Outro olhar para o cinema

O Nordeste encerra o ano com uma grande variedade de produtos cinematográficos. As premiações mostram o reconhecimento do cinema da região, quebrando o monopólio do sudeste e gerando debate sobre os modos de produção, divulgação e valorização do audiovisual no Brasil. Com histórias contadas por nordestinos, entre comédias, dramas e romances, o nordeste abraça o cinema nacional. Confira algumas produções nordestinas em 2019:

 

  • Divino Amor

Em “Divino Amor”, o diretor pernambucano Gabriel Mascaro apresenta um futuro próximo, com diversos avanços tecnológicos, no qual o Brasil se transforma em uma país evangélico e conservador. A escrivã Joana (Dira Paes) tenta encaminhar para uma terapia religiosa os casais que chegam ao cartório para se divorciar, mas a situação muda quando seu próprio casamento passa por uma crise. O relacionamento entre a protagonista e seu marido Danilo (Julio Machado) é abalada por Joana não conseguir engravidar e a personagem reza por um milagre divino. Nesse momento, o casal passa a frequentar as reuniões terapêuticas chamadas Divino Amor. O filme fez sua estreia mundial na mostra World Cinema do Festival de Sundance 2018 e no Brasil, estreou em Junho de 2019 e ganhou os prêmios de Melhor Filme e Melhor Atriz, no Festival de Cinema Luso Brasileiro Santa Maria da Feira.

 

  • Cine Holliúdy 2 – A Chibata Sideral

“Cine Holliúdy”, do cearense Halder Gomes, teve seu primeiro filme lançado em 2012 e neste ano levou aos cinemas mais um capítulo da história de Francisgleydisson (Edmilson Filho). Com o título de “Cine Holliúdy 2 – A Chibata Sideral”, o longa volta à fictícia Pacatuba, cidade do interior do Ceará. O protagonista está prestes a fechar seu negócio na produção de filmes, por conta da popularização da TV na região e vai morar na casa de sua sogra com a esposa, Maria das Graças (Miriam Freeland). Francisgleydisson busca o apoio do prefeito Olegário (Roberto Bomtempo) e inicia a produção de uma ficção científica que mostra Lampião contra seres extraterrestres. Em sua primeira semana nos cinemas, em Março de 2019, a comédia nacional venceu “Capitã Marvel” nas bilheterias do Ceará. A história também ganhou uma série na programação da Globo, se passando anos antes dos acontecimentos dos filmes.

 

  • Greta

O trabalho é o primeiro longa-metragem do diretor e roteirista cearense, Armando Praça, e foi inspirado na peça de Fernando Melo, “Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá”, de 1970. O filme se passa em Fortaleza e conta a história do enfermeiro Pedro (Marco Nanini), de 70 anos e admirador da atriz Greta Garbo, que para ajudar sua amiga, a artista transexual Daniela (Denise Weinberg), a conseguir um leito no hospital onde trabalha, acaba contribuindo para a fuga de um homem acusado de assassinato, Jean (Démick Lopes). O desejo e a solidão são temas de debate na trama, além de tratar de um tabu como a vida sexual do protagonista, que cria uma relação íntima com o fugitivo. O filme estreou mundialmente na Mostra Panorama do Festival de Berlim de 2019 e em setembro levou o prêmio de melhor longa-metragem na 29º edição do Cine Ceará.

 

  • Azougue Nazaré

Nazaré da Mata, em Pernambuco, é o cenário para “Azougue Nazaré”, do diretor Tiago Melo. No longa, o casal Catita (Valmir do Coco), que participa escondido do Maracatu e Darlene (Joana Gatis), que segue a religião evangélica, moram isolados em um canavial e encontram jeitos diferentes de se expressar. O protagonista se veste de mulher para aproveitar as festas, enquanto sua esposa admira os sermões do Pastor (Mestre Barachinha). Na trama, os universos diferentes colidem, com diferentes personagens, estilos, culturas e rituais, e a cidadezinha se torna palco de estranhos acontecimentos. O primeiro longa do diretor pernambucano estreou em novembro de 2019, no Brasil, mas antes disso, passou por mais de 40 festivais e ganhou o prêmio de Melhor Filme, no Festival Internacional de Rotterdam, da Holanda, em 2018.

 

  • A Vida Invisível

O longa “A Vida Invisível” é ambientado no Rio de Janeiro, dos anos 50, mas é uma produção do cearense Karim Aïnouz. A história mostra o desencontro de duas irmãs, Eurídice e Guida. O drama aborda a invisibilidade feminina e o machismo estrutural, expondo a violência física e psicológica que as personagens vivem em seus casamentos. Carol Duarte e Fernanda Montenegro, interpretam Eurídice em épocas diferentes da vida, já Guida é a personagem de Julia Stockler. As irmãs se separam quando Guida foge com o namorado e é deserdada pelo pai, enquanto Eurídice fica e se casa com Antenor (Gregório Duvivier), desde então buscam uma forma de se reencontrar. A Vida Invisível estreou em Novembro de 2019 no Brasil, venceu o prêmio “Espiga de Prata”, Semana Internacional de Cinema (Seminci), na Espanha, e é o candidato brasileiro a uma vaga no Oscar.

 

  • Bacurau   

“Bacurau”, trabalho dos pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, dá nome ao povoado do sertão brasileiro, que abriga Teresa (Bárbara Colen), Domingas (Sônia Braga), Acácio (Thomas Aquino), Plínio (Wilson Rabelo) e Lunga (Silvero Pereira). Na história, as personagens descobrem que sua cidade não está mais em nenhum mapa, as suspeitas aumentam quando estrangeiros chegam ao local e uma série de assassinatos começa a acontecer. O diretor Kleber Mendonça Filho, já concorreu à Palma de Ouro do Festival de Cannes, com “Aquarius”. Dessa vez, com “Bacurau”, que estreou em agosto de 2019, levou o prêmio de Melhor Longa eleito pelo público, no Festival de Cinema de Lima, o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Munique e recebeu o prêmio do júri, no Festival de Cannes.