#PontoCego: O Iluminado
Devido à profundidade do universo audiovisual, que muitas vezes passa despercebido pelo cinéfilo, começamos a escrever essa coluna. Aqui traremos os mais minuciosos detalhes do mundo cinematográfico que estavam escondidos, ou melhor, no ponto cego do espectador. Por Beatriz Kaiser, Bernardo Piva e Pedro Trevisan.
O longa-metragem de Stanley Kubrick, lançado em 1980, acompanha o isolamento durante a temporada de inverno dentro do Overlook Hotel. Entretanto, a estadia se torna agonizante devido ao comportamento de um dos personagens conforme a progressão do enredo.
Um roteiro iluminado?
Kubrick baseou-se no best-seller de Stephen King lançado em 1977 para escrever o roteiro de seu filme. Mas, apesar do sucesso, Kubrick desconsiderou o roteiro elaborado pelo autor da história, alegando que o enredo estava “fraco”. Ele preferiu então trabalhar com Diane Johnson para realizar o script.
Um Jack para Jack
Kubrick considerou tanto Robert De Niro quanto Robin Williams para interpretarem o papel de Jack (Jack Nicholson). Mas quando assistiu Taxi Driver, Kubrick não achou a performance de De Niro psicótica o suficiente. Já com Robin Williams foi exatamente o contrário. Sua atuação foi considerada excessivamente psicótica. Kubrick chegou a considerar que Harrison Ford interpretasse Jack, mas logo descartou a possibilidade.
Apenas uma teoria?
Quando Jack foi visto lendo uma revista Playgirl, foram elaboradas várias teorias conspiratórias para explicá-la. Na edição que Jack aparece lendo, há um artigo sobre incesto, podendo significar que Danny sofria com abuso sexual.
Nos detalhes se escondem os mais importantes significados
O filme não se limita à dualidade dos personagens e às ocorrências sobrenaturais. Ele aborda também o massacre indígena durante a marcha para o oeste, nos Estados Unidos. Sendo que Danny e sua mãe representam, durante o filme todo, os assassinatos aos nativos. Tal alusão à cultura indígena americana é perceptível através de estampas de roupas, quadros e texturas na parede e, inclusive, a cena em que o corredor do Hotel é inundado por sangue representa a morte dos nativos durante a conquista do país.
Escolha seu lado
Stephen revelou que admirava muito o trabalho que Kubrick, por isso, criou grandes expectativas quanto ao filme. Porém, ao ver que o enredo não se aproximava tanto do livro, decepcionou-se com o resultado final e, mais tarde, iniciou a produção de sua série de TV. O escritor afirmou não ter gostado de Jack Nicholson em seu papel, pois o personagem de seu livro tem sua loucura construída sutilmente ao longo da história.
Espelho, espelho meu…
Toda vez que Jack Torrance falava com um “fantasma”, havia um espelho em cena.
De labirintos a corredores
A arquitetura do Hotel Overlook não fazia sentido algum em termos de espaço. Um fã do filme, Rob Ager, percebeu que o escritório de Ullman possui uma janela para o exterior, mesmo tendo quartos ao seu redor. Além disso, afirmou que os enormes corredores e salões não condiziam com o tamanho do hotel.
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Direto para o Guinness Book
Que o filme possui cenas surpreendentes e macabras você já sabe, mas o clima por trás das câmeras também permaneceu tenso por diversas vezes. Stanley Kubrick chegou a afirmar que não ficou satisfeito com a atuação de Shelley Duvall (Wendy) e que, inclusive, não gostava dela. A moça chegou a passar por muito estresse durante as filmagens e Kubrick a fez repetir 127 vezes a mesma cena até atingir um perfeito estado de pânico em sua atuação.
Hipertensão em cena
900 Toneladas de sal foram usadas na gravação da cena final do filme.
All work and no play makes Jack a “creative” boy
A famosa cena em que Jack quebra a porta contou com improvisação por parte do ator ao dizer “Here’s Johnny”, um bordão de Ed McMahon, no programa “The Tonight Show – Starring Johnny Carson”. Confira o making of da cena:
The final cut
Assim que houve a exibição do filme para a imprensa, Kubrick ordenou a todos os cinemas que fizessem um corte de quatro minutos no trecho final de O Iluminado e enviassem tal parte da película à produtora. Mais tarde, o conceituado e já falecido crítico de cinema, Roger Ebert disse que Kubrick foi sábio por ter retirado tal epílogo, afirmando que puxou um tapete grande demais para fora da história. Há pouco tempo, o roteiro foi encontrado e exibido publicamente, confira aqui.
Hotel story
O mundo do Toy Story não poupou o clássico de Stanley Kubrick, já que a animação possui inúmeros easter eggs e homenagens ao O Iluminado.
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Adaptando a obra de Stephen King, Stanley Kubrick conseguiu deixar sua marca tanto no roteiro quanto em sua clássica fotografia perfeccionista, inserindo seu longa na lista dos melhores horrores de todos os tempos. As tensões psicológicas bem unidas ao sobrenatural geram dúvida no público durante todo o instante sobre o que está causando toda a problemática da narrativa: seria apenas um distúrbio psicológico de Jack ou forças sobrenaturais agem sobre ele? Assista ao filme e descubra.