Os perigos da moda rápida
Foto: Divulgação/ Fashion Revolution
O modelo fast fashion, incorporado por grandes empresas de moda, têm causado grandes problemas sociais e é tema de debate do Fashion Revolution
Parece que as blogueiras de moda renovam diariamente seus guarda-roupas e a velocidade de um click acaba superando a velocidade do frete. Quando sua encomenda chega, a tendência já é outra. Esse é o fast fashion, modelo em que os produtos são fabricados, consumidos e descartados rapidamente. A também chamada moda rápida colaborou com a transformação do comportamento dos consumidores em um ato excessivo e trouxe diversos problemas socioambientais. Segundo Carolina Bolla, advogada do Fashion Revolution, o trabalho análogo à escravidão e péssimas condições de serviço, como jornadas exaustivas e salários baixos, estão entre os problemas consequentes do consumo excessivo.
Carolina afirma que a indústria da moda é uma das que mais polui no mundo. “Há ainda o problema do descarte. Quanto maior o consumo, maior a produção de lixo”, continua. Para ela, a matéria-prima pode desencadear outros problemas, já que a fibra sintética apresenta dificuldade de decomposição após o descarte, a viscose exige a derrubada de milhões de árvores e o algodão, apesar de natural, demanda a utilização de agrotóxicos. “Por isso a necessidade de se repensar o consumo excessivo, dar preferência a produtos produzidos com matérias-primas sustentáveis e a processos socialmente mais justos”, enfatiza.
Por trás de cada blusinha da moda, com aquele precinho bacana, existe uma fábrica têxtil, que, muitas vezes, não apresenta aval de segurança e oferece risco a centenas de trabalhadores. No dia 24 de abril de 2013, o edifício Rana Plaza, em Bangladesh, desabou. O prédio abrigava diversas confecções, como a irlandesa Primark. Na tragédia, mais de 1.000 pessoas morreram e 2.500 ficaram gravemente feridas. Nesse contexto, foi criado o Fashion Revolution, movimento de líderes globais da indústria da moda sustentável, com o objetivo de conscientizar a população sobre o verdadeiro custo da moda e trazendo uma grande pergunta: ‘Quem fez minhas roupas?’.
A proposta é incentivar as pessoas a pensarem em toda a cadeia produtiva de suas roupas, desde o agricultor que cultivou o algodão ao costureiro que deu vida aos tecidos. “Na Semana Fashion Revolution, convidamos a todos para refletirem sobre a procedência de nossas roupas, questionarem e exigirem transparência”, declara a coordenadora nacional do movimento, Fernanda Simon. O Fashion Revolution Week é uma campanha que busca levantar questões como o trabalho escravo na moda e a transparência dessa indústria, através de debates e mesas redondas.
Durante a semana, são oferecidas, também, oficinas que incentivam os participantes a fazerem suas roupas e a estarem mais perto de um processo natural, muitas vezes em conjunto com projetos sociais das cidades visitadas. O Fashion Revolution Week 2018 acontece entre os dias 23 e 29 de abril, em diversos países do mundo e em várias cidades do Brasil, como Rio de Janeiro, Campinas, São José dos Campos, São Paulo, Guarulhos, Niterói, Santos, entre muitas outras.
“Um dos maiores desafios do movimento é iniciar um diálogo com as pessoas que não consomem conteúdo de moda ou que não trabalham na área”, afirma Loreny Ielpo, uma das produtoras dos eventos do Fashion Revolution. Segundo ela, a cada ano existem mais pessoas interessadas em representarem o movimento em suas cidades, e para o crescimento dele é necessário conscientizar pessoas leigas no universo da moda, e perceber que nossas atitudes e nossa mudança no consumo podem mudar o futuro.
Desde o início do movimento, mais de 2,5 milhões de pessoas se envolveram; mais de 100 mil pessoas questionaram #whomademyclothes; 2.416 marcas responderam a hashtag e compartilharam informações sobre a sua cadeia produtiva; mais de 150 grandes marcas publicaram onde são feitas suas roupas e mais de 1.300 fábricas foram inspecionadas em Bangladesh desde a tragédia do Rana Plaza. Carolina acredita que o movimento chamou a atenção da mídia e dos consumidores, além de ter realizado uma pressão nas autoridades para que realizassem a fiscalização e a punição das empresas envolvidas em trabalhos análogos à escravidão.
Ainda segundo a advogada, o principal objetivo do movimento é a conscientização, já que consumidor consciente procura conhecer a história do produto: quem o produziu e em quais condições. “A partir do momento em que não há mercado para produtos que não se adequem a essa nova realidade, as marcas terão de se adequar a um novo conceito de consumo de moda, inclusive na sua produção, o que, aliás, já vem ocorrendo”. Assim, aposta que em uma geração de consumidores conscientes, a manutenção de trabalhadores em condições análogas à escravidão se torne muito difícil.
O QUE?
Semana Fashion Revolution 2018 SP (23 a 29 de abril de 2018)
Evento principal: dia 28 de abril
Horário: 11h às 20h
Local: Unibes Cultural (Rua Oscar Freire, 2500)
Programação: No evento no Facebook e mais informações na página do Fashion Revolution Brasil