ de Tito Ferrara são exemplos de grafites que tem como objetivo passar mensagens reflexivas, enquanto outros como ‘’Kueio’’ e ‘’Sereia’’ foram feitos simplesmente pela estética e dar um tom artístico para o distrito. Há também os que foram feitos como homenagens, como o lambe-lambe de Elza Soares, encomendado pelo Baixo Augusta.