Por dentro dos catálogos

As séries nacionais vêm ganhando um espaço positivo no streaming

Se antes a grande espera era para assistir um filme estreando no cinema, hoje isso se misturou com os lançamentos de séries nas plataformas de streaming. São diversas as tramas que fazem sucesso por seu enredo e qualidade cinematográfica, e as séries nacionais vêm se destacando nesse mercado.

“Bom Dia, Verônica” (2020) da Netflix, ou “Desalma” (2020) da Globoplay, são exemplos que reforçam o alto nível dos trabalhos nacionais. “Nos últimos anos elas têm se igualado e até mesmo se tornado melhor que produções estrangeiras”, ressalta Letícia Couto, 24 anos, jornalista e escritora de críticas e resenhas para os sites Nerd Recomenda e The Feminist Patronum.

Diversos fatores influenciam na desvalorização do cinema nacional, como conta a roteirista Mariana Zatz, de 32 anos: “Basta lembrar do caso do filme “De Pernas Para o Ar 3”. Ele foi engolido pela estreia dos “Vingadores”, que ocupou quase todas as salas do país. Não só o público, mas as salas de cinema dão preferência para filmes Hollywoodianos”. Enquanto isso, em meio a tantas opções nos catálogos de streaming, Mariana acredita que essas plataformas são mais democráticas. “Tem espaço para todo mundo ali. Dessa forma, lançar conteúdos nacionais de qualidade nelas permite que o público de fato as vejam, e passe a apreciar mais o que é feito aqui. E não só o público brasileiro, mas o internacional também”.

A chegada desses serviços no Brasil não para de crescer, em novembro foi a vez da famosa Disney+ ser lançada por aqui, que já criou expectativas para investir em produções locais. “Nos últimos anos, os streamings internacionais perceberam que o Brasil é um país que consome, e muito”, comenta Letícia. De acordo com a companhia de análise do mercado mobile, App Annie, o Brasil é o sexto maior usuário de serviços de streaming, no qual a Netflix fica atrás apenas do Youtube. A jornalista ainda ressalta que o investimento nas produções locais influenciam tanto na criação de conteúdos em que o público se identifica, quanto na geração de empregos.

O Emmy Internacional 2020, na categoria de Melhor Comédia, foi concedido para “Ninguém Tá Olhando” (2019). Mariana Zatz, roteirista da série, sentiu-se honrada pela premiação e pelo reconhecimento profissional da equipe, e observa: “Ao mesmo tempo em que vencemos o Emmy, não fomos indicados para diversos prêmios brasileiros, e a série não foi renovada para uma segunda temporada”. Mariana diz não saber, por enquanto, o que o prêmio pode mudar na indústria cinematográfica brasileira na prática. “Torço muito para que uma premiação como essa ajude a valorizar mais as produções nacionais, especialmente uma como ‘Ninguém Tá Olhando’, que foge um pouco dos padrões de séries brasileiras. Mas talvez seja cedo para dizer”. A jornalista Letícia Couto acredita que esses prêmios podem ser uma porta tanto para a criação de outras obras brasileiras, quanto para ajudar na visibilidade dos trabalhos originais do país.

Foto: Divulgação/Netflix

“Apesar de infelizmente estarmos vivendo um momento de desvalorização da arte e da cultura, e por termos um governo que paralisou a Ancine e acabou com o Fundo Setorial Audiovisual, estamos amadurecendo enquanto indústria”, conta Mariana Zatz. Para a roteirista, há motivos para otimismo no cenário de crescimento das séries nacionais. “Estamos aprendendo cada vez mais a refinar nossa arte, entendendo o mercado, evoluindo. Há muito ainda o que melhorar, mas há muitas séries nacionais boas surgindo, e as plataformas de streaming não pararam de investir em conteúdo nacional”. Letícia Couto lembra que muitas séries foram elogiadas pelo público e pela crítica especializada, e acredita que com o nível atual de qualidade das produções, a procura aumentará ainda mais.

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