Pequenos avanços
O relógio marca quase seis horas da tarde. Eu saio de casa para ir ao mercado e logo que piso no asfalto, vejo duas pessoas ao longe andando na minha direção. Uma moça, por volta dos 26 anos de idade, e uma criança, com uns poucos três anos de vida. As duas andam lado a lado, de mãos dadas, e demonstram felicidade e transparência no olhar, mas não conversam. Então, me pergunto o que pode se passar na cabeça dessas pessoas, que sorriem no silêncio separado por uns 23 anos de diferença.
Agora me encontro a uns dois metros de distância delas, e tudo já fica explícito. Neste momento, tenho a capacidade de fazer uma análise completa. Ao perceber que estou olhando, a moça e a criança ficam sem graças e tentam disfarçar olhando para o outro lado. Pouco me importam suas atitudes e o que devem estar pensando, pois com a pequena distância vejo que a criança está com uma camiseta de futebol, do Barcelona. A camiseta é comum, a de listras azuis e vinho, com o emblema do time costurado desfiando. Isto porque a camisa é falsa, provavelmente comprada na feira, do mesmo jeito que inúmeras outras pessoas se vestem nessa região.
Aposto que você deve estar se perguntando porque eu parei de dar atenção para todas as outras coisas e não estava nem aí para o que iriam pensar de mim, simplesmente porque me encantei com uma camisa falsificada que vejo constantemente. Não estava? Agora eu te garanto que está, e irei te contar o porque. Lembra da parte que era uma criança? Então, a pequena pessoa que me deparei era uma menina. Sim, uma menina de três anos, vestindo uma camisa de futebol.
Quantas garotinhas você já viu vestidas assim? Sem contar as que são filhas de atleta, aposto que no máximo cinco, e isso, se você for sortudo. Pode soar meio bobo falar assim, mas e se a menina estivesse sorrindo por ter um sonho? E vestir a camisa do seu sonho fosse motivo de felicidade e reconhecimento? Se for, espero que um dia ela saiba que reconheci.